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Por que golpistas brancos de Trump são tratados diferente de negros do Black Lives Matter?

Por Miguel Arcanjo Prado

A polícia norte-americana trata negros de forma diferente que brancos? Diante do que o mundo assistiu nesta quarta (6), em Washington DC, a resposta é uma só: sim.

O que mais chamou a atenção na tentativa de golpe de manifestantes pró-Trump no Capitólio foi a forma diferente que os protestantes brancos foram tratados pelas forças de segurança, mesmo infringindo a lei e invadindo um prédio público com o intuito de dar um golpe na democracia estadunidense.

A diferença grita, sobretudo, quando comparado ao modo que essas mesmas forças agiram em junho do ano passado diante dos protestos do movimento Black Lives Matter, quando pessoas negras protestavam contra o assassinato de George Floyd, um homem negro, pelo policial branco Derek Chauvin. Os manifestantes pediam que as vidas negras importassem naquele país — algo muito diferente de impor um golpe de Estado, caso dos manifestantes pró-Trump.

Se em junho de 2020 as forças de segurança de Washington agiram com violência contra os manifestantes negros em sua maioria, que sequer conseguiram se aproximar do prédio público, neste janeiro de 2021 foi bem diferente. Os agentes de segurança não impediram a invasão do Capitólio por manifestantes brancos trumpistas.

Com golpistas de Trump invadindo o Congresso dos EUA na tentativa de anular o resultado de uma eleição democrática pelo uso da força, o que poderia se caracterizar uma tentativa de golpe contra o Estado democrático de direito, os agentes de segurança foram muito mais brandos do que demonstraram ser contra as pessoas negras que apenas lutavam para que suas vidas importassem naquele país.

O jornal britânico The Guardian destaca nesta quinta (7): “Ontem à noite em Washington DC, houve um pequeno destacamento de oficiais enquanto manifestantes pró-Trump invadiam o Capitólio. Em junho, uma cena totalmente diferente se desenrolou na mesma cidade em que os manifestantes Black Lives Matter marcharam contra o racismo e a brutalidade policial após a morte de George Floyd”.

O periódico londrino lembra ainda que contra os manifestantes negros foi empregada uma força policial infinitamente maior do que a que a que não conteve a invasão do Capitólio por manifestantes brancos trumpistas.

“A multidão de manifestantes Black Lives Matter fora da Casa Branca em 1º de junho estava a um quarteirão de distância do prédio e não fez nenhuma tentativa de violar sua segurança. Era uma multidão predominantemente negra, e foi acusada por uma força composta pela polícia de Washington, polícia do US Park, mais de 5.000 soldados da Guarda Nacional e agências federais como o Bureau de Prisões. Um helicóptero do Exército voou baixo sobre as cabeças dos manifestantes. Gás lacrimogêneo, cassetetes e cavalos foram usados ​​para limpar um quarteirão para que Donald Trump pudesse tirar uma foto do lado de fora de uma igreja do outro lado da rua. Um comandante da guarda nacional admitiu mais tarde que houve ‘uso excessivo da força’.”, recorda o tradicional jornal britânico.

Contudo, o que se viu neste 6 de janeiro de 2021 foi completamente diferente do que houve em 1º de junho de 2020, como ressalta o Guardian: “A multidão que invadiu a sede da democracia dos Estados Unidos na quarta-feira havia falado abertamente sobre tal plano, estava explicitamente com a intenção de derrubar uma eleição justa, e alguns deram a entender que poderiam estar carregando armas. Eles eram quase todos brancos. Muitos eram abertamente supremacistas brancos, e ainda assim, a magra polícia do Capitólio desabou em seu caminho. A Guarda Nacional de DC e da Virgínia só foi enviada em número significativo depois que o Capitólio foi invadido”.

Diante de tudo isso, permanece indigesta a pergunta: “Por que golpistas brancos de Trump são tratados diferente dos negros do Black Lives Matter?”.

Fotos: The Guardian @guardian/Reprodução e Divulgação/Trump

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Miguel Arcanjo Prado é jornalista, mestre em Artes pela UNESP, pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pela ECA-USP e bacharel em Comunicação Social pela UFMG. Eleito três vezes pelo Prêmio Comunique-se um dos melhores jornalistas de Cultura do Brasil. Nascido em Belo Horizonte, vive em São Paulo desde 2007. É crítico da APCA, da qual foi vice-presidente. Passou por Globo, Record, Folha, Contigo, Editora Abril, Gazeta, Band, Rede TV e UOL, entre outros. Desde 2012, faz o Blog do Arcanjo, referência no jornalismo cultural. Em 2019 criou o Prêmio Arcanjo de Cultura no Theatro Municipal de SP. Em 2020, passou a ser Coordenador de Extensão Cultural e Projetos Especiais da SP Escola de Teatro e começou o Podcast do Arcanjo em parceria com a OLA Podcasts. Foto: Bob Sousa.

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