Crítica | Grupo Gattu forma público do futuro com Chapeuzinho Vermelho inteligente e ágil
Chapeuzinho Vermelho do Grupo Gattu aposta na conscientização ecológica com elenco talentoso no Teatro do Sol
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Fotos BRUNO POLETTI
@brunopoletti
Quem chega ao Teatro do Sol, sede do Grupo Gattu, no bairro de Santana, zona norte de São Paulo, logo se sente em casa. Afinal, a companhia dirigida por Eloisa Vitz, atriz com respeitável trajetória em nossos palcos, sabe como ninguém a arte de receber seu público, demonstrando serem anfitriões acolhedores e atentos. E a preocupação vai além de receber uma só vez, mas em formar público constante que possibilite a longevidade do teatro. Algo realmente louvável.
Os espectadores que vão ao Teatro do Sol conferir a encenação de Eloisa Vitz para o clássico Chapeuzinho Vermelho com o Grupo Gattu, repleta de pitadas de contemporaneidade, sente isso de cara, assim que sobe as escadas que levam à pequena e acolhedora sala de poltronas acolchoadas vermelhas.
Já no hall, a própria diretora, atenta a tudo, e o ator Jailton Nunes, um verdadeiro gentleman, recebem o público, oferecendo água e café antes de o espetáculo começar. Isso já faz todo mundo se sentir completamente acolhido e à vontade, como se estivesse na sala de visitas de um familiar querido. Afinal, a elegância mora nos pequenos detalhes.
E o espetáculo é uma grata surpresa. Dinâmico e com o texto ágil de Eloisa Vitz, dona de ironia fina e olhar atento para o aqui e agora em sua dramaturgia, Chapeuzinho Vermelho logo captura crianças e adultos, fazendo com que a encenação consiga dialogar ao mesmo tempo com diferentes faixas etárias. O que é um mérito tanto para a diretora quanto para sua assistente, Miriam Jardim, além de toda equipe.
Elenco entregue
E isso não seria possível sem um elenco totalmente entregue. Mariana Fidelis vai muito bem como a Chapeuzinho Vermelho dona de suas próprias vontades e fã de pop rock, desenvolvendo uma atuação repleta de sutilezas.
Daniel Gonzales, como Ian, alienígena que vem do espaço para ajudar a protagonista e alertar pela preservação da natureza, tema crucial às novas gerações, ganha a todos com presença cênica incontestável.
Na pele da debochada Vovó, Lilian Peres traz seu farto carisma para o palco, bem como Isaque Patrício, ator potente e repleto de maneirismos, faz de seu protetor da floresta Joel uma pérola na encenação, com divertidas pitadas de escoteiro bom moço com trejeitos de Silvio Santos.
Breno Floriz mostra versatilidade como um inusitado saci, além de compor as cenas coletivas com evidente paixão. Miriam Jardim cumpre com louvor seu lobo mau, desmistificando o personagem mal quisto ao longo da história e deixando o mesmo não tão mal assim.
Na parte técnica, a cenografia e figurinos de Heron Medeiros cumprem o funcional, enquanto que a enérgica e inteligente trilha assinada por Eloisa Vitz é quem mais brilha — a diretora também foi responsável pelo desenho de luz, operada por Cláudio Brandão, que fica mais potente quando estabelece recortes e nuances, dando profundidade poética à cena.
Outro grande destaque da montagem é apresentar, antes do espetáculo, um vídeo educativo contando, na voz de Roberto Bueno e ilustrado com os próprios integrantes do Gattu, como o teatro é feito nos bastidores e qual é a função de cada artista no espetáculo. A ação pedagógica aproxima e desperta interesse pelas artes cênicas em novatos no ramo. Até porque o pedantismo, comuns a certos grupos paulistanos, nunca combinou com o Grupo Gattu, que quer mesmo é se comunicar com o maior número de pessoas possível. No que faz muito bem.
Ao retomar o teatro presencial construindo diariamente a formação do público do futuro, o Grupo Gattu reitera sua expertise de duas décadas de trajetória artística e injeta fôlego novo ao teatro que está por vir, desenvolvendo novos espectadores. Este feito é digno de efusivos aplausos.
Chapeuzinho Vermelho, de Eloisa Vitz com Grupo Gattu
Avaliação: Muito Bom ✪✪✪✪
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
Fotos Bruno Poletti
Onde: Teatro do Sol – Rua Damiana da Cunha, 413, Santana, São Paulo
Quando: Sábados e domingos, 15h, 50 min. de duração
Quanto: Grátis. Reserva pelos telefone 11 95679-2526 e 3791-2023
Agradecimento: Flávia Fusco Comunicação
Cenas do espetáculo Chapeuzinho Vermelho do Grupo Gattu
Blog do Arcanjo entra no camarim de Chapeuzinho Vermelho do Grupo Gattu no Teatro do Sol
Blog do Arcanjo mostra quem já aplaudiu Chapeuzinho Vermelho do Grupo Gattu no Teatro do Sol
Siga @miguel.arcanjo
Ouça Arcanjo Pod
Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
© Blog do Arcanjo – Cultura e Entretenimento por Miguel Arcanjo Prado | Todos os direitos reservados.