Crítica | Amanhã Eu Vou é resistência de humanidade em meio ao caos
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Fotos EDSON LOPES JR.
@edson_lopes_jr
A distopia sem um fio de esperança não faz sentido. E, por mais que tentem nos roubar a humanidade, ela é inquebrantável. Este é o âmago de Amanhã Eu Vou, espetáculo que o dramaturgo Clovys Torres escreveu com a sensibilidade do momento da quarentena. Mesmo com a influência do atual momento que o país e o mundo vivem, as temáticas abordadas no texto são universais e atemporais.
A história mostra duas mulheres em um mundo devastado e com lobos à espreita. Diante do caos e do nada, uma só encontra refúgio na companhia da outra, tornando-se uma simbiose de resistência humana que lhes permite sobreviver.
Veja como foi a emoção da estreia de Amanhã Eu Vou
Em um mundo cada vez mais tragado pelas máquinas e pelas novas tecnologias, e com uma pandemia que nos roubou por quase dois anos a possibilidade do encontro, a diretora Cristina Cavalcanti aposta justamente na simplicidade para esta montagem, sem pirotecnias técnicas. Sua encenação traz ao protagonismo aquela que é a força motriz do teatro: o jogo entre bons atores em cena. E nesse cuidado em deixar a atuação em evidência ela é seguida pela elegante iluminação de Rodrigo Menck e pela sutil trilha de Igor Souza.
O espetáculo conta com duas excelentes atrizes, Tuna Dwek e Lilian Blanc, ambas de uma geração que sabe construir personagens com profundidade. Ambas assumem uma vigorosa convivência em um mundo perdido. De personalidades e energias opostas, elas se retroalimentam, no convívio que as afugenta do carma da solidão. Quem prezou do convívio profundo com seres amados na quarentena, mesmo com difíceis embates do cotidiano, sabe bem a importância de se ter um outro em momento histórico tão difícil.
E o grande recado de Amanhã Eu Vou é que, mesmo diante da desolação ao redor e do rosnar da matilha que as ronda, Tuna e Lilian — os nomes das atrizes batizam também as personagens – não deixam o frescor da vida esvanecer. Muito pelo contrário, quando tudo ruma para o fim e parece irremediavelmente perdido, elas buscam a qualquer preço um fio de esperança. Como deve ser.
Amanhã Eu Vou
Avaliação: Ótimo ✪✪✪✪✪
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
Veja como foi a emoção da estreia de Amanhã Eu Vou
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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1 Resultado
[…] Momentos antes de entrar em cena com a peça Amanhã Eu Vou no palco do Teatro Vivo em Casa, com transmissão online ao vivo, a atriz Tuna Dwek chorava copiosamente. Mas, não era de tristeza. O motivo foi a alegria de se sentir em uma “volta para casa”, com definiu ao Blog do Arcanjo, com a alegria de pisar em um palco após quase dois anos de ausência. A emoção foi compartilhada no camarim ao lado, onde a atriz Lilian Blanc, sua colega de cena, se concentrava nos últimos detalhes antes de pisar no palco, também sensibilizada diante da responsabilidade da retomada do ofício de atriz.Leia a crítica de Miguel Arcanjo Prado para Amanhã Eu Vou […]