Que tal conhecer 10 artistas negros poderosos no Dia da Consciência Negra?

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Este 20 de novembro é Dia da Consciência Negra. De olho na importância da data, proponho algo positivo e que realmente desperte algum tipo de mudança neste país de forte racismo estrutural, no qual talentos negros costumam ter menos chance de se sobressair na mídia. Por isso, o Blog do Arcanjo apresenta a você 10 artistas negros poderosos, mas que ainda precisam ser mais conhecidos, valorizados e aplaudidos. Afinal, para mudar alguma coisa, é preciso começar. Que tal criarmos novos ídolos? Olha só quanta gente boa!

Bia Nogueira
@bianogueiraoficial
A cantora mineira e produtora cultural incansável criou o Coletivo IMuNe – Instante da Música Negra, que reúne seis jovens cantores de Minas Gerais. Além disso, a multiarista ainda atua como atriz, diretora, artivista do feminismo e diretora musical de grandes espetáculos, como o musical Madame Satã, sucesso de público e de crítica com o Grupo dos Dez por todo o Brasil. Agora, faz todo mundo dançar com o funk libertário Quem É Você, no qual canta o provocante verso: “Venha me beijar que eu não sou fascista”. Poderosa.

Claudia Nwabasili e Roges Doglas, da Cia Pé no Mundo
@ciapenomundo
O casal de bailarinos fundou a Cia. Pé no Mundo de dança, que estreou em 2018 com o espetáculo Arquivo Negro, evocando referências como a escritora Carolina Maria de Jesus. Diante da pesquisa robusta, ganhou o Fomento à Dança da Cidade de São Paulo, que apoia pesquisas artísticas inovadoras. Nesta pandemia, a dupla não parou e criou a websérie Traduções Simultâneas, disponível no canal da Cia Pé no Mundo no Youtube, na qual fazem sua dança dialogar com músicos, bailarinos e intelectuais negros contemporâneos. Antenadíssimos.

Coletivo IMuNE
@coletivoimune
Com o lema de seu maior hit, Podemos Fazer, já visto por quase 100 mil pessoas no YouTube, o grupo de Minas Gerais reúne seis diferentes músicos na batida perfeita da música negra. E a união faz a força quando junta Bia Nogueira, Cleópatra, Gui Ventura, Maíra Baldaia, Raphael Sales e Rodrigo Negão. Com uma forte pegada pop, figurinos impecáveis e um som altamente afrofuturista, o IMuEe é uma fábrica de hits e clipes que hipnotizamo o público jovem. Que não é nada bobo.

Letícia Soares
@letsoartes
Depois de fazer coro em grandes musicais, a grande atriz e cantora teve sua chance de brilhar nas superproduções ao ser escolhida para protagonizar A Cor Púrpura, sucesso de público e de crítica que foi interrompido nos palcos por conta da pandemia. Além do teatro, desenvolve em paralelo sua carreira de cantora, na qual solta o vozeirão em hits de nomes consagrados como Whitney Houston e Aretha Franklin. Deixando todo mundo boquiaberto, é óbvio.

Lud-J
@lujoficial
A cantora de voz que faz estremecer a Terra nasceu em Salvador da Bahia e foi revelada ao Brasil no The Voice, no qual fez bonito no time de Carlinhos Brown. Depois, foi abraçada pelos musicais e viveu nos palcos o mesmo papel que Whoopi Goldberg em Ghost, O Musical. Também foi protagonista de Madagascar, entre outras superproduções. Agora, atualizou o nome artístico de Ludmillah Anos para Lud-J e aposta em sua carreira de cantora, lançando clipes como Vou Erguer-me e Raízes, Uma História, no qual evoca sua robusta ancestralidade.

Maurício Pazz
@mauriciopazzmusic
O músico paulistano que vai do choro ao jazz com facilidade tem fala mansa e qualidade musical sensível. Isso se une a uma poesia inteligente, o que faz dele um dos possíveis herdeiros do jeito Gilberto Gil de ser, de compor, de existir. Multinstrumentista disputado, já esteve no palco ao lado de nomes como Chico César e Luedji Luna, além de comandar a série de documentários Cor do Som – Memórias da Música Negra. No momento, compõe sem parar, produzindo material farto para seu primeiro álbum, previsto para 2021. Aguardemos ansiosos.

Raphael Sales
@raphaelsalescantautor
O mineiro de Contagem tem musicalidade e poesia que o conecta de forma íntima ao rio que nasce em Milton Nascimento e o Clube da Esquina e serpenteia as montanhas de sua terra. Altamente centrado nos elementos da natureza, seu disco de estreia, Fundamental, é uma das sete maravilhas da nova música brasileira. Tanto que emplacou de forma espontânea a música Águas na playlist de muita gente. Não bastasse, o afoxé virou hino no Carnaval de Rua de Belo Horizonte, cantado pelo lisérgico e azulado bloco Pena de Pavão de Krishna, do qual é um dos cantores. Seu novo hit, Pra Limpar Terreiro, evoca as religiões de matriz africana e já foi visto mais de 20 mil vezes no YouTube. Caminhos abertos ao banho de pipoca.

Rubia Divino
@rubiadivino
A cantora de Maringá, Paraná, tem uma voz repleta de força e representatividade, além de um grave que a torna herdeira natural de Zezé Motta na música brasileira. Transborda, seu primeiro disco, foi financiado coletivamente pelos fãs que querem vê-la despontar no showbusiness. Rubia faz shows disputados na cena artística paranaense, sempre causando enorme admiração nos espectadores, que costumam aplaudi-la em êxtase. Ela merece tornar-se ídolo nacional. Talento não lhe falta.

Simone Magalhães
@simoblues_
A artista faz Curitiba tremer quando solta seu vozeirão. Seus pés assentados no blues são o ponto forte da balada Eu Vou Voltar a Ser Mulher, uma ironia fina altamente feminista que diz: “Eu vou voltar a ser mulher, vou pregar botão, não quero mais ser sapatão, não toco mais um violão, eu vou voltar a ser mulher”. E Simone não tem medo de também ser leve e pop, mesmo quando faz questionamentos profundos, caso da implacável canção-questionamento Por Que Não Tem Paquita Preta?, que ganhou clipe-festa com seus amigos da Selvática Ações Artísticas, um dos grupos mais desbundados do teatro brasileiro. Simone é do tipo artista de verdade, que vive a arte na vida. Um tipo que já não se fabrica mais. Então, aproveitemos, e muito, dessa mulher maravilhosa.
Texto publicado originalmente no Huffpost Brasil.
Editado por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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