Crítica: Maitê Proença revela o seu melhor em O Pior de Mim
O Pior de Mim, com Maitê Proença
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
Avaliação: Ótimo ✪✪✪✪✪
Quando uma atriz resolve abrir seu coração de verdade uma mágica acontece. É o que se passa em O Pior de Mim, mergulho sincero, corajoso e com fartas pitadas autobiográficas, feito pela atriz Maitê Proença no teatro digital.
A artista se despe de construções em excesso, deixando de lado o estereótipo da musa que habitou o imaginário nacional por 42 anos de sucesso em novelas e séries, para expor uma mulher de pensamento e reflexões inteligentes, desde quando recebe o público virtual em seu camarim.
E é deste espaço de tanta intimidade para o artista que ela caminha, com tranquilidade, para aquele de tamanha exposição: o palco, onde se comunica e é observada por diferentes câmeras, num sutil jogo de pontos de vista (e voyeurismo) proposto pelo sagaz diretor Rodrigo Portella.
Atriz com farta capacidade de comunicação não só em sua atuação como também na dramaturgia que constrói, mostrando seu domínio das palavras e da poesia que emana delas, Maitê passeia por observações sobre a família, a fama repentina, a efemeridade do sucesso e as andanças pelo mundo, o que lhe trouxe farto aprendizado e aquela sabedoria típica que só a idade dá.
Antenada aos novos tempos de desconstrução de velhos valores e paradigmas, a atriz se enxerga sem exacerbações ou reducionismos, buscando um olhar filosófico para o que viveu e aprendeu da vida, e reencontrando neste espetáculo, de certo modo, a liberdade de quando, criança, andava nua pela casa de praia da família em Ubatuba, ou ainda, na adolescência, buscava uma vida sem falsos moralismos.
Em certo momento, diante dos percalços que a vida lhe impôs, ela confessa sua redenção pela arte: “A atriz me salvou de uma vida de aridez”, pontua. E, neste turbulento 2020, é a verdade simples e poética de Maitê Proença que faz florescer no meio do deserto, como demonstra a emoção do público ao fim de cada sessão. Afinal, como a atriz mesma observa: “A vida é o que dá certo”. Maitê está coberta de razão.
Miguel Arcanjo Prado é jornalista, mestre em Artes pela UNESP, pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pela ECA-USP e bacharel em Comunicação Social pela UFMG. Eleito três vezes pelo Prêmio Comunique-se um dos melhores jornalistas de Cultura do Brasil. Nascido em Belo Horizonte, vive em São Paulo desde 2007. É crítico da APCA, da qual foi vice-presidente. Passou por Globo, Record, Folha, Contigo, Editora Abril, Gazeta, Band, Rede TV e UOL, entre outros. Desde 2012, faz o Blog do Arcanjo, referência no jornalismo cultural. Em 2019 criou o Prêmio Arcanjo de Cultura no Theatro Municipal de SP. Em 2020, passou a ser Coordenador de Extensão Cultural e Projetos Especiais da SP Escola de Teatro e começou o Podcast do Arcanjo em parceria com a OLA Podcasts. Foto: Bob Sousa.