Artistas que voltam aos palcos merecem apoio em vez de ataques
Por Miguel Arcanjo Prado
Os artistas de nosso teatro que retomam as atividades nos palcos, respeitando todos os protocolos de segurança indicados pelas autoridades, merecem nosso apoio em vez de ataques.
Os colegas da classe artística, da imprensa ou mesmo o público deveriam aplaudir a coragem e a resistência destes profissionais. Artistas como os do musical Carmen, A Grande Pequena Notável, que começou temporada neste fim de semana no CCBB do Rio. São trabalhadores que lutam para manter vivo seu ofício.
Qualquer tipo de crítica maldosa a estes aguerridos profissionais, que só desejam sobreviver com dignidade como qualquer outro trabalhador, soa uma atitude mesquinha e cruel, para não dizer, hipócrita.
Até porque muitos dos que criticam nas redes os atores nos palcos até outro dia estavam postando fotos em aglomerações em bares, restaurantes, reuniões familiares, praias ou cachoeiras paradisíacas.
É um absurdo que a cultura, já tão perseguida neste país, precise se preocupar com falas demonizantes ou maldições dos próprios pares, em ‘fogo amigo’ desnecessário e desumano.
Outras categorias profissionais, como médicos, jornalistas e advogados, por exemplo, têm em seus códigos de ética profissional a proibição de que colegas se ataquem publicamente. Por que artistas, já tão perseguidos, se alfinetam nas redes? Este crítico não entende tal comportamento.
Neste momento tão delicado, qualquer artista que se mobilize a reconstruir algo para seguir em frente com todos os cuidados e protocolos possíveis precisa de apoio. Quem não consegue fazer isso talvez seria melhor chamar-se à elegância do recolhimento.
Este jornalista e crítico, como é de público saber, cobre com afinco desde outubro de 2020 a retomada do teatro, dando apoio aos artistas e técnicos que colocam seus corpos em função da manutenção de seu ofício.
Este escriba, como todos que acompanham o Blog do Arcanjo sabem muito bem, não só faz questão de divulgar os espetáculos em cartaz, como também vai presencialmente às sessões, sempre que possível. Trata-se de um ato de apoio à bravura destes artistas do teatro brasileiro, heróis do cotidiano.
E é sempre emocionante vê-los de perto. Este crítico já assistiu a variados espetáculos presencialmente nesta retomada, caso da divertida e inteligente comédia A Banheira, pioneira na retomada do teatro presencial sob comando da produtora Val Keller no Teatro Maria Della Costa; Simplesmente Clô, drama biográfico com o show de atuação de Eduardo Martini como Clodovil, no Teatro União Cultural; A Bicicleta de Papel, drama sensível de Luccas Papp contracenando com Leonardo Miggiorin em uma ode à amizade no Teatro das Artes; e Para Duas, com Karin Rodrigues, Chris Couto e Claudio Curi em um embate de mãe e filha, no Teatro Sérgio Cardoso.
Nestas peças, este crítico observou que todos cumpriram as regras de distanciamento prometidas, com muito álcool em gel, público de máscara e devidamente distanciado em plateias reduzidas. Assistir a esses espetáculos foi bem mais seguro do que estar na fila do supermercado ou dentro do transporte público, por exemplo.
Merecem também nossos aplausos os artistas de Carmen, A Grande Pequena Notável, sob direção de Kleber Montanheiro e produção de Mauricio Inafre, dois grandes guerreiros de nosso teatro. A obra protagonizada por Amanda Acosta, talentosa e premiada atriz dos musicais, merece nosso respeito ao manter viva a memória da primeira estrela internacional brasileira.
Bem como merecem nosso apoio os artistas de Viagens Extraordinárias – 20 Mil Léguas Submarinas, que estreiam no CCBB de São Paulo em 13 de fevereiro com o clássico da literatura infanto-juvenil de Julio Verne às 11h e 15h. A partir de 27 de fevereiro, a Cia. Solas de Vento faz sua trilogia Viagens Extraordinárias, que ainda traz Viagem ao Centro da Terra e A Volta ao Mundo em 80 dias, permanecendo em cartaz aos sábados e domingos.
Outra peça que prepara-se para estrear nos tablados é Bonita Lampião, texto de Renata Melo dirigido por Lena Roque sobre o casal mais famoso do Cangaço e protagonizado por Aysha Nascimento e Francisco Gaspar. A estreia está prevista para 26 de fevereiro, 19h, no Teatro Sérgio Cardoso, onde fica em cartaz até o fim de março de sexta a segunda.
E é preciso ainda reforçar algo importante: os teatros e equipamentos culturais não pertencem aos governantes da vez, mas, sim, ao povo brasileiro e ao patrimônio material e imaterial de nossa cultura. Querer associar um artista ou companhia a qualquer tipo de político por estarem em um equipamento público é desonesto. A cultura é de todos nós.
Este crítico encerra este texto com uma imagem que lhe arrancou lágrimas no começo desta semana. Foi tocante, na última segunda, 1º, assistir ao choro emocionado da atriz Chris Couto, ao fazer os agradecimentos finais no último dia da temporada de Para Duas, texto de Ed Anderson dirigido por Elias Andreato no Teatro Sérgio Cardoso.
