Ícone do site Blog do Arcanjo

Harry e Meghan acusam família real de racismo em entrevista a Oprah Winfrey

Prince Harry and Meghan, The Duke and Duchess of Sussex, with Oprah Winfrey.

Por Miguel Arcanjo Prado

O príncipe Harry e sua esposa, a atriz Meghan Markle, respectivamente duque e duquesa de Sussex, fizeram acusações de racismo à família real britânica em entrevista neste domingo (7) à apresentadora Oprah Winfrey no canal norte-americano CBS.

Um dos pontos mais graves da conversa foi quando o casal afirmou que havia uma preocupação entre membros da realeza sobre a cor de pele do primeiro filho do casal, Archie, que nasceu em 2019.

A preocupação da família real seria porque Meghan é negra, filha de mãe negra e pai branco. Segundo membros da família real teriam dito a Harry, eles temiam que o bebê tivesse a pele mais escura por ser afrodescendente.

Após a entrevista, Oprah declarou que esse membro da realeza não seria a Rainha Elizabeth II nem seu marido, o Duque de Edimburgo, com quem o casal afirmou ter boas relações.

O tema racial veio à baila quando Meghan contou que, ainda grávida, foi informada pela realeza que Archie não se tornaria príncipe, não recebendo assim segurança oficial de um membro da família real.

Meghan disse também que havia diversas “preocupações e conversas sobre o quão escura a sua pele seria quando nascesse”. Essas conversas eram feitas com Harry, que contava tudo para a mulher, segundo Meghan revelou a Oprah.

“Isso aconteceu nos últimos meses da nossa gravidez”, falou Meghan.

O casal ainda atacou a imprensa britânica por uma cobertura negativa dos dois, que seria insuflada pela realeza.

“Criamos essa máquina monstra [de cliques e tablóides], vocês permitiram que isso acontecesse, o que significa que precisamos estar seguros”, disse o casal sobre a decisão de deixar o Reino Unido.

Meghan disse que nunca importou para títulos de nobreza, mas que a situação foi diferente porque se tratava da segurança de Archie, que, ao contrário dos filhos de William, não recebeu ao nascer o título de príncipe.

“Quando eu estava grávida, eles quiseram mudar a convenção, para o Archie. Por quê?”, questionou. “Não tem explicação”, falou a atriz, deixando a entender que foi por racismo. A legislação britânica não obriga título de príncipe a bisnetos do monarca, apenas a filhos e netos, mas a Rainha concedeu o título aos filhos de William e negou ao de Harry.

Negra na família real

Meghan disse que o fato de ser negra na família real trouxe muita admiração para a família real de súditos e admiradores no mundo todo, como vivenciou nas viagens oficiais.

“[Pude ver] o quanto significava para eles [pessoas negras] poder ver alguém que se parecia com eles nesta posição. E nunca pude entender como isso não poderia ser visto como um benefício adicional, um reflexo do mundo hoje”, falou a atriz.

O príncipe Harry disse que precisou se colocar no lugar de Meghan para entender o preconceito que ela sofria na monarquia por ser negra.

“Passei muitos anos fazendo o trabalho e aprendendo por conta própria. Mas então, na minha educação e no sistema em que fui criado e a que fui exposto, eu não estava ciente disso. Mas, meu Deus, não demorou muito para repentinamente tomar consciência disso”, disse ele sobre as questões raciais.

Briga com Kate

Meghan ainda falou da relação com a cunhada e futura rainha Kate Middleton, duquesa de Cambridge, casada com o príncipe William, irmão mais velho de Harry e segundo na linha sucessória ao trono, atrás do Príncipe Charles, pai dos dois.

O principal deles começou com um boato de que Meghan teria feito Kate chorar durante os preparativos de seu casamento com Harry.

Mas Meghan diz que foi a duquesa de Cambridge que acabou fazendo com que a cunhada ficasse triste por causa dos vestidos das meninas que levariam as flores. Meghan afirmou que não houve confronto, e que Kate pediu desculpas depois.

Contudo, essa história, na visão de Meghan, foi “o início de um verdadeiro assassinato de caráter”, acrescentando que realeza não os contestou publicamente, apesar de saber que eram falsos os boatos.

“Eles iriam abertamente e negariam a história mais ridícula para qualquer um”, disse. “Mas a narrativa sobre fazer Kate chorar foi o começo de um verdadeiro assassinato de caráter, e eles sabiam que não era verdade. Se eles não vão sufocar coisas assim, então o que vamos fazer?”, questionou.

Pensamentos suicidas

Meghan disse ainda que chegou a ter pensamentos suicidas. Ao ser questionada se houve um momento decisivo, Meghan respondeu que sim.

