Woody Allen diz que avanço do streaming ‘será o fim do cinema’ e que pode migrar para o teatro
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Um dos mais amados (e também odiados) diretores de cinema do mundo pode migrar para o teatro. Isto é o que cogita Woody Allen aos 86 anos após fazer seu 49º filme, O Festival do Amor, que acaba de chegar aos cinemas. Ele disse que pode apenas fazer mais um filme, o 50º. “Será que cinquenta são suficientes? Quem sabe?”, deixou no ar.
Talvez eu queira, em algum momento, migrar para o teatro. Posso usar minhas habilidades para fazer uma peça […] “É mais provável que eu faça algo para o teatro, onde ainda é possível reunir uma plateia com centenas de pessoas para assistir à mesma história, ao mesmo tempo. É o tipo de experiência que me interessa, que me atrai.
WOODY ALLEN
cineasta
As declarações foram dadas à jornalista Raquel Carneiro, da revista Veja, e que merece ser lida na íntegra. Allen confessou que até pensou em escrever livros, mas que desistiu ao se lembrar que “as pessoas mal leem livros atualmente”.
Até os livros estão em extinção, as pessoas agora querem ouvir livros. Dá para acreditar? Duvido que haja algo mais irritante do que ouvir um audiobook em vez de ler um livro de verdade.
WOODY ALLEN
cineasta
‘Será o fim do cinema’
O diretor nova-iorquino está decepcionado com a crise que vive o cinema, por conta do avanço do streaming, implacável após a pandemia e que mudou a forma como as pessoas consomem os filmes.
“Eu entendo, ver um filme em plataforma de streaming é mais cômodo e mais barato. Mas, desse jeito, será o fim do cinema como o conhecemos. Então, não tenho certeza se quero continuar trabalhando nesse esquema.
WOODY ALLEN
cineasta
Streaming engole o cinema
Woody Allen está irritado, porque agora seus filmes ficam poucas semanas em cartaz nos cinemas, e logo são despejados nas plataformas de streaming, mesmo ele sendo um nome consagrado. “Não importa se você é o Steven Spielberg, ou o Martin Scorsese, ou o Woody Allen”, informou.
Tudo agora vai direto para o streaming. Quando comecei, não era esse o acordo. Ficar em casa de pijama e ligar a TV é legal, mas é outro tipo de experiência. No cinema, você sai de casa, se arruma, entra numa sala com desconhecidos e compartilha emoções, se surpreende, fica até o final. Não pega o controle e interrompe o filme do nada, porque, enfim, quer ir ao banheiro ou fazer pipoca. Você organiza sua agenda para se adequar à ida ao cinema, e não o contrário.
WOODY ALLEN
cineasta
‘Apenas três semanas em cartaz’
O Festival do Amor foi feito em parceria com o Festival de San Sebastián, no País Basco, Espanha. O diretor de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977) lamenta que o lançamento atual nos cinemas durará pouco tempo. “O tipo de filme que faço fica apenas três semanas em cartaz, para em seguida ir para o streaming”, lamentou, dizendo que em alguns casos os filmes já são lançados diretamente nos cinemas e TV ao mesmo tempo. E avisou: “Não, eu não quero isso”.
Sou do tempo em que um filme não era sufocado pelos arrasa-quarteirões e ficava em cartaz nos cinemas por tempo suficiente para crescer no boca a boca. Isso demora, pois são filmes com verbas pequenas, que não gastam milhões em marketing. É um público que vai ao cinema porque quer, não é uma escolha aleatória na TV.
WOODY ALLEN
cineasta
‘Cancelamento vai passar’
Sobre o fato de ter sido cancelado nas redes por conta de uma suposta acusação de que teria abusado da enteada, Dylan Farrow, filha de sua ex-mulher Mia Farrow, o que não foi comprovado pelas investigações, Woody Allen diz que “a cultura do cancelamento é estúpida e até risível”. E afirma: “Um dia ela vai passar e quem a alimentou vai olhar para trás e ficará envergonhado”. O cineasta disse que muitos atores recusaram convite para trabalhar com ele após o cancelamento. “Existem diversos atores que aderiram ao boicote, e muitos outros que ainda querem atuar nos meus filmes e é com esses que vou ficar”.
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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