Crítica | Águas Selvagens é noir ao calor da intriga e das zonas cinzas da Tríplice Fronteira

Águas Selvagens: o ator argentino Juan Manuel Tellategui é um dos destaques do filme policial – Foto: Chaparral Pictures – Blog do Arcanjo

Por Nati Rossi
Do Filmafinnity Espanha

O filme Águas Selvagens, dirigido por Roly Santos e produzido pelos brasileiros Rubens Gennaro e Virginia Moraes, da Laz Audiovisual, em parceria com Romana Audiovisual da Argentina, e distribuído pela Imagem Filmes nos cinemas brasileiros, revive o filme noir com toques de suspense, drama e ação em uma versão mais contemporânea e sensorial.

O longa também joga com um roteiro dinâmico e complexo devido ao seu framework. O diretor argentino Roly Santos revive o novo filme noir ao inserir uma linguagem audiovisual que aposta em expor os segredos da selva fronteiriça com conotações expressionistas, personagens escorregadios e subtramas. O registro da identificação e o procedimento do crime se destacam do tema de assassinato.

Roberto Birindelli e Mayana Neiva são destaques do elenco de Águas Selvagens – Foto: Chaparral Pictures – Blog do Arcanjo

O roteiro foi escrito por Oscar Tabernise e desenvolve um texto rico; nos mecanismos em que o filme noir é narrado. O protagonista, o investigador particular Gualtieri, interpretado por Roberto Birindelli, é um personagem difícil de classificar, como todos os outros personagens: todos estão encharcados de bem e do mal. O que muitas vezes gera rejeição e até desconforto.

O submundo se manifesta em diversos temas: a rede de pornografia infantil, a violência de gênero, a relação encoberta entre poderes policiais, proprietários de terras e autoridades no exercício de lenocínio ou tráfico de drogas, tráfico de crianças, compra de bebês, pedófilos e assassinos contratados.

O diretor de fotografia Vinni Gennaro tem uma ótima conta técnica, desde o uso de drones para capturar o quão encapsulada pode ser a paisagem na selva de Missiones, do lado Argentina, ou paranaense, do lado brasileiro.

Águas Selvagens: os argentinos Mario José Paz e Mausi Martínez e o brasileiro Luiz Guilherme são destaques do filme policial – Foto: Chaparral Pictures – Divulgação

Também viajando nas perseguições de ação. O uso da iluminação claro-escuro dá aquela atmosfera sombria e captura o crepúsculo úmido no local com jogo de sombras para pronunciar a psicologia dos personagens.

A música de Edu Zvetelman foi ancorada em cenas violentas, sensíveis, misteriosas e melancólicas à instrumentação de pianos, guitarras, violinos e flautas , para aumentar a sensação de suspense e intriga.

Em outros estilos tropicais, dança e tango para detalhar um personagem; ou o humor das pessoas ou o filme.

Águas Selvagens: as brasileiras Mayana Neiva, Allana Lopes e Leona Cavalli são destaque na coprodução Brasil-Argentina – Foto: Chaparral Pictures – Blog do Arcanjo

No que diz respeito ao elenco, o investigador na pele do ator uruguaio Roberto Birindelli como Gualtieri delineia uma postura de anti-herói, embora não completamente; é regida pelo cheiro e pela entrega constante, tanto corporal quanto dramática.

A atriz Mayana Neiva no papel de Rita expõe sua sensualidade, sensibilidade e ousadia. Sua colega Allana Lopes como Blanca dá juventude e rebeldia ao filme.

Águas Selvagens: os argentinos Daniel Valenzuela e Juan Manuel Tellategui e o uruguaio Nestor Nuñez são destaques do filme policial – Foto: Chaparral Pictures – Blog do Arcanjo

O ator argentino Daniel Valenzuela como vice-comissário Fabro exibe sua habilidade em papéis de vilão, manipulador e descarado. Também ator argentino, Juan Manuel Tellategui, encarna um Fabian com dupla faceta e chama a atenção para sua forma particular de gestos e intenções.

A atriz brasileira Leona Cavalli interpreta Debora, uma prostituta tomada por coração e armas. Os atores brasileiros Luiz Guilherme como Quiroga e Néstor Nuñez como El Chapa são o mesmo lado de uma moeda: corajosos, ferozes e impulsivos.

O filme do diretor Roly Santos está imerso no estilo cinema noir com camadas de suspense, drama, ação e uma pitada de crime noir. Capta o espectador a partir de seu registro estético e expressivo.

As atuações reafirmam o gênero com seus perfis e composições explosivos e emaranhados. E um roteiro que patrocina uma jornada labiríntica e experimental.

Tradução por Miguel Arcanjo Prado

Nota do Editor: Com direção de Roly Santos e roteiro de Óscar Tabernise, Águas Selvagens é uma coprodução entre Brasil e Argentina e chega aos cinemas nacionais nesta quinta-feira, dia 12 de maio de 2022, em 16 cidades brasileiras: São Paulo, Florianópolis, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Curitiba, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Maceió, Ribeirão Preto, Jundiaí, Campinas, Barueri, Santa Maria, Niterói e Maringá. Estão no elenco Roberto Birindelli, Mayana Neiva, Daniel Valenzuela, Leona Cavallli, Juan Manuel Tellategui, Allana Lopes.

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Coordena a Extensão Cultural da SP Escola de Teatro e apresenta o Arcanjo Pod. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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