Benditas Mulheres de Célia Forte traz contrastes sociais dos bastidores do teatro
Nome respeitado do teatro paulistano, Célia Forte estreia no Teatro Renaissance seu terceiro texto como dramaturga, Benditas Mulheres, no qual esquadrinha nuances das relações femininas nas coxias
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
“Sempre me interessei pelas camareiras”, avisa de cara a dramaturga Célia Forte sobre seu novo texto teatral, Benditas Mulheres, definido pela mesma como “uma homenagem às trabalhadores e aos trabalhadores do teatro. A obra faz estreia concorrida nesta sexta (8), às 21h30 no Teatro Renaissance sob direção de seu velho parceiro Elias Andreato. As sessões são às sextas e sábados, às 21h30 (retire aqui seu ingresso).
Esquadrinhar mulheres não é novidade na carreira de Célia como dramaturga. Ela estreou na função com a comédia de retumbante sucesso — e apadrinhada por ninguém menos que Paulo Autran — Amigas, Pero no Mucho, com quatro amigas que amam se odiar e que ficou em cartaz por mais de uma década. Depois, reviu a relação geracional entre mãe e filha no drama Ciranda. Ambas as peças estão publicadas pela Giostri Editora.
Agora, invade as coxias, ambiente que domina, já que está há mais de três décadas à frente da Morente Forte, produtora e relações públicas teatral com sua sócia Selma Morente — a dupla é uma das lendas vivas do teatro paulistano.
Célia conta ao Blog do Arcanjo que seu novo espetáculo foca na intimidade de três atrizes e uma camareira durante o preparo de um espetáculo, trazendo aos olhos do público o que se passa nos bastidores em forma de ficção. Já que ela não abre mão do poético em sua dramaturgia.
“A camareira Otila mostra a escala das relações humanas e sociais de classes. Essas relações nos mostram como nossa sociedade é formada por contradições e a possibilidade de uma boa convivência quando enxergamos o outro”, pontua a dramaturga, defensora de que integrar é preciso.
“Só o artista é capaz de escancarar o jogo de poder, onde nós, alguma vez, já assumimos o papel de dominadores diante de personagens invisíveis em nosso cotidiano, que trabalham por sua sobrevivência, ao nosso lado, sem que tenhamos um olhar sensível e generoso, ao menos”.
Célia Forte, dramaturga
4 atrizes, 4 mundos
E grandes atrizes não faltam na peça de Célia Forte. Vera Mancini interpreta a diretora Vanda, enquanto que as atrizes são interpretadas por Maria Pinna, como Helena, e Carol Rainatto, na pele de Sara. Já a camareira Otila é interpretada por Claudia Missura, que fez sucesso na TV como a empregada Janaína na novela Avenida Brasil.
No comando de tudo está o diretor Elias Andreato, com quem Célia Forte tem décadas de amizade e parcerias nos palcos. Ele avalia que o encontro na coxia do teatro acaba por revelar quatro diferentes mundos.
“Célia, desenha quatro mulheres, com suas particularidades e diferenças sociais, falando de sonhos, realidade e inquietações, que tornam a dramaturgia um veículo de reflexão e atualidade tão necessária para os tempos modernos”, defende. E acrescenta: “Sabemos que os caminhos e conquistas da mulher, se fazem cada vez mais necessários”.
E uma boa pitada do humor típico de Célia Forte se faz presente em sua terceira peça encenada. “A autora, tem o dom do humor, acrescido de pungência quando fala do universo feminino. Benditas mulheres é o olhar delicado da autora, sobre a vida dessas trabalhadoras do teatro, usando o seu ofício para brincar com suas dores e loucuras”, define Elias Andreato.
E a peça não deixa de homenagear, de certa forma, sua própria camareira, Cristiane Ferreira. Esta, uma personagem da vida real mesmo.
Benditas Mulheres
Sextas e sábados, 21h30, no Teatro Renaissance (al. Santos, 2233, São Paulo). R$ 40 e R$ 80. Retire seu ingresso!
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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