Museu Afro Brasil reúne grandes fotógrafos na exposição Terra em Transe

Com curadoria do escritor Diógenes Moura, a mostra, que teve sua primeira edição em 2018 no Fotofestival SOLAR, em Fortaleza, foi atualizada para tratar de assuntos como a pandemia e seu impacto na vida dos brasileiros

Fotografia de Araquem Alcântara na exposição Terra em Transe no Museu Afro Brasil - Blog do Arcanjo
Fotografia de Araquem Alcântara na exposição Terra em Transe no Museu Afro Brasil – Divulgação – Blog do Arcanjo

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

Museu Afro Brasil, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, gerida pela Associação Museu Afro Brasil – Organização Social de Cultura, e Fotofestival SOLAR apresentam, a exposição Terra em Transe, com curadoria de Diógenes Moura e patrocínio do Governo do Estado do Ceará por meio da Secretaria estadual da Cultura. Após a 1ª edição em 2018 no Museu de Arte Contemporânea do Ceará, a mostra chega à São Paulo atualizada e ampliada, com a adição de temas como as queimadas no Pantanal e na Amazônia, o incêndio na Cinemateca, o desastre ambiental de Brumadinho e a tragédia social provocada pela pandemia, com obras de Araquém Alcântara, Boris Kossoy, Carla Carniel, Dani Tranchesi, Daniel Kfouri, João Castellano e Michael Dantas.

Ao todo, são 60 fotógrafos e cerca de 600 imagens reunidas na exposição, inicialmente programada para 2020, mas que precisou ser adiada devido à pandemia. “É um desejo antigo do Museu exibir aqui Terra em Transe, que discute temas viscerais do Brasil, trazendo à tona retratos das injustiças sociais, raciais e políticas do país”, afirma Emanoel Araujo, diretor curador do Museu Afro Brasil. “É uma oportunidade para o público conhecer o trabalho de importantes fotógrafos brasileiros, mas também para repensar a realidade nacional a partir de um novo ponto de vista, necessário, atual e contundente”.

“A partir de março de 2020, com o início da pandemia do Coronavírus, passei a recortar jornais sobre o assunto para uma colagem de textos e imagens que agora compõem uma sala especial na exposição”, revela o escritor e curador de fotografia Diógenes Moura, que passou 7 meses em isolamento reunindo este material e desenvolvendo a atualização da exposição, para a qual dedicou mais de 20 anos de pesquisa e que terá um documentário sobre o processo de montagem em São Paulo, dirigido pelo curador e por Daniel Kfouri.

As novas imagens e vídeos se juntam às obras originais da exposição, de autores como Miguel Rio Branco, Nair Benedicto, Maureen Bissiliat, Mario Cravo Neto, Ewandro Teixeira, Marlene Bergamo e Lalo de Almeida ao lado de registros de fotojornalistas de todo o Brasil destacando desde o AI-5, em 1968, até o incêndio no Museu Nacional em 2018, passando pelas manifestações religiosas, o caos urbano, os desastres ambientais e as desigualdades sociais e raciais no país.

“É assim desde Vidas Secas. Desde Deus e o Diabo na Terra do Sol. É assim desde Macunaíma, de Cabra Marcado para Morrer, de Carandiru. É assim por dentro de Bacurau”, afirma Diógenes Moura no texto de abertura da exposição. “Todos juntos Brasil adentro entre políticos infames em processo de putrefação, entre miniaturas de homens públicos querendo roubar o pão que o diabo já amassou, entre as florestas devastadas – a face do horror. É assim diante do olho por olho, dente por dente, da poética como ‘um saco vazio dentro da alma’, do luxo e do lixo gota por gota, do navio negreiro navegando por dentro das nossas veias, das cicatrizes que não se transferem.(…) De dentro da noite dos tempos um vírus desperta. A pandemia fecha as portas do mundo. A morte chega sem piedade: ‘Ar, ar, ar, por misericórdia!’. Milhares de pessoas são enterradas no coração do Brasil. No fundo do poço, o rei está nu. ‘Quer ser feliz? Vá viver no inferno das cuias. Lá é bem mais razoável’. É assim em Terra em Transe”.

Sobre o Museu Afro Brasil

O Museu Afro Brasil, localizado no Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega, dentro do Parque Ibirapuera, conserva, em 11 mil m², mais de 8 mil obras, entre pinturas, esculturas, gravuras, fotografias, documentos e peças etnológicas, de autores brasileiros e estrangeiros, produzidos entre o século XVIII e os dias de hoje. O acervo abarca diversos aspectos dos universos culturais africanos e afro-brasileiros, abordando temas como a religião, o trabalho, a arte, a escravidão, entre outros temas ao registrar a trajetória histórica e as influências africanas na construção da sociedade brasileira.

Inaugurado em 2004, a partir da coleção particular do seu atual Diretor Curatorial, Emanoel Araujo, o Museu construiu, ao longo de mais de 16 anos de história, uma trajetória de contribuições decisivas para a valorização do universo cultural brasileiro ao revelar a inventividade e ousadia de artistas brasileiros e internacionais, desde o século XVIII até a contemporaneidade. O Museu exibe parte do seu Acervo na Exposição de Longa Duração, realiza Exposições Temporárias e dispõe de um Auditório e de uma Biblioteca especializada que complementam sua Programação Cultural ao longo do ano.

Sobre o Fotofestival SOLAR

Com regularidade bienal, o Fotofestival SOLAR faz parte de um plano de fortalecimento da cultura e das artes por meio da fotografia, integrando o calendário de eventos estratégicos da Secretaria da Cultura do Governo do Estado do Ceará. A primeira edição do SOLAR ocorreu de dezembro de 2018 a abril de 2019, em Fortaleza. Reuniu fotógrafos, pesquisadores, curadores, artistas e o público em geral em momentos de profunda reflexão sobre os tempos vertiginosos que vivemos. Além de atividades de formação, oficinas, apresentação de portfólios, projeções e debates, o SOLAR contou com cinco exposições em diferentes espaços do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.

Sobre Diógenes Moura

Diógenes Moura é escritor, curador de fotografia, roteirista e editor. Premiado no Brasil e exterior, acaba de publicar Vazão 10.8 – A Última Gota de Morfina, pela Vento Leste Editora. Com O Livro dos Monólogos [Recuperação para Ouvir Objetos], também publicado pela Vento Leste Editora, foi semifinalista do Prêmio Oceanos de Literatura 2019. Em 2020, publicou O Antiacarajé Atômico – Dias Pandêmicos (Selo Exu de Dentro), livro escrito durante os sete primeiros meses da pandemia. Escreve sobre existência, imagem, abismo e abandono. Vive e trabalha em São Paulo.

Exposição Terra em Transe
Visitação:
 18 de setembro a 5 de dezembro, das 10h às 17h (permanência até as 18h)
Local: Museu Afro Brasil
Endereço: Parque Ibirapuera, Portão 10/ Estacionamento pelo Portão 3
Ingressos: R$ 15 (meia-entrada R$ 7,50)/ Entrada gratuita às quartas-feiras

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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