Palco histórico, Teatro Princesa Isabel corre risco de extinção no Rio
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
O Teatro Princesa Isabel, um dos palcos mais importantes da história do teatro brasileiro, corre o risco de extinção. A icônica sala localizada na avenida de mesmo nome há 57 anos no bairro do Leme, zona sul do Rio, não possui recursos para sua manutenção e não conta com qualquer tipo de ajuda governamental.
O espaço abrigou estreias históricas, como de Roda Viva, peça de Chico Buarque dirigida por Zé Celso com o Teatro Oficina em 1968, que contou no elenco com nomes como Marieta Severo, Marília Pera, Pedro Paulo Rangel e Zezé Motta. Artistas como Fernanda Montenegro, Bibi Ferreira, Tônia Carrero, Sergio Britto, Paulo Autran e Nathalia Timberg também encenaram diversos espetáculos no local.
A previsão era que o espaço reabrisse em 1º de abril com uma montagem infantil, após dois anos de portas fechadas. Contudo, as condições do prédio, com infiltrações e necessidades de manutenção, não permitem.
Em entrevista à jornalista Priscilla Aguiar Litwak, publicada pelo jornal O Globo neste sábado (19), Orlando Miranda, 89 anos, fundador do Teatro Princesa Isabel, diz que a situação é difícil.
Ele conta com a ajuda de Isabel Miranda, historiadora e sua filha, para tentar recuperar a histórica sala inaugurada em 1965, bem como preservar sua história.
O pedido de ajuda foi feito nas redes sociais, com a hashtag #sosteatroprincesaisabel. O objetivo foi comover os governantes fluminenses e cariocas a ajudar o espaço, além de membros influentes da sociedade civil e da classe artística.
O aluguel do Teatro Princesa Isabel custa R$ 17 mil e voltará a ser cobrado na íntegra a partir de abril — nos dois anos de pandemia o dono conseguiu reduzir o valor. Além disso o espaço tem os custos dos salários de seus dois funcionários. O administrador Orlando Miranda ainda afirmou ao jornal O Globo que pretende contar a história do espaço em um livro assim que isso for possível.
Quando vejo uma foto em que estou com um elenco de mais de dez pessoas e me dou conta de que todos estão mortos, eu penso: ‘Não posso tirar uma dúvida com ninguém ou relembrar algo’. É muita história para contar, e eu tenho tudo documentado porque sempre tirei foto de tudo e guardei tudo. E está chegando o momento de compartilhar essas histórias todas com mais gente. Não podemos deixar esse passado morrer também. Se na minha idade Deus permitiu que eu sobrevivesse a essa pandemia, acredito que tenha sido por um motivo: reerguer o Teatro Princesa Isabel.
Orlando Miranda
fundador do Teatro Princesa Isabel
Tombamento pode ajudar
A deputada estadual fluminense Martha Rocha (PDT) fez um Projeto de Lei, publicado no último dia 3 no Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro, para tombar o imóvel onde está situado o Teatro Princesa Isabel como Patrimônio do Estado do Rio, por interesse histórico, artístico, arquitetônico e cultural. Há outro projeto de lei em esfera municipal também, pedindo a mesma coisa: o tombamento da sala.
O Princesa Isabel é um dos últimos teatros de rua do Rio. Ele inaugurou a bossa nova nos palcos, recebeu espetáculos como Roda viva, Botequim, O magnífico Simonal e Alta rotatividade. Passaram por ele diretores como Gianfrancesco Guarnieri, Gianni Ratto e Luís Carlos Miele e gigantes na arte de interpretar como Procópio Ferreira, Marília Pêra, Rogéria e Glauce Rocha, entre muitos outros. Como meu pai diz, o teatro não é dele, é uma riqueza cultural de todos, e deve ser preservado.
Isabel Miranda
historiadora e filha do fundador do Teatro Princesa Isabel
SOBRE ISABEL MIRANDA
Isabel é graduada em História (PUC/Rio) e possui Especialização em Gestão e Produção Cultural (Fundação Getúlio Vargas). Trabalha com concepção e desenvolvimento de projetos de memória e de pesquisa histórica para produtos culturais tais como publicacões, seminários, eventos e documentários. É parecerista da Lei Rouanet para a área de patrimônio; trabalhou anos como programadora do Espaço Cultural CEDIM (Conselho Estadual dos Direitos da Mulher).
SOBRE ORLANDO MIRANDA
Homem de teatro e dirigente do órgão cultural mais atuante do período de redemocratização, Orlando Miranda é, aos 88 anos de idade, dono de uma das mais expressivas trajetórias do teatro brasileiro. Suas atuações como proprietário do Teatro Princesa Isabel e como gestor público de vigorosa atuação à frente do Inacen durante 11 anos, são uma prova disso. Seu comprometimento com a liberdade de expressão, seus relatos sobre sua convivência com nomes como Plínio Marcos, Glauce Rocha, Lélia Abramo, Ziembinski e Nelson Rodrigues; seus relatos sobre teatro, circo, dança, rádio, ideologias políticas, censura e ditadura; são alguns dos temas que se confundem com a história recente da cultura nacional.
SOBRE O TEATRO PRINCESA ISABEL
Localizado na Av. Princesa Isabel, 186, no Leme, zona sul do Rio de Janeiro, o Teatro Princesa Isabel foi inaugurado em 1965. Com capacidade para 300 lugares, o local é palco para peças teatrais e shows de todos os gêneros musicais. Já recebeu nomes como Procópio Ferreira, Zé Celso, Zezé Motta, Marília Pêra, Jardel Filho, Marieta Severo, Paulo Autran, Jô Soares, Francisco Milani, Millôr Fernandes, Rogéria, Agildo Ribeiro e Iris Bruzzi, entre outros grandes nomes do teatro brasileiro.
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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