Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
A cantora Ana Cañas vive um momento de glória em sua carreira de duas décadas de palcos com o aclamado show Ana Cañas Canta Belchior, que vem lotando e emocionando plateias em todo o Brasil.
Ao revisitar a obra do compositor cearense e reapresentá-la às novas gerações, a artista presta verdadeiro tributo à memória da música popular brasileira, também conhecida como boa e velha MPB. E faz isso de modo corajoso e independente, sem apoio de grandes conglomerados do entretenimento, transmutando-se em uma espécie de guerrilheira da canção
No show, com exímios músicos — Fabá Jimenez (violão e guitarra), Adriano Grineberg (teclados), Meno Del Picchia (contrabaixo) e Loco Sosa (bateria) — e uma equipe feminina no comando dos bastidores — a empresária Amanda Souza e a produtora Juliana Periscinotto —, fica evidente ao espectador a força atemporal da obra de Antonio Carlos Belchior (1946-2017), um artista que não se ajustou às regras do opressivo sistema do showbusiness.
Universal, a obra de Belchior consegue dialogar de forma profunda com as questões — e agruras — do Brasil de hoje. Além disso, o público fica tocado pela delicadeza dos arranjos e a forma pessoal como Ana Cañas conduz o show, em palavras e canções.
A cantora faz questão de também compartilhar sua história com o público, demonstrando com humildade sua vulnerabilidade. Ela canta e fala de coração aberto, revelando passados familiares, como uma briga que a deixou dez anos sem falar com sua mãe, cuja relação já foi restabelecida com a maturidade e o amor mútuo de ambas, e detalhes do começo de sua carreira, época de muitos perrengues financeiros atrás do sonho de ser uma artista brasileira, algo tão comum a quem vive dessa dura carreira.
Não à toa, a família de Belchior percebeu o respeito e a potência da cantora e liberou para Ana Cañas suas disputadas músicas — o filho do artista, Mikael Belchior, assistiu, emocionado, ao show que lotou o gigantesco Teatro Bradesco, em São Paulo, em abril último. E a forma como o projeto nasceu, com Ana cantando Belchior em uma live na pandemia financiada por seus fãs, que depois gerou o álbum independente — vencedor do Prêmio Arcanjo de Cultura —, só legitima ainda mais esta aguerrida artista.
Em Ana Cañas Canta Belchior, a cantora paulistana pega o bastão de grande cantora da MPB de sua geração, valorizando outras que fizeram o mesmo caminho árduo, como Elis Regina, memória obrigatória quando o assunto é Belchior, ao dialogar com a obra de um compositor tão profundo de modo tão potente.
Em um cenário de jovens cantoras algoritmadas pelo pop instantâneo, Ana Cañas busca a história e as profundezas de si, de Belchior e do Brasil, para reinventar a figura da grande cantora de música popular brasileira. Com isso, valoriza a tradição de nossa música, de nossa arte, de nossa cultura. E isso, nos tempos em que vivemos, é um feito e tanto, merecedor de aplausos de pé.
Ana Cañas Canta Belchior Tour
Avaliação: Ótimo ✪✪✪✪✪
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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