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Léo Kildare Louback – LiveFobia

Por Léo Kildare Louback*

Eu não tô matando, não tô robando, eu tô aqui pra pedir ajuda. Tô sofrendo de LIVEFOBIA e não sei o que fazer.

Começou no início da pandemia e agora já está me atrapalhando a viver. Eu desenvolvi um MEDO de entrar na internet e alguém tá fazendo uma LIVE, que nossa senhora! Credo!

Eu entro no face, instagram, essas coisas e quando eu vejo que fulano começou uma live eu jogo o celular longe, viro a tela pra baixo, saio do wifi, desconecto os dados móveis e começo a ter taquicardia.

Como diz minha mãe, me dá um nervoso, uma urticária, uma ojeriza que eu nem sei como descrever procês.

E de madrugada então, que são menos pessoas, aí que o povo da LIVE te vê mesmo e você nem sabe pra onde correr na Matrix.

Outro dia entrei sem querer numa LIVE e fiquei em pânico. Saí dessa LIVE, mas a pessoa viu que eu entrei e acabou a amizade.

Eu tenho uma preocupação de ficar presa na LIVE, e depois que a LIVE acabar, não conseguir voltar. E fiquei pensando, ANTES MORTA QUE NA LIVE.

Comecei a falar disso com as amigas e não quero chocar ninguém não, mas a LIVEFOBIA é mais contagiosa que o COVID-19, seria uma espécie avanzada de demônio, uma coisa tipo LIVID-85 (pensando em 2085, claro, porque sou vidente natural).

Aqui quero deixar público esse problema que estou vivendo desde março e só aumenta com o andar da carruagem internética.

No dia que vi que a ex-ginasta fez a LIVE pra falar da sua candidatura à vereadora eu fiquei foi MORTA de medo de dar o ok, cair na LIVE dela e ficar presa no triplo huhá carpado direitista em slow motion que ela ia me dar, pior que a Keanu Reeves (é assim que escreve?).

Esta é uma tentativa sincera de abraçar à todas as irmãs que também estão sofrendo de LIVEFOBIA. Juntas podemos nos dar força, formar uma equipe de resgate e ficar disponíveis para morfar e salvar alguma amiga que entrou em alguma LIVE e nunca mais foi encontrada.

A LIVEFOBIA mata mas a LIVE mata mais e eu estou aqui pra te ajudar, porque só jesus pra saber o difícil que é lidar com isso no apocalipse.

Beijos de luz e não se esqueçam, as LIVEs estão aí, são visíveis e traiçoeiras. Se protejam!

*Léo Kildare Louback escreve todo mês uma crônica a convite do Blog do Arcanjo.

*Léo Kildare Louback é multiartista, professor e tradutor de alemão formado pela UFMG com intercâmbio em Hamburgo, na Alemanha. Mineiro de Contagem, vive em Buenos Aires. Participou de festivais no Brasil, Argentina, México e Cuba. Em 2013, ganhou o prêmio Marcelo Castillo Avellar do Palácio das Artes, com o projeto Como Matar a Mãe – 3 Atos, da Sofisticada Companhia. Artista colaborador do centro cultural Feliza Arco Íris, atuou nas peças argentinas Au Revoir, Papá (texto próprio com direção de Natalia Casielles), Chancha Coraje (texto e direção de Pato Ruiz), Troyanas Is Burning e Las Destroyers (de Charlee Espinosa) e Clavemos El Visto (de Ezequiel Hara Duque e Joni Camiser). No cinema, esteve nos filmes Trago Seu Amor, de Dellani Lima, Não Há Cadeiras, de Pedro di Lorenzo, Breve História do Planeta Verde, de Santiago Loza (Prêmio Teddy no Festival de Berlim 2019) e em Fucking Selfie, de Charlee Espinosa. Em 2016, publicou o livro Sobre Voo ou a Literatura Nasce com a Morte de um Pássaro, pela Editora Scriptum. @loubackl

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