“Eu simplesmente não via uma solução. Eu ficava acordada à noite, eu não entendia como tudo isso está acontecendo”, disse. “Minha mãe e meus amigos ligavam chorando e dizendo: ‘Meg, eles não estão protegendo você’.”

“Eu tinha muita vergonha de falar à época e vergonha de ter que admitir para o Harry, especialmente, porque eu sei quantas perdas ele sofreu, mas eu sabia que se não falasse, eu faria, e eu simplesmente não queria mais estar viva”, prosseguiu. “Tudo estava acontecendo apenas porque eu estava respirando.”

Harry falou que ficava desesperado por ver a história se repetindo, mas afirmou não ter recebido nenhum tipo de ajuda.

A mãe de Harry e William, princesa Diana, morreu em um acidente de carro em Paris, em 1997, enquanto fugia de paparazzi.

Ele disse que ficou apavorado quando Meghan falou para ele que não queria mais viver. “Eu não tinha ideia do que fazer”, afirmou. “Mas queria estar lá para ela”, pontuou.

“Acho que tive vergonha de admitir isso para eles [a família real], não sei se eles tiveram os mesmos sentimentos ou pensamentos”, falou o príncipe.

Família tóxica

Harry disse ainda que se tratava de um ambiente sufocante e que não tinha a quem recorrer.

“Para a família, eles têm muito essa mentalidade de, é assim que as coisas são, você não pode mudar isso, todos nós já passamos por isso”, reforçou.

“Mas o que foi diferente para mim foi o elemento raça, não era apenas sobre ela, era sobre o que ela representa”, declarou o príncipe. “Então, não está afetando apenas minha esposa, mas afetando muitas outras pessoas também.”

Foi isso que o levou a discutir o assunto com a família real e avisá-los de que “isso não vai acabar bem”.

Charles não atendia telefonemas

Segundo Harry, antes de anunciar publicamente que deixava a realeza, ele conversou três vezes com sua avó, a Rainha Elizabeth II, e duas com seu pai, o Príncipe Charles, que depois disso parou de atender seus telefonemas, segundo contou Harry.

O casal chegou a processar algumas publicações e paparazzi por invasão de privacidade. O último compromisso como membros da nobreza foi em março de 2020.

Tabloides repercutem

Os tabloides britânicos repercutem à exaustão a entrevista. Segundo o The Sun, o Príncipe Charles estaria “em situação de desespero”, enquanto que o Príncipe Willima estaria “com raiva” por conta da entrevista.

O The Sun lembrou que “o Palácio de Buckingham ainda não respondeu oficialmente ao bate-papo revelador que viu Meghan Markle desabar em lágrimas quando ela e o Príncipe Harry revelaram as pressões que enfrentaram dentro da Família Real”.

Na segunda, o Daily Mail estampou a manchete “Meghan acusa o Palácio de Racismo”, seguida por outros destaques da entrevista, como a declaração de que ela teve pensamentos suicidas.

“Eu tinha muita vergonha de falar à época e vergonha de ter que admitir para o Harry, especialmente, porque eu sei quantas perdas ele sofreu, mas eu sabia que se não falasse, eu faria, e eu simplesmente não queria mais estar viva”, disse Meghan. “Tudo estava acontecendo apenas porque eu estava respirando.”

“Eu quis me matar”, foi uma das manchete do Daily Mail. O tabloide publicou artigos com repercussões favoráveis à família real e expôs o que seriam contradições do casal e ainda questionou quão preparada Meghan estava para fazer parte da realeza britânica.

“Meghan Markle pode nunca mais retornar ao Reino Unido depois de irritar a família real com uma entrevista bombástica a Oprah”, escreveu o The Sun.

Segundo o jornal, há fontes no Palácio de Buckingham temendo que o casal possa ter “queimado suas pontes” por não antecipar à realeza o conteúdo que seria exibido, o que foi interpretado como forte traição.

Depois de ter usado o termo “Megxit”, parodiando a saída do Reino Unido da União Europeia para se referir à crise entre Meghan e a família real, o The Sun fez um novo trocadilho criando o apelido “Megxile”, uma junção do nome da atriz com a palavra em inglês utilizada para “exílio”.

Harry e Meghan deixaram Londres no ano passado, moraram no Canadá e agora vivem em Montecito, na Califórnia, Estados Unidos.

Como possível retaliação à entrevista, o Palácio de Buckingham decidiu investigar ‘possível bullying’ de Meghan a funcionários da família real.