Ao lado dos colegas Karin Rodrigues, do alto do respeito que seus 85 anos merecem, e de Claudio Curi, de 66 anos, Chris Couto, 60, só conseguiu verter lágrimas quando tentou explicar o que significava para ela estar no palco outra vez. A emoção tomou conta de todos na Sala Paschoal Carlos Magno, sobretudo pela verdade daquele pranto.
No fundo da plateia, Elias Andreato, outro nome do teatro que merece respeito, também se emocionou, assim como os produtores Ricardo Grasson, Heitor Garcia e o assistente de direção Rodrigo Chueri.
Todos aplaudiram de pé, emocionados, como deve ser a reação diante de qualquer peça de teatro presencial neste momento da história da humanidade. Pelo menos é assim que pensa este humilde crítico.
Afinal, dos artistas a gente espera mais amor e respeito ao próximo, porque de ódio este Brasil já está cheio.
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Teatro presencial
Carmen, A Grande Pequena Notável
Com Amanda Acosta e grande elenco
Quando: Quinta e sexta, 18h, sábado e domingo, 16h. Até 28/3/2021. Livre.
Onde: CCBB Rio – Rua Primeiro de Março, 66, Centro, Rio de Janeiro. Tel. 21 3808-2020.
Quanto: R$ 30 no Eventin
A Bicicleta de Papel
Com Luccas Papp e Leonardo Miggiorin
Quando: Domingo, 19h. Até 21/2/2021. 10 anos.
Onde: Teatro das Artes – Shopping Eldorado – Av. Rebouças, 3970 – Loja 409, Pinheiros, CPTM Hebraica-Rebouças, São Paulo.
Quanto: R$ 20 a R$ 60 na Sympla
Simplesmente Clô
Com Eduardo Martini
Quando: Sábado, 21h, domingo, 19h. Até 28/2/2021. 12 anos.
Onde: Teatro União Cultural – Rua Mário Amaral, 209, Paraíso, metrô Brigadeiro, São Paulo.
Quanto: R$ 35 a R$ 70 na Sympla
Trilogia Viagens Extraordinárias
Com Cia. Solas de Vento
Quando: Sábado, 11h e 15h, e domingo, 15h. A partir de 13/2 até 11/4/2021. Livre.
Onde: CCBB-SP – Rua Álvaro Penteado, 112, Sé, São Paulo.
Quanto: A partir de R$ 15 no Eventim
Neide Boa Soarte
Com Eduardo Martini
Quando: Sexta, 21h. A partir de 12/2 até 26/3/2021. 10 anos.
Onde: Teatro União Cultural – Rua Mário Amaral, 209, Paraíso, metrô Brigadeiro, São Paulo.
Quanto: R$ 35 e R$ 70 na Sympla
Sertão Sem Fim
Com Cia Terralina
Quando: Sexta, sábados, domingos e segundas, 19h. De 26/2 a 29/3/2021. 12 anos.
Onde: Teatro Sérgio Cardoso – Rua Rui Barbosa, 153, Bela Vista, São Paulo.
Quanto: R$ 20 na Sympla
Bonita Lampião
Com Aysha Nascimento e Francisco Gaspar
Quando: Sexta, sábados, domingos e segundas, 19h. De 26/2 a 29/3/2021. 12 anos.
Onde: Teatro Sérgio Cardoso – Rua Rui Barbosa, 153, Bela Vista, São Paulo.
Quanto: R$ 20 na Sympla
A Banheira
Com André Grecco, Carol Hubner, Wagner Maciel e grande elenco
Quando: Sábado, 21h. De 6 a 27/3/2021. 14 anos.
Onde: Teatro Maria Della Costa – Rua Paim, 72, Bela Vista, São Paulo.
Quanto: A partir de R$ 40 no Sampa Ingressos
+ Artistas, Cultura e Entretenimento
Miguel Arcanjo Prado é jornalista, mestre em Artes pela UNESP, pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pela ECA-USP e bacharel em Comunicação Social pela UFMG. Eleito três vezes pelo Prêmio Comunique-se um dos melhores jornalistas de Cultura do Brasil. Nascido em Belo Horizonte, vive em São Paulo desde 2007. É crítico da APCA, da qual foi vice-presidente. Passou por Globo, Record, Folha, Contigo, Editora Abril, Gazeta, Band, Rede TV e UOL, entre outros. Desde 2012, faz o Blog do Arcanjo, referência no jornalismo cultural. Em 2019 criou o Prêmio Arcanjo de Cultura no Theatro Municipal de SP. Em 2020, passou a ser Coordenador de Extensão Cultural e Projetos Especiais da SP Escola de Teatro e começou o Podcast do Arcanjo em parceria com a OLA Podcasts. Foto: Edson Lopes Jr.
Parabéns pela matéria!! Um bom soco no estômago desses malucos hipócritas do Apocalipse.!!
Grande Miguel. Como sempre traz uma análise sensível e atual. É muito importante essa discussão. Necessitamos tanto uns dos outros, e é preciso apoio neste momento. Que bom que o #blogdoarchanjo traz esse debate à nossa mesa. Viva o teatro.
Muito boa análise. O meu espetáculo estou fazendo online através do zoom. Trata-se do solo “Eu, Clarice”, uma homenagem a Clarice Lispector. Dia 20/02, às 20h. Ingressos através do Sympla. Te espero lá. Abraços