O produtor cinematográfico brasileiro Rubens Gennaro celebra mais um feito internacional: a estreia no Brasil de Águas Selvagens, nesta quinta, 12 de maio.
O longa, uma coprodução Brasil-Argentina comandada por ele e sua sócia Virginia Moraes, com a produtora paranaense Laz Audiovisual, no mercado desde 1989, traz elenco multinacional e tem sua trama policial, de gênero neo-noir, focada na Tríplice Fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai. O pano de fundo é o tráfico humano investigado por um ex-policial.
O diretor argentino Roly Santos comanda a superprodução cinematográfica rodada em grande parte no Hotel La Dolce Vita, em Tijucas do Sul, no Paraná, e com cenas filmadas em Foz do Iguaçu. Ela está baseada no livro El Muertito, do também argentino Oscar Tabernise, autor do roteiro.
Protagonizado pelo ator uruguaio Roberto Birindelli, na pele do investigador argentino, e pela atriz brasileira Mayana Neiva, como uma enigmática mulher, o longa falado em castelhano e português ainda conta no elenco principal com os argentinos Juan Manuel Tellategui, Daniel Valenzuela, Mausi Martínez, Mario José Paz, o uruguaio Nestor Núñez e os brasileiros Allana Lopes, Leona Cavalli, Luiz Guilherme e Anastácia Custódio, entre outros.
Nesta exclusiva entrevista ao Blog do Arcanjo, o produtor fala sobre o processo de se fazer um filme em coprodução internacional, além de lembrar a parceria com o astro de Hollywood Anthony Quinn, com quem produziu o longa Oriundi em 2000.
Leia com toda a calma do mundo.
Miguel Arcanjo Prado – Qual a importância de produzir um filme que trata de temas tão importantes? Rubens Gennaro – O filme aborda problemas fronteiriços entre nossos países e são problemas graves para ambos os lados, que ao longo dos anos insistem em não querer resolvê-los, pois fingem não ter consciência do tráfico internacional de crianças e pessoas. E, para tais, nem a Argentina nem o Brasil têm métodos e ou políticas públicas eficazes para conter esses crimes contra a infância e a juventude.
Miguel Arcanjo Prado – O filme vai ganhar nome diferente no Brasil? Já tem alguma previsão de estreia brasileira? Rubens Gennaro – O filme na Argentina se chamou Agua dos Porcos e estreou em 2021 no streaming Cine.Ar por lá. Aqui ele tem o título de Águas Selvagens, considerando a beleza e os componentes hídricos da região fronteiriça, já que o título argentino refere-se às “las idiosincrasias argentinas”. O filme no Brasil está sob a administração de lançamento e distribuição da Imagem Filmes, que o coloca nos cinemas a partir desta quinta.
Miguel Arcanjo Prado – Como é trabalhar com um elenco multinacional? Como vocês escolheram estes nomes? Rubens Gennaro – É uma experiência de paciente aprendizado e contínua interação. Nossas circunstâncias nos condicionaram a buscar as parcerias com o modelo de cinema argentino, pois entendemos que os modelos brasileiro; carioca way of life e ou o paulistano yuppie , para nós são conceitos de metrópoles já esgotados que são excludentes e jamais abordaram temas regionais com os nossos países limítrofes. O Brasil tem muitos outros brasis. Há uma civilização no Mercosul e nesta há brasis! Escolhemos o elenco dentro da disponibilidade técnica, artística e a agenda de cada um. Sempre de comum acordo entre as produtoras. E cumprindo as formalidades legais da Ancine e do Incaa.
Miguel Arcanjo Prado – O que diz do trabalho do diretor argentino Roly Santos neste filme? Rubens Gennaro – Roly Santos nos oferece uma bagagem com conteúdo do cinema argentino e nós lhe oferecemos a nossa reciprocidade brasileira. Em um primeiro momento, bancamos toda a produção no Brasil. Ele atuou de maneira profissional e amistosa. Todas as equipes de ambos os países cresceram em interações e esforços para realizar o melhor. É um processo que começa sob muito preconceito e desconfiança, porém ao longo do trabalho cooperativo a amizade e o aprendizado se consolidam. Surge um clima de interação e cooperativismo alentador!
Miguel Arcanjo Prado – O filme é uma coprodução Brasil-Argentina. Acha que nosso cinema precisa se aproximar mais do cinema hermano, por quê? Rubens Gennaro – Morei alguns meses na Argentina de 1984 a 1985. Em San Miguel de Tucumán. Em 2000, em Washington na OEA e depois na Embaixada Brasileira lá, com Anthony Quinn, apresentamos o filme Oriundi no Kennedy Center e lá conhecemos também a Maria Kodama, viúva e herdeira de Jorge Luis Borges, que nos ofereceu autorização para filmarmos algumas obras do escritor. E também o grupo chefiado por Oscar Tabernise havia estado em Curitiba com o propósito de o Anthony Quinn ser o protagonista de um filme projeto El Arbor en Llamas, para o qual Eugenio Zanetti seria diretor argentino e a Laz Audiovisual a produtora brasileira associada ao projeto. Infelizmente, Anthony Quinn partiu deste mundo e nossos projetos em parcerias ficaram engavetados. Até que nossa amizade com o Oscar Tabernise nos trouxe o livro El Muertito e na sequência o roteiro de Aguas Selvagens/Agua dos Porcos e o diretor Roly Santos. Evoluímos o projeto nas instâncias da Ancine e Incaa desde 2015 para gravarmos em 2018 e lançarmos em 2020/21. Há tempos entendemos que o cinema argentino é o cinema latino mais aceito nos mercados internacionais após o mexicano e está em um crescente de produções. Assim, desejando aprender com os argentinos e no intuito de criarmos pontes e caminhos de coprodução latino-americanos, nos aventuramos neste sonho, que com as ressalvas da nossa difícil situação econômica e política, felizmente conseguimos realizar. Não podemos trair os anseios de parecerias fraternas entre brasileiros e argentinos. Às novas gerações de cineastas de ambos os países, espero que usufruam melhor das estradas abertas e pavimentadas que concretamos.
Miguel Arcanjo Prado – Como é a parceria com a também produtora Virginia Moraes na Laz Audiovisual? Rubens Gennaro – Virginia Moraes e eu fomos um casamento que durou 30 anos. Temos três filhos e uma neta. Nos separamos; porém, continuamos amistosos e produtivos sócios. Sou extremamente grato a ela!
Miguel Arcanjo Prado – Como você enxerga este momento delicado que vive o audiovisual? Rubens Gennaro – A terrível e dramática situação da Indústria Audiovisual Brasileira e toda a nossa Cultura em algum momento será superada, por um ressurgimento e esplendor. Temos que cumprir com nossa histórica missão de nos unirmos aos nossos similares latino-americanos e compormos uma resultante democrática, de sonhos e esperanças! Realizando, com muito trabalho, esforços, suor e algumas lágrimas… as tarefas que nos levarão a este ressurgir!