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Marcia Dailyn se emociona e vive Maysa ao chegar à SP Escola de Teatro

Marcia Dailyn em retrato de Bob Sousa na peça Entrevista com Phedra

Por Miguel Arcanjo Prado

Marcia Dailyn vive dias de muita emoção. A primeira bailarina transexual do Theatro Municipal de São Paulo, atriz e diva da praça Roosevelt e da Cia. de Teatro Os Satyros e musa do bloco Acadêmicos do Baixo Augusta acaba de ser contratada como colaboradora da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, na qual assumiu a função de assistente administrativo.

Além disso, a colunista Sonia Racy, do Estadão, noticiou esta semana que ela interpretará Mamãe Noel no Especial de Natal digital do Satyros, onde também está escalada para um projeto internacional ainda mantido em segredo pelo diretor Rodolfo García Vázquez.

Para celebrar o novo ciclo profissional, a convite da Coordenação de Extensão Cultural da SP Escola de Teatro, a cargo deste jornalista, Marcia apresenta seu solo Chão de Estrelas, baseado na biografia da cantora Maysa Matarazzo, nesta sexta (30), às 20h, com ingressos disponíveis pela Sympla.

Ao falar com o Blog do Arcanjo sobre a nova conquista, Marcia se emociona.

Antes de externar sua alegria com a nova fase, faz questão de falar com carinho de sua última empresa, o Laboratório Buenos Ayres, onde sempre foi muito apoiada e deixou muitos amigos. “Deixo aqui meu muito obrigado ao meu antigo chefe, Sergio Marques, e todos os amigos que fiz para a vida toda lá”, pontua.

Encerrado este ciclo, agora Marcia mergulha nesta nova fase que coroa toda uma longeva trajetória de dedicação e amor às artes.

“Chegar à SP Escola de Teatro é muita emoção. Chego com muito respeito aos que vieram antes de mim e estão na luta pelas artes e me chamaram para lutar ao lado deles também. Quero agregar o meu talento à escola e sei que a escola vai me agregar muitas funções maravilhosas. Quero ver a escola crescer e eu também. Minha mãe e minha família lá em Jales, no interior de São Paulo, estão muito emocionados com esse reconhecimento”, conta, emocionada.

Sede da SP Escola de Teatro, no Brás, em São Paulo – Foto: Andre Stefano/Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo

Em seus dez anos de existência, a SP Escola de Teatro é instituição pioneira ao ter um programa de contratação de pessoas transexuais em seu quadro de colaboradores.

“Quando soube de minha aprovação no processo seletivo, me lembrei daquela menina que chegou em São Paulo com o sonho de ser artista. Hoje, aquela menina é uma artista reconhecida e agora vai trabalhar no meio da arte”, celebra a bailarina e atriz.

Marcia Dailyn em frente ao Theatro Municipal de SP, onde foi a primeira bailarina trans – Foto: Bruno Poletti – Blog do @miguel.arcanjo

“Estou muito emocionada e feliz em chegar aos 42 anos e ver que minha trajetória artística é reconhecida. Eu sofri muito na vida, passei por muitas humilhações, por muitos momentos difíceis, mas hoje vejo que várias pessoas estenderam a mão para mim, algumas delas já viraram estrelinhas”, recorda.

“Tem dedo da Lucia Camargo, lá do céu, que foi diretora artística do Theatro Municipal quando entrei na escola de bailados de lá. Ela sempre me defendeu com unhas e dentes do preconceito que muitos tinham comigo por eu ser trans. Quando recebi a ligação da SP Escola de Teatro, dizendo que havia sido aprovada no processo seletivo, a Lucia foi a primeira pessoa que pensei. Ela dizia, ‘não mexe com a Marcia que ela é minha filha”. Obrigado por tudo, Lucia, onde você estiver”, emociona-se.

Marcia Dailyn em ensaio do fotógrafo Zé Barretta para a coluna Mônica Bergamo quando tornou-se diva da praça Roosevelt

“Preciso também externar a minha admiração e amor pelo Ivam Cabral e o Rodolfo García Vázquez, dois grandes artistas não só do teatro como da cultura brasileira, que batalham e muito pelo nosso teatro. Eles me deram a honra de ocupar o posto de diva da praça Roosevelt deixada pela inesquecível Phedra D. Córdoba. Eu tenho muito orgulho e amo muito a SP Escola de Teatro, eu farei o meu melhor, estejam certos. Também agradeço ao carinho do departamento administrativo e da grande atriz Elen Londero, que esteve no palco ao lado de Marília Pêra naquele belíssimo espetáculo Mademoiselle Channel, que está fazendo meu treinamento nesta chegada”, afirma.

Em 2019, Marcia Dailyn viveu grandes conquistas profissionais: participou do Festival de Teatro de Curitiba com a peça Mississipi, que fez temporada em São Paulo no Teatro Anchieta do Sesc Consolação e sessão de gala no Theatro Municipal, onde retornou ainda em dezembro, premiada com o Prêmio Arcanjo de Cultura com seu bloco Acadêmicos do Baixo Augusta e também como estrela convidada do espetáculo Noite de Gala do Circo, dirigido por Hugo Possolo.

Marcia Dailyn é ovacionada no palco do Theatro Municipal em Divinas Divas – Foto: Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo

Em janeiro de 2020, retornou ao Municipal com o espetáculo Divinas Divas, no qual contracenou com os ícones Jane Di Castro, Eloína dos Leopardos, Divina Valéria, Camille K e Divina Nubia, sob direção de Robson Catalunha e inspiração no documentário homônimo de Leandra Leal, que aplaudiu a sessão na tribuna de honra.

Marcia Dailyn em ensaio de Annelize Tozetto para a peça Entrevista com Phedra no Bar da Dona Onça, em SP

Marcia ainda protagonizou a peça Entrevista com Phedra, de Miguel Arcanjo Prado, autor deste blog, com direção de Juan Manuel Tellategui e Robson Catalunha, espetáculo vencedor do Prêmio Nelson Rodrigues e pelo qual foi indicada a Melhor Atriz pelo Prêmio Aplauso Brasil. A peça foi convidada do Theatro Municipal para seu Festival Eté 2019, onde fez sessão lotada.

“Neste espetáculo tive a honra de ser vestida pelo meu amigo e irmão Walério Araújo, meu grande incentivador e apoiador, que também foi amigo da Phedra, assim como ter o visagismo impecável de Divina Nubia, que foi uma das melhores amigas da Phedra e é citada no texto da peça”, lembra a diva.

Toda essa recente trajetória é coroada agora com o posto na SP Escola de Teatro. “Estou aqui para trabalhar, agregar: Márcia Dailyn, artista brasileira transexual que leva o legado de todos os que estenderam as mãos para mim. Viva as artes, viva Lucia. O choro é de emoção, Miguel…”, conclui.

Retire seu ingresso para ver Marcia Dailyn em Chão de Estrelas

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