Centenário de Zé Kéti merece celebração à altura de seu legado
Artista negro e do morro, Zé Kéti (1921-1999) terá seu centenário de nascimento celebrado em 16 de setembro de 2021. O músico e compositor carioca do icônico verso “o morro não tem vez” uniu morro e asfalto em canções emblemáticas como A Voz do Morro e Acender as Velas, até hoje muito executadas e revisitadas por novas gerações.
Bem antes de artistas vindos da periferia como Criolos e Emicida fazerem a cabeça da classe média, Zé Kéti foi parceiro de palco de Nara Leão, a musa da bossa nova e imagem da garota zona sul, e depois de Maria Bethânia, uma jovem recém-chegada de Santo Amaro da Purificação, na Bahia, por indicação da própria Nara, no lendário show Opinião, dirigido por Augusto Boal em 1964.
Zé Kéti ainda atuou com nomes como Paulinho da Viola, a quem tinha de pupilo e que o acompanhou em muitos shows tocando violão, além de medalhões como Elza Soares, Elis Regina, Jamelão e Jair Rodrigues.
Apesar de sua importância crucial para o samba, a MPB e a cultura brasileira, Zé Kéti ainda não é cultuado como pede a magnitude de sua obra. Mas, estão previstas ações para lembrar os cem anos de seu nascimento.
O Blog do Arcanjo recorda que o apagamento histórico de figuras negras é uma constante do racismo estrutural brasileiro. E a sociedade deve mudar isso.
Uma das ações que revisitam sua obra e prestam o devido tributo a Zé Kéti começa nesta quinta, 14, e vai até domingo, 17: a série de shows 100 Anos da Voz do Morro. As apresentações são no CCBB do Rio de Janeiro.
Segundo contou a filha do artista, Geisa Kéti, em entrevista ao jornalista Silvio Essinger, do jornal O Globo, a pandemia colocou pausa em um documentário sobre Zé Kéti: “Em 2020, iniciamos um documentário com meu irmão José Carlos, mas ele veio a falecer em maio, vítima de Covid-19, e tudo parou”.
Ela ainda disse que faz com ajuda de amigos um site para preservar a memória de seu pai: “Chamamos amigos do Brasil todo e da Argentina para fazerem rodas de samba em homenagem a Zé Keti”.
Depois do Rio, o espetáculo deve chegar ao CCBB de São Paulo em março. Que a chegada da vacina traga outras celebrações a Zé Kéti por todo o país e que grandes artistas de nossa música lhe prestem tributo. Ele merece.
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Miguel Arcanjo Prado é jornalista, mestre em Artes pela UNESP, pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pela ECA-USP e bacharel em Comunicação Social pela UFMG. Eleito três vezes pelo Prêmio Comunique-se um dos melhores jornalistas de Cultura do Brasil. Nascido em Belo Horizonte, vive em São Paulo desde 2007. É crítico da APCA, da qual foi vice-presidente. Passou por Globo, Record, Folha, Contigo, Editora Abril, Gazeta, Band, Rede TV e UOL, entre outros. Desde 2012, faz o Blog do Arcanjo, referência no jornalismo cultural. Em 2019 criou o Prêmio Arcanjo de Cultura no Theatro Municipal de SP. Em 2020, passou a ser Coordenador de Extensão Cultural e Projetos Especiais da SP Escola de Teatro e começou o Podcast do Arcanjo em parceria com a OLA Podcasts. Foto: Bob Sousa.