Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Em tempos tão sombrios para o audiovisual nacional, o Blog do Arcanjo tem enorme satisfação em anunciar a reabertura do Cine Bijou, agora chamado de Satyros Bijou – Sala Patricia Pillar, pela Cia. de Teatro Os Satyros, fundada por Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez, na próxima terça, 25 de janeiro, aniversário de 468 anos de São Paulo. Trata-se de um verdadeiro presente à metrópole e à cultura nacional como um todo, sobretudo ao setor cinematográfico, cada vez mais carente de salas para exibir as produções nacionais independentes.
Sala Patricia Pillar
Reformada, a sala histórica localizada na Praça Roosevelt, 172, centro paulistano, ganha o nome de Sala Patricia Pillar, em merecida homenagem à atriz brasiliense de 58 anos e que é antiga colaboradora do Satyros.
Conhecida do grande público por trabalhos emblemáticos na TV como nas novelas O Rei do Gado (1996) e A Favorita (2008), Patricia Pillar tem carreira de respeito no cinema. Ela protagonizou importantes filmes nacionais, como o indicado ao Oscar O Quatrilho (1995), de Fábio Barreto, e a cinebiografia Zuzu Angel (2006), de Sérgio Rezende, que será exibido na noite de abertura, após o curta-metragem O Quintal dos Guerrilheiros, de João Carlos Massarolo.
“Estou muito feliz e honrada com essa novidade! A reabertura do Cine Bijou é um esforço incrível dos meus dois amigos queridíssimos, Ivam Cabral e Rodolfo Vázquez”, celebra Patricia Pillar.
Patricia Pillar lembra que o Satyros Bijou é uma sala histórica não só para São Paulo, como para o cinema brasileiro e mundial, que já abrigou estreias de filmes de de Stanley Kubrick, Luis Buñuel, Ingmar Bergman, Bergman, Glauber Rocha, Jean-Luc Godard, François Truffaut e Neville de Almeida.
“O Cine Bijou foi uma das primeiras salas de cinema de arte de São Paulo e foi um pequeno cinema especializado em filmes de vanguarda, que funcionou na Praça Roosevelt de 1962 a 1996. Frequentado por cinéfilos, estudantes, intelectuais, artistas, militantes de esquerda, teve um papel relevante no circuito paulistano, especialmente durante a ditadura, quando era um cinema de resistência diante da censura”, rememora a homenageada.
Cinema para todos
“Bijou em francês significa joia”, recorda Ivam Cabral, contando que toda a programação respeita a memória vanguardista do espaço. Ele também revela os saudosistas se sentirão em casa, já que a arquitetura base foi mantida pela reforma. A sala de 77 lugares teve suas poltronas vermelhas, com detalhes em costura, restauradas, assim como as suas paredes e teto, desenhados em gesso. “O local também conta com um pequeno palco, que receberá eventos de diversas linguagens”, adianta.
Rodolfo García Vázquez diz que a ideia é preservar “um espaço alternativo, democrático e acolhedor para o convívio do público e artistas”. E que sua programação estará “voltada à exibição regular de filmes de arte e autorais de todas as partes do mundo, incluindo inovações e experimentações ligadas ao audiovisual, assim como a participação nas principais Mostras e Festivais que acontecem anualmente na cidade”.
Livros sobre cinema no hall
Uma das novidades do espaço é a parceria com a Editora Giostri, que, assim como já acontece no Espaço dos Satyros e no Espaço dos Parlapatões, na Praça Roosevelt, manterá no hall de entrada do Satyros Bijou um café bar e uma pequena livraria focada no audiovisual. “Um presente para cinéfilos e amantes da sétima arte”, define a dupla.
Programação especial
O Satyros Bijou terá uma programação robusta e especial, que contará com variadas sessões temáticas e grande interação com o público. “Queremos com estas ações transformar o Satyros Bijou em um espaço único, um bunker de resistência, um espaço para quem consome e faz cinema, um espaço de trocas e conexões, um espaço que seja a cara de São Paulo”, afirma Rodolfo García Vázquez.
