Morre Ismael Ivo, bailarino e coreógrafo, de Covid-19 aos 66 anos
Morreu Ismael Ivo, grande bailarino e coreógrafo da dança brasileira, aos 66 anos, na noite desta quinta-feira (8), por complicações da Covid-19, confirmou a assessoria do artista.
Ele estava internado havia um mês no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Ícone da dança não só no Brasil como na Europa, ele assumiu em 2017 a direção do Balé da Cidade de São Paulo. Também estava à frente do projeto de criação da SP Escola de Dança em parceria com o Governo do Estado de São Paulo e a Secretaria de Cultura e Economia Criativa.
“O Brasil perdeu Ismael Ivo, um dos maiores coreógrafos contemporâneos. Ismael foi diretor da Bienal de Veneza, do Balé da Cidade e o primeiro estrangeiro a dirigir o Teatro Nacional Alemão. Era um amigo querido. Muito triste. Minha solidariedade aos familiares”, declarou o governador de São Paulo, João Doria.
“Viva Ismael Ivo! Grande artista, grande pessoa, grande amigo. Deixa um legado fundamental para a dança brasileira. Muitas realizações! Por determinação do governador João Doria, vamos implantar o projeto ao qual ele vinha se dedicando desde o ano passado: a SP Escola de Dança Ismael Ivo”, anunciou Sérgio Sá Leitão, secretário de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo.
Bem antes de a palavra representatividade ganhar manchetes, Ismael Ivo já era seu mais completo significado. Que descanse em paz.
Miguel Arcanjo
Ícone da dança
Nascido em São Paulo em 17 de janeiro de 1955, Ismael Ivo ficou célebre na década de 1980, quando hipnotizava o público em solos que se realizava em espaços culturais do bairro do Bixiga, como Carbono 14.
Em 1982, Klauss Vianna (1928-1992) dirigia o Balé da Cidade de São Paulo e buscava modernizar a companhia. Por isso, o convidou para participar de Bolero, com coreografia de Lia Robatto e direção de Emilie Chamie, espetáculo premiado pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes).
Consagração em Nova York
A trajetória internacional de Ismael Ivo deu início em 1983, quando chegou foi para Nova York após ganhar bolsa da escola e da companhia jovem de Alvin Ailey (1931-1989).
Seu solo O Rito do Corpo em Lua, no La MaMa, icônico teatro experimental nova-iorquino, virou frenesi na cena cult da Big Apple.
Conquista da Europa
Em 1984 Ismael Ivo fundou as Semanas de Dança Internacional de Viena, na Áustria, em sociedade com o produtor Karl Regensburger. O evento, que cresceu e ganhou o nome de ImPulsTanz Festival, tornou-se um dos maiores da Europa.
Em 1985, mudou-se para Berlim, onde criou e apresentou vários espetáculos solo (de início no Schaubühne Theater).
Gestor cultural internacional
Paralelamente à atuação como bailarino e coreógrafo, Ismael assumiu cargos importantes na europa, tornando um gestor cultural de respeito internacional.
Entre 1997 e 2000, foi diretor da companhia German National Theater, na cidade alemã de Weimar, para a qual coreografou O Beijo no Asfalto (Kuss im Rinnstein), de Nelson Rodrigues, sob direção do diretor teatral brasileiro Marcio Aurelio.
Entre 2005 a 2012, ocupou a função de diretor do Festival Internacional de Dança da Bienal de Veneza e do Departamento de Dança da mesma Bienal, onde concebeu o projeto Arsenalle della Danza, em 2009 – o qual solidificou-se, em 2013, no Biblioteca do Corpo, em parceria com o Sesc de São Paulo.
Com o objetivo de desenvolver e treinar jovens bailarinos profissionais, o Biblioteca do Corpo já produziu três espetáculos – No Sacre, Erêndira e Das Tripas… Coração, todos já apresentados na capital paulista.
Ao longo de sua carreira, Ismael Ivo ainda colaborou com artistas importantes da dança – como o coreógrafo alemão Johann Kresnik, o bailarino e coreógrafo japonês Ushio Amagatsu (do grupo Sankai Juku) e a bailarina brasileira Marcia Haydée, com a qual realizou os espetáculos Tristão e Isolda, Aura, Wie Callas.
Em 2010, Ismael Ivo recebeu a Ordem do Mérito Cultural do Brasil, concedida pelo Ministério da Cultura, então sob gestão de Juca Ferreira. Desde 2017, dirigia o Balé da Cidade de São Paulo e vinha se dedicado à criação da SP Escola de Dança, que agora levará seu nome, em parceria com a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo de São Paulo.
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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