Zé Celso e intelectuais debatem legado da Semana de 1922 na SP Escola de Teatro
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
São Paulo celebra o legado da Semana de Arte Moderna de 1922, cujo centenário será comemorado em fevereiro de 2022. Em meio aos eventos que buscam refletir sobre este importante momento das artes no país e seu legado, a SP Escola de Teatro realiza o seminário digital “Cenas Modernas: 1922 e Além”, transmitido no Youtube da SP Escola de Teatro. A ação integra as atividades da instituição ligada à Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo na temática do Centenário da Semana de 22. Entre os convidados está Zé Celso, diretor do Teatro Oficina, que encerrará a programação sendo entrevistado pela atriz e cantora Letícia Coura.
Serão seis encontros, às quartas e aos sábados. A Semana e o ideário do modernismo brasileiro são os disparadores, mas apontam leituras livres da experiência moderna no país, refletindo-a à luz dos acontecimentos artísticos, das emergências sócio-políticas e dos estudos culturais e antropológicos do presente. As convidadas e convidados têm como tarefa discutir não só o que foi a Semana paulista como também abrir perspectivas críticas que especulem sobre os campos de pensamento alicerçados a partir dos anos 1920 e nas décadas seguintes, que ainda repercutem de algum modo – por extensão ou recusa – na cultura brasileira hoje.
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Assim, no primeiro encontro o professor Ferdinando Martins (ECA/USP) e o crítico mineiro Guilherme Diniz discutem o teatro ao mesmo tempo como inspiração e ausência na Semana, e ainda a emergência da cena negra nas décadas seguintes, como acontecimentos anunciados mas não abraçados em 1922. Na segunda mesa, mediada pela dramaturga Marici Salomão, a conversa será em torno da escrita de mulheres. A premiada escritora Maria Valéria Rezende fará um relato da convivência, em Santos, com Patrícia Galvão (Pagu) e seu lugar entre os modernos. A dramaturga Ave Terrena fala sobre sua pesquisa em torno do muralismo literário, inspirada em Oswald de Andrade e os artistas mexicanos, além de um conceito emergente nos nossos dias, parelho à antropofagia e realocado junto às questões de gênero: a transpofagia.
Deslocando o olhar de São Paulo para o Norte (ou vice versa), os professores Afonso Medeiros e Walter Chile (da Universidade Federal do Pará) falarão sobre os imaginários visuais modernos e as experiências de exceção , inclusive na arte teatral contemporânea. Entre elas a possibilidade de uma arquitetura cênica inspirada na sociabilidade dos pescadores, indígenas e caboclos amazônicos – ou o que Walter chamou “Teatro Cacuri”, de inspiração portanto popular. O iluminador Chico Turbiani falará sobre a importância da luz no contexto moderno.
O encontro seguinte será sobre música, sonoridades e trocas culturais. O que significaria, nos dias de hoje, ideias como as de Oswald de Andrade no Manifesto Antropófago, de consciência participante a partir de uma possível originalidade nascida nas culturas do povo? Para conversar sobre isso estarão no Seminário a antropóloga baiana Goli Guerreiro – autora de “Terceira Diáspora”, em que se discute as trocas culturais na época das redes de informação. Junto a ela estará o músico Lincoln Antônio, que com o grupo A Barca faz pesquisas de campo da música popular, em viagens de vivência e criação musical Brasil adentro que podem ser comparáveis às “Missões” de Mario de Andrade. A mediação será feita pelo Dj, dramaturgo e diretor Eugênio Lima, também pesquisador das culturas diaspóricas.
O Circo e a arte do palhaço, inspiradores dos modernos dos anos 20 ganham espaço de discussão com a professora e pesquisadora Ermínia Silva, que vai falar sobre um personagem importante naqueles anos e depois: Abelardo Pinto, o palhaço Piolin. Junto a ela estará a cineasta Mariana Gabriel, que vem de uma família de palhaços e fala sobre o primeiro palhaço negro do país, Xamego – que na verdade era sua avó, Dona Maria Eliza Alves. Hugo Possolo fará a mediação. Possolo é também palhaço (antes de tudo, palhaço, ele diz). É ator e diretor, hoje, do mesmo Theatro Municipal de São Paulo em que a Semana de Arte Moderna aconteceu.
O último encontro será com o diretor José Celso Martinez Corrêa, um dos maiores encenadores da cena brasileira, que não só dirigiu a montagem histórica de “O Rei da Vela” (1967), de Oswald de Andrade, como também reinventou criticamente a ideia de antropofagia sob a influência e os chamados do Brasil que se deslocou com o tempo. Este último encontro será em forma de entrevista. E para entrevistar Zé Celso virá a atriz e compositora Letícia Coura, que trabalhou por dez anos com o Teatro Oficina e interpretou, entre outros papéis, Tarsila do Amaral no espetáculo “Macumba Antropófaga”.
PROGRAMAÇÃO
08 /9, 19h – Panoramas à margem
Ferdinando Martins e Guilherme Diniz. Mediação: Kil Abreu
15/9, 19h – Dramaturgia e escrita de mulheres: de Patrícia Galvão (Pagu) aos novos muralismos e à transpofagia
Ave Terrena e Maria Valéria Rezende. Mediação: Marici Salomão
18/9, 11h – Imaginários visuais, luz e cenotecnia: da modernidade à decolonialidade
Afonso Medeiros e Walter Chile. Mediação: Chico Turbiani
22/9, 19h – Em busca do popular: sonoridades e trocas culturais no Brasil moderno e contemporâneo
Goli Guerreiro e Lincoln Antônio. Mediação Eugênio Lima
25/9, 11h – O teatro brasileiro é palhaço: em torno de Piolin, Xamego e o Circo dos pretos
Mariana Gabriel e Ermínia Silva. Mediação: Hugo Possolo
29/9, 19h – Antropofagia moderna, cena contemporânea
Letícia Coura entrevista José Celso Martinez Corrêa
SERVIÇO
Seminário “Cenas Modernas: 1922 e Além”
De 08 a 29 de Setembro, às 11h (sábados) e 19h (quartas)
Acesso Gratuíto- Youtube SP Escola de Teatro
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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