Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Fotos EDSON LOPES JR.
@edson_lopes_jr
Momentos antes de entrar em cena com a peça Amanhã Eu Vou no palco do Teatro Vivo em Casa, com transmissão online ao vivo, a atriz Tuna Dwek chorava copiosamente. Mas, não era de tristeza. O motivo foi a alegria de se sentir em uma “volta para casa”, com definiu ao Blog do Arcanjo, com a alegria de pisar em um palco após quase dois anos de ausência. A emoção foi compartilhada no camarim ao lado, onde a atriz Lilian Blanc, sua colega de cena, se concentrava nos últimos detalhes antes de pisar no palco, também sensibilizada diante da responsabilidade da retomada do ofício de atriz.
Leia a crítica de Miguel Arcanjo Prado para Amanhã Eu Vou
Tuna Dwek e Lilian Blanc são as protagonistas de Amanhã Eu Vou, obra que abriu a terceira temporada de espetáculos do Teatro Vivo em Casa, sob curadoria de André Acioli e com quatro espetáculos ao todo, sempre sábado, 21h, e domingo, 18h. O espetáculo escrito por Clovys Torres e dirigido por Cristina Cavalcanti fez sessão ao vivo neste sábado (11), e fará reprise neste domingo (12), às 18h, com ingressos gratuitos pela @vivo.cultura (retire aqui seu ingresso). Depois, entram em cartaz, sempre por um fim de semana, as peças A Bicicleta de Papel, Pousada Refúgio e A Vela.
“É uma sensação de voltar para a casa. Mas também é como estar no universo sem gravidade, planando e vendo as estrelas ao redor. O fato de ser ao vivo traz o frio da barriga igualzinho, coisa que uma atriz sempre vai ter, como me ensinou minha amiga Miriam Mehler”, diz Tuna Dwek. Ela logo complementa: “Retomamos o que mais nos dá prazer e plenitude. Dentro de mim, trago todas as pessoas que se foram e a todas que estão perseverando sem amargura e se cuidando”, afirma a atriz. “Sinto uma sensação de amor sem tamanho pelo teatro. Estou muito emocionada”, confidencia.
Lilian Blanc reforça o diálogo que a dramaturgia faz com a contemporaneidade, ao apresentar duas mulheres em um mundo destruído e desértico, cercadas por lobos, e que só têm a companhia uma da outra. “Esse texto é atualíssimo, a gente está vivendo isso, essa coisa das queimadas, os animais morrendo, essa peste que está aí. E as duas personagens dependem uma da outra, é yin-yang”, define. “Ensaiamos pelo Zoom, eu na minha casa e a Tuna na casa dela. E a sintonia foi vindo. Tinha hora que sem combinar levantávamos da cadeira juntas”, recorda.
Ao fim da sessão, o dramaturgo Clovys Torres também estava emocionado na plateia do Teatro Vivo. “Foi tudo muito emocionante, poder ver as atrizes em cena, a gente resistindo. Escrevi essa peça durante a pandemia, a pedido da Tuna”, revelou. Sobre o caráter poético e universal presentes em seu texto, ele pontua: “Eu sempre priorizo a poesia nos meus textos e acho que agora na pandemia não tinha outra saída que não fosse a poesia, que expande os sentidos. E este elenco é fantástico, entende não só o texto, mas o subtexto. São atrizes que fazem isso deslumbrantemente”, elogia.
A diretora Cristina Cavalcanti celebrou poder estar de volta com uma produção ao palco do Teatro Vivo. “Fomos acolhidos com uma estrutura maravilhosa e com muito carinho pelo André Acioli e toda sua equipe”, agradece. E também elogia as características do texto que fazem com que chegue aos corações dos espectadores. “É um texto universal, que fala de um sentimento humano que está presente em alguns momentos históricos, e esse é um deles. Que mundo nós teremos para viver? É a pergunta que fica no ar. É um texto poético e que traz um fiozinho de esperança. E isso é maravilhoso neste momento”, declara.
Atendo a cada detalhe do Teatro Vivo em Casa, o curador artístico e gestor teatral André Acioli celebra a estreia e revela que houve novidades na transmissão. “Dessa vez temos três câmeras transmitindo as peças ao vivo. Depois de apostarmos em monólogos nas duas primeiras temporadas, esta terceira temporada do Teatro Vivo em Casa traz espetáculos com mais atores em cena. Demos esse passo adiante, com muito cuidado. É um desafio para todos nós, ir entendendo aos poucos este novo momento”, pontua.
Diante do clima pesado no país, seu olhar curatorial buscou espetáculos que trouxessem fé em um futuro melhor ao público. “Buscamos trazer espetáculos com mensagens solar e que tragam esperança. Outro dia, vi o escritor moçambicano Mia Couto falando que quando a gente perde a utopia a gente perde o prazer da vida. Então, não podemos perder a possibilidade de sonhar. São espetáculos que mostram a importância do outro e que contribuem com esse momento que vivemos”, fala André Acioli.
Não podemos perder a possibilidade de sonhar.”
André Acioli
curador artístico e gestor do Teatro Vivo
Ainda sem data para retomada de espetáculos com público no presencial, Acioli conta que o espaço faz uma espécie de test-drive nesta terceira temporada. “Pela primeira vez, desde o começo da pandemia, estamos trazendo alguns convidados para vivenciar com toda a segurança essa experiência de bastidores e ver a peça ao vivo. Isso tudo para entendermos este novo momento e fazermos tudo com responsabilidade. Acho que é um processo de adquirirmos confiança tanto para o público quanto para os artistas e produções”, conclui.
Leia a crítica de Miguel Arcanjo Prado para Amanhã Eu Vou
Blog do Arcanjo mostra imagens da estreia da peça Amanhã Eu Vou no Teatro Vivo em Casa
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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