Herdeiro do trono

Harry é o sexto na fila ao trono do Reino Unido, depois de seu pai, Príncipe Charles, do seu irmão, Príncipe William, e dos seus sobrinhos, Charlotte, Louis e George, filhos de William e Kate.

A sucessão ao trono é assegurada pela Legislação Britânica e só uma nova Lei do Parlamento do Reino Unido poderia remover alguém de permanecer na fila de possíveis sucessores. Mesmo com a decisão de abandonar a família real, Harry permanece na fila de sucessão.

Lucro milionário

A entrevista de Oprah, feita de forma independente, foi vendida por R$ 40 milhões para a emissora norte-americana CBS, que deverá ter lucros ainda maiores com os intervalos comerciais.

Não se sabe quanto o casal, que agora precisa viver às próprias custas, teria embolsado, mas ambos são amigos íntimos de Oprah Winfrey. Por sua vez, Oprah garantiu que os dois não cobraram nada pela entrevista.

Não custa lembrar que Oprah é considerada a maior entrevistadora dos Estados Unidos, por sempre extrair com naturalidade o melhor de seus entrevistados.

Avô internado

A Rainha Elizabeth II, que tem 94 anos, teria considerado a entrevista uma grande afronta e falta de respeito.

Sobretudo, porque seu marido, Philip, o Duque de Edimburgo, de 99 anos, está internado desde fevereiro. E acaba de ser operado do coração nesta semana.

Para a família real, Harry decidir lavar roupa suja real na imprensa justo neste momento é uma falta de consideração com seus avós e toda a monarquia britânica, sobretudo nesta etapa tão sensível para a família real.

Já o casal pensa justamente o contrário: resolveu conceder a entrevista para evitar maledicências a seu respeito na imprensa britânica, fofocas estas que seriam alimentadas por importantes membros da família real.

Fim dos privilégios

Em 19 de fevereiro último, Harry e Meghan confirmaram sua decisão de deixar a família real, decisão esta já anunciada no ano passado e agora reiterada oficialmente, abdicando de vez a de todos os privilégios e também obrigações junto à Rainha Elizabeth II e o Palácio de Buckingham.

Harry abriu mão, inclusive, do título de Sua Alteza Real, assim como fez sua mãe, Diana, na época em que se divorciou de Charles, em 1996, um ano antes de morrer no trágico acidente de carro em Paris ao fugir de paparazzi.

Mas, Harry manteve o título de príncipe, que lhe foi concedido no nascimento.

Igual a Diana

Em trechos já revelados nas chamadas para a entrevista, o segundo filho da Princesa Diana e do Príncipe Charles afirma: “Temi que a história se repetisse”, fazendo uma comparação do que acontece agora com ele à história de sua mãe.

Diana também concedeu entrevista ao jornalista da BBC Martin Bashir, que caiu como uma bomba na família real em 1995, já que a princesa expôs na franca conversa a infelicidade de seu casamento com o Príncipe Charles, contou que este a traía com Camila, e revelou toda a frieza com que era tratada pela Rainha Elizabeth II.

Princesa Diana com seus dois filhos, William, o mais velho, no alto, e o caçula Harry, ao seu lado – Foto: Divulgação/Palácio de Buckingham – blogdoarcanjo.com

Harry sofre até hoje ao lembrar da penúria pública da mãe. “Não consigo nem imaginar como deve ter sido para ela passar por esse processo sozinha todos esses anos atrás, porque tem sido incrivelmente difícil para nós dois – mas pelo menos tínhamos um ao outro”, fala o príncipe.

“Minha maior preocupação era a história se repetindo”, diz o caçula de Diana.

Siga @miguel.arcanjo!

Ouça o Podcast do Arcanjo!

+ Artistas, Cultura e Entretenimento

Miguel Arcanjo Prado é jornalista, mestre em Artes pela UNESP, pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pela ECA-USP e bacharel em Comunicação Social pela UFMG. Eleito três vezes pelo Prêmio Comunique-se um dos melhores jornalistas de Cultura do Brasil. Nascido em Belo Horizonte, vive em São Paulo desde 2007. É crítico da APCA, da qual foi vice-presidente. Passou por Globo, Record, Folha, Contigo, Editora Abril, Gazeta, Band, Rede TV e UOL, entre outros. Desde 2012, faz o Blog do Arcanjo, referência no jornalismo cultural. Em 2019 criou o Prêmio Arcanjo de Cultura no Theatro Municipal de SP. É coordenador de Extensão Cultural e Projetos Especiais da SP Escola de Teatro, colunista do Notícias da TV e faz o Podcast do Arcanjo em parceria com a OLA Podcasts. Foto: Edson Lopes Jr.

Please follow and like us:
Sair da versão mobile