Por Miguel Arcanjo Prado
Tia Má é arretada, seja no palco com seu stand-up empoderado ou na TV, na qual participa do Encontro com Fátima Bernardes na Globo. Pois a estrela baiana agora é a primeira mulher negra e nordestina a ter seu próprio especial de humor nos serviços de streaming, com Tia Má com a Língua Solta disponível no Now, Vivo Play, Looke e Sky. A conquista tem sabor de batalha vencida na guerra contra o racismo estrutural e só foi possível após muita luta do diretor Anderson Jesus e da produtora Todos Negros do Mundo (TNM), responsáveis pelo programa e pioneiros na representatividade negra no audiovisual e na mídia brasileira.
“Ao assistir chorei, vibrei e fiquei pensando onde essa menina preta de Plataforma está chegando…estou no início da estrada, mas não vou parar, porque eu quero ir longe! Obrigada a todo mundo que veio antes de mim e me permitiu chegar até aqui”, declara Maíra Azevedo, a Tia Má. “Tem mulher preta fazendo stand-up, sim, e espero que você assista”, convida a artista, que no programa trata com humor e ironia fina questões vivenciadas diariamente por negras e negros no Brasil.
Vitória contra racismo estrutural
Se para homens brancos humoristas é mais fácil colocar um produto de humor em gigantes do streaming, a situação para uma comediante mulher, negra e nordestina é bem diferente. Quem explica a saga para Tia Má ter seu especial é o diretor de vídeo e produtor executivo do projeto, Anderson Jesus.
“Fizemos inúmeras reuniões com vários canais, inclusive canais de humor que demonstraram interesse e alegaram que não tinham novas produções para colocar no ar durante a pandemia. Apresentamos a produção de uma das maiores influenciadoras do Brasil, com quase 1 milhão de seguidores nas redes sociais, que aparece na Globo toda semana e, mesmo assim, inexplicavelmente, não conseguimos fechar”, recorda o diretor.
“Agora, finalmente, a gente conseguiu. É a dificuldade do negro no audiovisual. Não tem outra explicação. Nunca foi tão difícil colocar um projeto em um canal. A gente já fez tantos projetos pra canais de TV, pra AXN, pra Netflix, pro Discovery. É fácil colocar na TV programas cheios de homens brancos. Agora, quando é uma mulher preta, gorda, nordestina, que fala sobre negritude, aí fica difícil. E é um conteúdo excelente, gravado na mais alta qualidade”, pontua Anderson Jesus.
Vencida a batalha, o especial Tia Má com a Língua Solta, com Maíra Azevedo, sob direção de vídeo de Anderson Jesus e direção de espetáculo por Elísio Junior, pode ser visto nos streamings do Now, Vivo Play, Looke e Sky. Mais uma batalha vencida da guerra diária contra o racismo estrutural e por maior representatividade negra no audiovisual e em lugares de destaque na sociedade brasileira.
Miguel Arcanjo Prado é jornalista, mestre em Artes pela UNESP, pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pela ECA-USP e bacharel em Comunicação Social pela UFMG. Eleito três vezes pelo Prêmio Comunique-se um dos melhores jornalistas de Cultura do Brasil. Nascido em Belo Horizonte, vive em São Paulo desde 2007. É crítico da APCA, da qual foi vice-presidente. Passou por Globo, Record, Folha, Contigo, Editora Abril, Gazeta, Band, Rede TV e UOL, entre outros. Desde 2012, faz o Blog do Arcanjo, referência no jornalismo cultural. Em 2019 criou o Prêmio Arcanjo de Cultura no Theatro Municipal de SP. Em 2020, passou a ser Coordenador de Extensão Cultural e Projetos Especiais da SP Escola de Teatro e começou o Podcast do Arcanjo em parceria com a OLA Podcasts. Foto: Bob Sousa.
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