Roberto Carlos faz 80 anos: saiba detalhes da carreira do Rei

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Dono do título de Rei da música brasileira, Roberto Carlos faz 80 anos nesta segunda, 19 de abril. O artista nascido em Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, em 19 de abril de 1941, tornou-se um dos nomes mais bem sucedidos do mercado do entretenimento não só do Brasil como do mundo.
São mais de 600 composições, 70 álbuns lançados no país e mais de uma centena no exterior. Roberto Carlos vendeu quase um disco para cada cidadão brasileiro, detentor da impressionante marca de 150 milhões em vendas em mais de 60 anos de trajetória artística.
Eu não sou nenhum Roberto, diz cantor
Segundo informou o Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) ao Blog do Arcanjo, a canção mais tocada de Roberto Carlos nos últimos cinco anos foi É Preciso Saber Viver. Já sua música mais gravada por outros intérpretes é Emoções. Ambas foram compostas com Erasmo Carlos, seu fiel amigo e grande parceiro nas composições.
Entre as 20 músicas de Roberto mais tocadas, 16 são em parceria com o Tremendão, apelido de Erasmo. Já a música que mais teve rendimentos em 2020 foi Como É Grande o Meu Amor por Você. Roberto Carlos tem 676 músicas e 1.138 gravações cadastradas no Ecad.

Bossa nova e rock’n’roll
O primeiro registro fonográfico de Roberto Carlos foi em 1959, em um compacto 78rpm gravado pelo fã de bossa nova com as músicas João e Maria e Fora do Tom.
Contudo, poucos anos depois o admirador de João Gilberto seria capturado pela rebeldia do rock’n’roll que conquistou os corações jovens na década de 1960.

Jovem Guarda
Em 1963, já na turma do produtor Carlos Imperial, ele lançou aquele que seria seu LP rumo ao estrelato: Splish Splash, no qual a faixa Parei na Contramão literalmente parou a juventude brasileira.
Estava dada à largada ao movimento da Jovem Guarda, espécie de Beatlemania brasileira. Apresentado por Roberto Carlos ao lado de Wanderléa e Erasmo Carlos, o programa Jovem Guarda tornou-se fenômeno de audiência nas tardes de domingo da TV Record, resultando um disco de mesmo nome em 1965.
Roberto tornou-se um ídolo jovem popular, atraindo a atenção da indústria cinematográfica. Ele estrelou na sequência três filmes dirigidos por Roberto Farias: Roberto Carlos em Ritmo de Aventura; Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa; e Roberto Carlos a 300km por Hora.

Soul, blues e Caetano
Mas, aquela febre juvenil passou, a juventude brasileira ficou mais politizada com o recrudescimento da ditadura, e Roberto Carlos foi beber de outras fontes potentes que já surgiam no horizonte musical.
Assim, dialoga de forma profunda com o soul e blues no começo dos anos 1970, em um dos períodos criativos mais interessantes de sua carreira, que rendeu pérolas como as faixas Todos Estão Surdos e Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos — esta feita após visitar Caetano Veloso no exílio em Londres —, ambas do disco Roberto Carlos lançando em 1971. O álbum é considerado pela crítica especializada um dos melhores de sua discografia e ainda traz Como Dois e Dois, composição de Caetano, e o seu clássico com Erasmo, Detalhes — reza a lenda que a canção teria sido feita após uma disputa amorosa com o jornalista Tarso de Castro, o que o Rei nega.

Especial na Globo
Após o breve momento de diálogo com a psicodelia setentista, Roberto Carlos volta à bem comportada TV aberta em 1974, quando estreia aquele que seria o mais longevo programa de fim de ano da televisão brasileira: o Especial de Final de Ano da Rede Globo Roberto Carlos, tradição até os dias atuais.
A partir daí, Roberto Carlos navegou cada vez mais próximo ao romantismo, tornando-se um ídolo de baladas românticas com shows regulares bem produzidos, cuidadosamente escritos e ensaiados e que hipnotizam milhares de fãs até os dias atuais.
Só entre as décadas de 1970 e 1990, lançou um total de 29 LPs e se consagrou como o cantor romântico mais popular da América Latina, tanto que é o único artista latino a vender mais do que Beatles e Elvis Presley na região.
Entre canções que se tornaram hinos neste período estão É Preciso Saber Viver, Amigo, O Portão, Amante à Moda Antiga, Emoções.

