Morreu, aos 63 anos, o ator e cantor Edson Montenegro, grande nome do teatro, televisão e da música no Brasil. Artista pioneiro na representatividade negra nas telas, ele estava internado no Hospital Paulistano, na Bela Vista, em São Paulo, com Covid-19, mas não resistiu à doença, vindo a falecer neste domingo (21).
Juliana Tavares, filha do artista, confirmou a morte: “Meu pai descansou. Em nome de toda família, obrigada por toda corrente do bem em oração e toda energia positiva que emanaram”.
Ator e cantor de farto talento, Edson Montenegro não teve tantos papéis quanto seu talento merecia na televisão e no cinema, fruto do racismo estrutural brasileiro que na maioria das vezes sempre relegou atores negros personagens secundários ou estereotipados.
Mesmo diante destes desafios, o grande artista construiu uma carreira respeitável nos palcos e telas.
Edson Montenegro esteve no filme Cidade de Deus, indicado a quatro Oscar, o maior feito internacional do cinema brasileiro em todos os tempos.
Ele ainda atuou como o personagem Mandinga na novela Xica da Silva na Manchete, folhetim que foi vendido para dezenas de países do mundo, sempre com sucesso.
Ele esteve também na minissérie Dona Flor e Seus Dois Maridos na Globo, na novela Apocalipse na Record e na novela Cúmplices de um Resgate no SBT.
No teatro, atuou em musicais como Hair dirigido por Jorge Fernando e Sweet Charity, ao lado de Claudia Raia e Marcelo Medici, sob direção de Charles Möeller e Claudio Botelho, além de ter gravado discos como cantor.
Também foi negro pioneiro ao apresentar programas na televisão: comandou o programa cinematográfico Zoom na TV Cultura e também o educacional Telecurso 2000.
Edson Montenegro
Edson Montenegro nasceu no Rio de Janeiro em 28 de outubro de 1957. Começou na carreira artística ainda criança, no Instituto Villa Lobos, onde estudou teoria musical e canto coral. Na década de 1980 transferiu-se para São Paulo, onde estudou bel canto na FMU.
Como cantor, gravou dois discos, em 1982, ainda com o nome artístico Edson Cruz, e em 1984, este último intitulado Essencial. Nesse mesmo ano ganhou o concurso Novos Talentos do SBT.
Em 1990, fez show aclamado no Espaço Off com Silvia Góes e Arismar do Espírito Santo sob direção de Jean Garfunkel. Em 1991, estudou interpretação com Miriam Muniz, uma das grandes mestras do teatro. Atuou como crooner de grupos como Banda da Patroa (Maestrina Silvia Góes), L. F. Combow (Maestro Laércio de Freitas) e Grupo Vocal Oito em Ponto (Maestro Tasso Bangel).
Em 1991, participou do Novo Festival Record da MPB como solista da Banda Savana, do maestro Branco, e direção geral de Caetano Zama, com a música Ouve Amor, deste último. No mesmo ano, participou do Festival Carrefour de MPB com a música: Sol e Lua de Rafael Alterio e Rita Alterio, com direção geral de Zuza Homem de Melo.
Em 1992, ganhou o prêmio de melhor intérprete no 1° Festival de MPB de Tatuí com a música: É Só Navegar, de Rafael Alterio/Rita Alterio. Em 1993 participou do musical Hair, de Germone Ragni e James Rado, com direção de Jorge Fernando. Seu personagem era o Hud.
Seu primeiro contato com a Jazz Sinfônica se deu quando cantava no grupo vocal Tom da Terra, com direção geral do Maestro Tasso Bangel. Edson e seu grupo eram contratados da Universidade Livre de Música. O maestro e idealizador da Sinfônica, Cyro Pereira, convidou o grupo para alguns concertos no Memorial da América Latina, entre 1991 e 1993.
De 1999 a 2002, foi o apresentador do Programa Zoom, na TV Cultura. Zoom era um programa de curtas e animações, além de entrevistas com cineastas. Em 2002, lançou seu primeiro disco pela Lua Music, intitulado Edson Montenegro, lançado no Sesc Pompeia.
Em 2005, em homenagem ao centenário de Ary Barroso, Edson Montenegro e Fabiana Cozza realizaram um espetáculo no Sesc Ipiranga chamado Aquarelas do Ary. Em 2006, fez com a Sinfonica do Rio de Janeiro o concerto Grande Circo Místico, apresentado em Buenos Aires.
Ainda em 2006, integrou o elenco do espetáculo Sweet Charity, fazendo o Pastor Daddy no musical dirigido por Charles Möeller e Cláudio Botelho, contracenando com Claudia Raia e Marcelo Medici. Em 2008, fez o espetáculo Cartola para Todos. Em 2009, participou da celebração dos 25 anos da Cia Pia Fraus, no espetáculo Bichos do Mundo. Em 2010 e 2011, integrou o projeto Notícias Dum Brasil ao lado de grandes nomes da música.
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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