Lauanda Varone volta ao teatro para viver dores e delícias dos 30 anos
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Lauanda Varone vive nos palcos os conflitos da chegada dos 30 na pele de Katia, personagem da peça 2 Palitos – 3.0, com texto e direção de Luccas Papp, que faz última sessão neste domingo (31), 18h, no Teatro das Artes, em São Paulo (retire seu ingresso). Gaúcha radicada em São Paulo há uma década, a artista já esteve em peças como O Casal Palavrakis (2012-2013), da espanhola Angelica Liddell sob direção de Reginaldo Nascimento, e Hermanas Son las Tetas (2015-2016), texto e direção do argentino Juan Manuel Tellategui que participou do internacional Festival de Teatro de Curitiba. A atriz conversou com exclusividade com o Blog do Arcanjo sobre seu atual momento, os 30 e a emoção da retomada dos palcos. Leia com toda a calma do mundo.
Miguel Arcanjo Prado – Como é fazer uma peça sobre crise dos 30 estando nesta faixa etária?
Lauanda Varone – A peça, nessa versão que estamos fazendo, é uma atualização do texto original, que como diz o Luccas, amadureceu junto com o elenco. As personagens são muito reais, lidando com questões super pertinentes e que caberiam pra qualquer pessoa. Eu não me vejo nas frustrações da Katia, minha personagem, mas me reconheço em questões de outras personagens da peça. Eu sempre imaginei como queria estar aos 30, com a vida “resolvida”, com uma carreira bem estabelecida, falando dois idiomas, ganhando super bem, phd. Aí, olho pra minha vida hoje e vejo que tudo que eu imaginava fez parte da minha trajetória, mas nada está concretizado como eu tinha imaginado. Não falo vários idiomas, minha carreira de atriz passou por vários percalços, parei na especialização e não ganho nem a metade do que imaginei… só que estou super bem com tudo isso (ou com quase tudo isso!) [risos]. Vejo que conquistei muitas coisas que nem imaginava e que hoje estou muito feliz com 32, muito mais do que com 20!
Miguel Arcanjo Prado – Como é sua personagem?
Lauanda Varone – Minha personagem é a Katia, noiva do André, com quem namora há 12 anos. Um relacionamento cheio de revelações, de altos e baixos, onde a Katia precisa lidar com as frustrações e se reinventar pra ser feliz. Ela é super estouradinha, apaixonada pelo noivo e morre de ciúme dele. Criar a Katia, que tem uma personalidade bem diferente da minha, foi como montar um quebra-cabeças onde cada peça veio de um lugar. Procuro ser muito observadora na vida, mesmo quando não estou em processo de criação, justamente pra criar um “acervo” e ter material pra compor. A gestualidade da Katia vem uma pessoa x, o jeito de falar vem de outra… aí fui juntando, vendo o que cabia nas pistas que o texto do Luccas dava e surgiu a Katia.
Miguel Arcanjo Prado – O que aprendeu com os 30?
Lauanda Varone – Aprendi a dar valor e a olhar com orgulho pras pequenas conquistas, e isso me ajudou muito a não ter aquela crise do “trintei”. Almejo muitas coisas, mas sou feliz a cada passo que dou pra chegar lá. Com 20 eu só queria correr pra chegar logo “lá” e muitas vezes não dei valor paras conquistas menores.
Miguel Arcanjo Prado – Como está sendo esta retomada do teatro para você?
Lauanda Varone – Nada se compara a uma estreia! E agora vale especificar: estreia no palco, com público, com gente ali, viva, com o coração batendo no mesmo metro quadrado! Acho que é a melhor sensação que existe! E, pra mim, voltar tem um sabor a mais, porque eu já estava distante do palco há alguns anos. Na verdade foi um presente voltar junto com a retomada do teatro “pós” pandemia (que sabemos que não acabou!). Foi incrível o que os artistas fizeram nesse dois anos, foi como chegar no fundo do poço e cavar um túnel pra sair de lá, foi surpreendente pra mim o que vi online, mas teatro, TEATRO, acontece olho no olho, sem intermédio de câmera, computador, celular, é pra estar ali, ao vivo, com o coração pulsando junto com o público que a gente estuda, abdica de muitas coisas, fica meses ensaiando.
Miguel Arcanjo Prado – Ouvir os aplausos tem sabor especial?
Lauanda Varone – Ouvir o aplauso do público de novo, ouvir as pessoas falando sobre o espetáculos logo que ele acaba, ver no olho do público que a mensagem que queríamos passar chegou, que fez sentido pra ele estar ali, é incrível! Sentir isso de novo é uma injeção de energia para continuar. E é incrível para os dois lados! Ver que o público está voltando ao teatro também e o quanto isso está sendo emocionante para quem ficou longe da plateia todo esse tempo, é incrível. Quando acaba cada sessão, eu saio com a certeza de que é isso que quero pra minha vida pelos próximos 30 e mais 30 e mais 30!
Miguel Arcanjo Prado – Que lições você tirou dos últimos dois anos?
Lauanda Varone – Para mim a pandemia fez dar valor pros encontros, para quem está na nossa vida hoje, para o olho no olho. Tento aproveitar cada instante com muita intensidade. Estar de novo dividindo o palco com outros artistas é até emocionante. A bagunça no camarim, os humores, o processo de cada um pra compor sua personagem, tudo isso tomou um sentido diferente, não é mais banal como antes. Sem falar no aprendizado, principalmente quando se está com artistas como a Walie Ruy, que tem uma potência linda, o Luccas Papp, que é um artista que admiro demais, como realizador de arte, e o Humberto Morais, com quem divido a cena mais diretamente. Claro, seguimos os protocolos de segurança para poder estar em cena tranquilos de que estamos seguros, porque acima de qualquer coisa, precisamos sobreviver a tudo isso. É esse o maior ato revolucionário hoje em dia: sobreviver.
É esse o maior ato revolucionário hoje em dia: sobreviver.”
Lauanda Varone
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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