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Filmamos Verdades Secretas em tempos menos patrulhados do que agora, diz diretor

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

Verdades Secretas está de volta ao imaginário do brasileiro. A trama escrita por Walcyr Carrasco vencedora do Emmy é reprisada pela Globo, que faz esquenta antes de lançar a segunda temporada. Com o folhetim novamente na boca do povo, o Blog do Arcanjo conversa com o diretor geral do projeto, Mauro Mendonça Filho. No papo, O filho de Mauro Mendonça e Rosamaria Murtinho rememora a importância da obra, que lhe rendeu o segundo Emmy — o primeiro foi com O Astro, de 2011 —; ressalta o trabalho de Grazi Massafera, como uma modelo que se vicia no crack; e ainda afirma que em 2015, ano em que a trama foi gravada, havia menos censura que nos tempos atuais. Leia com toda a calma do mundo.

Mauro Mendonça Filho, diretor de Verdades Secretas – Foto: Rachel Cunha/Globo/Divulgação – Blog do Arcanjo

Blog do Arcanjo – Verdades Secretas foi um sucesso de público, crítica e redes. O que achou quando soube que seria exibida novamente na TV?
Mauro Mendonça Filho –
Achei ótimo. Até hoje, muita gente fala de Verdades Secretas, como se fosse ontem. Não caiu no esquecimento. Espero que o conteúdo ainda esteja atual e que continue causando impacto.

Blog do Arcanjo – Como foi o processo de construção do conceito da obra?
Mauro Mendonça Filho –
Partimos de alguns conceitos básicos: primeiro, de dar um tom mais ácido na interpretação dos jovens. Para mim, juventude no audiovisual tem que ser sempre rock’n’roll. Tem que ser transgressor, com um certo tom de ameaça até. Nos inspiramos no cinema de Harmony Korine e Larry Clark, para dar alguma referência. Depois, aliamos a denúncia da exploração sexual com bastante sexualidade e liberdade, para confundir o público mesmo. Por último, nos inspiramos no Porn Chic, um conceito de moda criado pela Vogue e do grande fotógrafo Helmut Newton, que inspirou o livro e os clipes da Madonna, por exemplo.

Blog do Arcanjo – Qual foi o principal desafio desse trabalho?
Mauro Mendonça Filho –
Embalar assuntos delicados como consumo de drogas e sexo, respeitando os limites da TV aberta. Aliar ousadia com bom gosto.

Grazi Massafera em Verdades Secretas como Larissa, modelo que vai parar na cracolândia: respeito como atriz – Foto: Divulgação/Globo – Blog do Arcanjo

Blog do Arcanjo – Quais cenas foram mais difíceis de serem realizadas?
Mauro Mendonça Filho –
Sem dúvida, a crackolândia. A dificuldade era grande, desde a pesquisa. Levei a Grazi (Massafera) lá, na crackolândia real, disfarçada. Cruzamos a rua, observamos discretos toda aquela degradação, conversamos com figuras que tentavam largar o vício, outras que tinham largardo, mas sofriam para se manterem limpos. Tudo muito intenso. E, depois, ao recriar o ambiente, com a cenografia e figuração foi outro desafio. Não é uma realidade fácil para as pessoas que não viveram aquilo compreenderem. Precisou de muita alquimia por parte da direção. Foi tudo feito no Rio, numa rua do Santo Cristo. Por último, acertar o tom. Optamos pela compaixão. O viciado, antes de tudo é um doente. Está no limite de uma vida sem dignidade e há de se ter compaixão com essas pessoas. Procuramos criar um ambiente seguro para a Grazi poder se jogar e encenar a desgraça da sua personagem, a Larissa. E ela foi um colosso de atriz. Encarou tudo com coragem e muito, mas muito talento. Depois de Verdades Secretas, Grazi passou a ser super respeitada como atriz, principalmente dentro da classe artística.

Depois de Verdades Secretas, Grazi Massafera passou a ser respeitada como atriz, principalmente dentro da classe artística.

Mauro Mendonça Filho, diretor

Blog do Arcanjo – O que Verdades Secretas representa em sua carreira?
Mauro Mendonça Filho –
Não tenho muita dimensão, para ser franco. Sou daquelas pessoas que não para muito para pensar nos reflexos da carreira. Mas posso dizer que a resposta do público, nunca esquecendo de Verdades Secretas, já me realiza muito.

Walcyr Carrasco e Camila Queiroz com o Emmy que Verdades Secretas ganhou de Melhor Novela nos EUA – Foto: Divulgação/Globo – Blog do Arcanjo

Blog do Arcanjo – Como foi para você ver sua história concorrer e ganhar um Emmy Internacional?
Mauro Mendonça Filho –
Foi meu segundo Emmy Internacional, o primeiro foi com O Astro. Penso assim, com relação à prêmios: se foi indicado, tá ótimo; se não ganhou; tá super ótimo, se ganhou, tá super excelente. É tudo festa, celebração e reconhecimento. Não tenho nenhuma atitude blasé com relação a isso.

Blog do Arcanjo – A atuação do elenco foi muito importante para o resultado da obra. Como foi o trabalho com os atores?
Mauro Mendonça Filho –
O que você poderia destacar?
Eles compraram o pacote e se jogaram. Filmamos Verdades Secretas em 2015, tempos menos patrulhados do que agora. Queríamos quebrar um tabu e retratar a sexualidade como algo que faz parte da vida de todo mundo, como dormir, comer, fazer ginástica. O tom mais pesado na interpretação foi algo que trabalhamos forte, também. Lançamos excelentes jovens atores, que alcançaram o estrelato depois de Verdades Secretas.

Filmamos Verdades Secretas em 2015, tempos menos patrulhados do que agora.

Mauro Mendonça Filho, diretor
Verdades Secretas: cena do primeiro desfile de Angel – Foto: Zé Paulo Cardeal/Globo/Divulgação – Blog do Arcanjo

Blog do Arcanjo – Qual a principal lembrança que guarda das gravações?
Mauro Mendonça Filho –
Era muito divertido. Na verdade, é sempre muito divertido. E ao mesmo tempo, tudo muito sério e respeitoso. Equipe e elenco, em todos os trabalhos que faço, sempre têm uma integração muito grande, sem distinção, sem estrelismos. Eu procuro dar o exemplo, me despindo das camadas de ilusão que o sucesso impregna e quando todo mundo faz o mesmo, o resultado é que você gera algo no mínimo autêntico. Acredito piamente nisso.

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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