Por Miguel Arcanjo Prado
O jogador argentino Diego Armando Maradona vivenciou todas as glórias e também todas as ruínas. Foi considerado o melhor do mundo de seu tempo e alçado ao panteão dos maiores astros do futebol da história ao lado do brasileiro Pelé. Sua morte, precoce, aos 60 anos, nesta triste quarta (25), em sua casa de Tigre, nos arredores de Buenos Aires, vítima de uma parada cardiorrespiratória, comove não só os argentinos como a todo o mundo; e especialmente a nós, latino-americanos.
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Afinal, Diego, o gênio do futebol que nasceu em Lanús e foi criado na Villa Fiorito, na periferia de Buenos Aires até ser revelado pelo Boca Juniors, está entre os melhores personagens de nossa história e poderia muito bem ter sido inventado por algum de nossos escritores do realismo fantástico, gênero tão nosso. Sua escalada meteórica, o apogeu da fama com a conquista do título mundial de 1986 (com ajuda da Mano de Dios) e a queda por conta do dopping, bem como as recaídas e internações fazem dele um ídolo apaixonante.
“Diego foi um homem imenso. Quem pode recriminá-lo, se ele só nos deu alegria? Quem tem autoridade moral para julgá-lo?”, lembrou o presidente argentino Alberto Fernández. “Os momentos mais gloriosos do futebol argentino foram com Diego. Maradona é uma referência inevitável pelo futebol. E ele não irá, porque sua memória seguirá presente. Ele é uma pessoa inapagável da história argentina, como Gardel. Um grande personagem da memória coletiva. É uma perda enorme e só temos que agradecê-lo”.
Contudo, o fundamental quando falamos de Maradona é que ele jamais se esqueceu do povo e de sua origem humilde. E pagou o preço por isso, sobretudo sendo ridicularizado e atacado por uma mídia que odiava suas ideias. Mesmo tendo se tornado um homem rico, graças a seu talento, Maradona defendeu ao longo de toda a sua vida os ideais de justiça e igualdade social e por isso foi atacado por muita gente mesquinha.
Aos locutores de partidas que quiseram transformar Diego em nosso inimigo junto de seu país, só para ganharem ibope por conta de uma rivalidade inventada entre povos irmãos, ele saiu-se vitorioso. Afinal, muitos brasileiros andam pelas ruas com a camisa 10 da seleção da Argentina que ele eternizou. E até hoje é a camiseta argentina mais vendida no Brasil, no mercado oficial e no das ruas. Porque o povo ama Maradona. Porque Maradona é o próprio povo.
A arte, o talento e o carisma deste homem ímpar são insuperáveis. Por isso, hoje, junto da Argentina, o Brasil chora copiosamente a partida do nosso Dieguito, El Pibe de Oro.
Miguel Arcanjo Prado é jornalista, mestre em Artes pela UNESP, pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pela ECA-USP e bacharel em Comunicação Social pela UFMG. Eleito três vezes pelo Prêmio Comunique-se um dos melhores jornalistas de Cultura do Brasil. Nascido em Belo Horizonte, vive em São Paulo desde 2007. É crítico da APCA, da qual foi vice-presidente. Passou por Globo, Record, Folha, Contigo, Editora Abril, Gazeta, Band, Rede TV e UOL, entre outros. Desde 2012, faz o Blog do Arcanjo, referência no jornalismo cultural. Em 2019 criou o Prêmio Arcanjo de Cultura no Theatro Municipal de SP. Em 2020, passou a ser Coordenador de Extensão Cultural e Projetos Especiais da SP Escola de Teatro e começou o Podcast do Arcanjo em parceria com a OLA Podcasts. Foto: Bob Sousa.