Papa e Pavarotti
Diante de tamanha popularidade, Roberto Carlos foi convidado para cantar para o Papa João Paulo II em 1997.
Já em 1998, fez dueto com o tenor italiano Luciano Pavarotti. Rejuvenescido e buscando dialogar com as novas gerações, entrou no século 21 gravando um CD e DVD Acústico MTV, em 2001, outro sucesso de vendagens.

Cruzeiro Emoções em Alto Mar
Em 2005, levou sua música para o oceano Atlântico, dando início ao bem sucedido Projeto Emoções em Alto Mar, um cruzeiro anual pela costa brasileira a bordo de transatlântico onde reúne admiradores, amigos e jornalistas, apresentando-se em show intimista todas as noites.
Em 2009, celebrou 50 anos de carreira com uma sequência de 50 apresentações pelo Brasil e sendo homenageado em dois espetáculos especiais: Elas Cantam Roberto Carlos, no Theatro Municipal de São Paulo, que contou com a presença da amiga e fã Hebe Camargo, e Emoções Sertanejas.
Grammy
O disco Esse Cara Sou Eu marcou o ano de 2012, e em 2015 Roberto Carlos foi consagrado Personalidade do Ano no Grammy Latino, do qual possui quatro troféus e mais um do Grammy Internacional. No mesmo ano, gravou no mítico estúdio Abbey Road, em Londres, versões em português e espanhol de sucessos no álbum Primeira Fila.
Em 2018, lançou Amor Sin Límite, que contou com participações de grandes nomes da música internacional como Alejandro Sanz e Jennifer Lopez, todo gravado em espanhol e dedicado ao mercado latino. Logo em seguida veio turnê mundial.

Presente e futuro
Nestes tempos de pandemia, Roberto Carlos realizou duas lives em 2020, uma no dia de seu aniversário de 79 anos, 19 de abril, e outra no Dia das Mães, em maio.
O astro planeja neste 2021 de celebração de seus 80 anos o lançamento de uma música inédita e um dueto com Liah Soares, que fará parte da nova novela das 21h da Globo. Pelo jeito, o Rei não pensa tão cedo em aposentadoria. Ainda bem.
Editado por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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[…] Roberto Carlos faz 80 anos: saiba detalhes da carreira do ReiPosso dizer orgulhoso, 13 anos depois, que a estratégia deu certo. Porque a figura de Roberto Carlos (controversa, contraditória, amada e odiada, cheia de manias e toda dengosa) se tornou tão referencial quanto distante, mas a obra resistia inabalável como parte da memória emotiva de algumas gerações de brasileiras e brasileiros, esse tal povo maltratado.E essa memória precisa ser valorizada, estudada e devolvida a quem é de direito, devolvida a quem a construiu, cantando nas ruas, no busão a caminho do trabalho, a quem fez serenatas. Óbvio, a partir de bases que a revirem. É isso que um intérprete faz, revira a obra, antropofagiza, tira do sacro altar e colocar no altar da carnavandalização**, revira tanto a ponto de parecer não querer ser nenhum Roberto. Nenhum tipo de Roberto. Só interessa a obra, só o encontro de cada pessoa com o significado daquela história própria, absolutamente pessoal. Nesse contexto não interessa mais nem o grande, imenso cantor de escola João Gilbertiana, tampouco o artista que quer guardar só pra si aquilo que produziu, mas que se tornou clássico a partir do massivo apoio desse povo maltratado. […]