Abertura com estrelas
A semana de abertura, de 25 a 30 de janeiro, promete encontro de grandes nomes no Cine Bijou, que exibirá filmes de Laís Bodanzky, Tata Amaral, Helena Ignez, Kleber Mendonça Filho, Felipe Bragança, Leonardo Martinelli, Andradina Azevedo, Dida Andradina, Bruno Autran, Gil Baroni, Leo Tabosa, Amir Escandari, Claudio Borrelli, Lufe Bollini, Mariana Yomared, Joel Pizzini, Paulo Sacramento, Gustavo Vinagre, Julia Katharine, Sabrina Fidalgo, Nara Normande, Tião, Fabio Leal, Ivam Cabral, Rodolfo García Vázquez. A semana será dividida de forma temática, trazendo debates pós-filme, com pautas de relevância cultural e representatividade, como o cinema independente, o cinema autoral e a presença da diversidade e das mulheres no cinema.
De quinta a domingo
“O Satyros Bijou será um espaço múltiplo, como celeiro de debates, apresentações teatrais e musicais, sem perder sua essência de cinema de rua”, avisa Ivam Cabral. Rodolfo García Vázquez completa que serão “sessões gratuitas ou a preços populares, com curtas, médias e longas, sempre de quinta a domingo”.
Festival Satyricine Bijou
Durante o mês de fevereiro, serão exibidos os filmes vencedores do Festival Satyricine Bijou, iniciativa da Satyros Cinema de valorização do cinema independente, que foi realizada em setembro de 2021, de forma digital.
O Filme da Minha vida
O Satyros Bijou terá projetos especiais em sua programação. “Imagine poder convidar os seus amigos para uma sessão exclusiva onde você exibirá o filme que mais te marcou e depois falar sobre ele”, diz Ivam Cabral, para explicar qual é a proposta da Sessão O Filme da Minha Vida, uma das iniciativas para a reabertura do Bijou.
No Escuro
Outra sessão especial será a No Escuro, com exibições em horários alternativos, que convida o público a comparecer ao cinema sem saber qual filme irá assistir. Uma surpresa a cada sessão.
Cinema Falado
Sempre às quintas-feiras, o projeto Cinema Falado propõe debates temáticos após a exibição de filmes.
Bijou quase virou igreja
O cine Bijou já havia sido um teatro, após deixar de ser cinema 27 anos atrás. Quando o espaço vagou, em 2019, havia o perigo de que se tornasse uma igreja evangélica. Na missão de preservar o local e sua memória cultural, Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez, da Cia. de Teatro Os Satyros, que é vizinha ao cinema, abraçaram o espaço com o sonho de devolver à cidade um dos poucos cinemas de rua da capital paulista.
Com os altos custos para a revitalização do cinema, o grupo contou, além da aplicação de recursos próprios, com a ajuda de personalidades como Patrícia Pillar, Maria Bonomi, Walcyr Carrasco, Maria Helena Peres, Carlos Giannazi, Celso Giannazi, e personalidades anônimas, que colaboraram de forma direta ou através de campanha de financiamento coletivo, para levantamento e modernização da sala. A reabertura da sala precisou ser adiada por dois anos, por conta da pandemia.
Satyros Cinema
A gestão da Sala Patricia Pillar é feita pela produtora audiovisual Satyros Cinema, braço cinematográfico do coletivo Os Satyros. Fundado por Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez em 1989, o grupo tem renomada e premiada carreira no teatro, carregando em seu currículo os maiores prêmios da categoria e sendo parte fundamental no processo de revitalização da Praça Roosevelt.
A Satyros Cinema iniciou a sua atuação com a experiência de Cabral e Vázquez em documentários, séries e novelas, em 2012, com a produção de seu primeiro longa-metragem, Hipóteses para o Amor e a Verdade. Em 2017, deu início ao seu segundo longa, A Filosofia na Alcova, que ficou em cartaz durante 61 semanas no Cine Belas Artes, tornando-se um dos títulos mais longevos da sala e da história do cinema nacional. Em 2021, o Satyros Cinema produziu o seu terceiro longa-metragem The Art of Facing Fear, que está em fase de finalização e deverá ser lançado em 2022 no Satyros Bijou.
Satyros Bijou
Onde: Praça Roosevelt, 172, Consolação, São Paulo
Telefone: 11 3255 0994 e 3258 6345
Informações: www.satyros.com.br
Siga @miguel.arcanjo
Ouça Arcanjo Pod
Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
© Blog do Arcanjo – Cultura e Entretenimento por Miguel Arcanjo Prado | Todos os direitos reservados.