Trilogia Rua do Medo revigora o terror com banho de sangue e crítica social | Por Átila Moreno

Por ÁTILA MORENO
@atilaouno

A trilogia Rua do Medo da Netflix não é só uma riquíssima homenagem aos filmes de terror como também teve a proeza de reciclar o gênero, com tempero pop contemporâneo e um pé no saudosismo. 

E há tempos Hollywood vinha tentando dar gás a esse tipo de gênero, batendo na trave ao insistir em repetir o sucesso retumbante da franquia Pânico, do diretor Wes Craven (1939-2015). 

Mulher comanda o terror

Tal feito agora se deve graças à roteirista e diretora Leigh Janiak, que teve a maestria de resumir mais de 50 edições da saga escrita pelo autor RL Stine. 

Talvez um olhar feminino tenha feito total diferença já que os três títulos Rua do Medo: 1994, Rua do Medo: 1978 e Rua do Medo: 1666 não se restringem apenas a mesclar o ocultismo, o sobrenatural, o gore e o slasher, respectivamente, temáticas e subgêneros reviradas do avesso em filmes de terror. 

Serial killers e violência urbana

Por trás de muito sangue e suspense, a trilogia expõe inúmeras feridas da sociedade norte-americana, pautadas por críticas sociais que perpassam indiretamente diversos momentos históricos do país.

A trama narra a rivalidade entre duas cidades vizinhas Shadyside e Sunnyvale que são socialmente discrepantes, principalmente quando o assunto é violência urbana. Uma delas sofre, há séculos, com inúmeros casos de serial killers que atacaram os habitantes. 

Com a nova onda de assassinatos, algo sai totalmente fora de controle e irá trazer vários esqueletos do passado. Leigh amarra bem a ligação cronológica dos fatos e deixa para o terceiro filme as explicações que vão impactar o espectador. 

https://www.youtube.com/watch?v=ZoVM-Ol_7O4

No primeiro filme, Rua do Medo: 1994, Leigh constrói personagens fora do estereótipos dos filmes de terror, coloca a temática LGBTQIAP+ como fio condutor e faz uma colagem de referências de clássicos como: A Bruxa de Blair (Eduardo Sánchez e Daniel Myrick, 1999), Madrugada dos Mortos (Zack Snyder, 2004), Halloween (John Carpenter, 1978), A Prova Final (Robert Rodriguez, 1999) e tantos outros. Vale destacar a cena introdutória que é uma referência clara ao início de Pânico (1996), com Maya Hawke, filha de Uma Thurman e Ethan Hawke, revisitando o papel de Drew Barrymore.

Sexo, moralismo e bullying

Em Rua do Medo: 1978, a história volta no tempo para abordar um massacre num acampamento de jovens que chocou as duas cidades. Aqui, os conflitos dos personagens ganham destaque para abordar o bullying, o sexismo e a misoginia, com referência forte a Carrie – A Estranha (Brian De Palma, 1976), A Morte Convida para Dançar (Paul Lynch, 1980) e Sexta-feira 13 (Sean S. Cunningham, 1980).

Já em Rua do Medo: 1666, a conclusão da trama introduz temas como histeria coletiva, patriarcado, culpa e medo, sendo o longa-metragem mais denso nas questões psicológicas, bastante semelhante ao drama As Bruxas de Salem (Nicholas Hytner, 1996).

E pra completar a trilha sonora é de matar os corações mais saudosos. Uma eclética viagem musical pelas décadas de 80 e 90, ao som de The Offspring, Pixies, Nirvana, The Runaways, David Bowie entre outros. Uma trilogia caprichosa, rica em simbolismos e referências, com um desfecho surpreendente. 

*Átila Moreno é jornalista e apaixonado por cultura, sobretudo filmes, séries e peças de teatro. É diretor e editor-chefe do site atilaouno.com.br e cofundador do canal Mooveola. Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo pelo UNI-BH, é pós-graduado em Produção e Crítica Cultural pela PUC-Minas. Colabora com o Blog do Arcanjo desde 2012.
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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