Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Se a situação da mulher já é complexa neste século 21, imagine entre as décadas de 1920 e 1960. Foi pensando nesta temática, especialmente na luta e talento das fortes mulheres cantoras e compositoras desse período especifico da história da música brasileira, que a escritora Denise Mello se debruçou em minuciosas pesquisas para contar relatos impressionantes em um resgate histórico de mulheres que fizeram a diferença, mas que não são lembradas. Assim nasceu o livro A Mulher Na Canção: A Composição Feminina Na Era do Rádio. A publicação tem significado de relíquia, já que registra a história visceral de 15 compositoras brasileiras do começo do século 20.
O Blog do Arcanjo esteve presente no lançamento do tomo publicado pela Editora Machine no Belas Artes Antiquário Bar e Café, na Vila Mariana, em São Paulo, neste domingo, 29 de maio. Com exclusividade, nossa reportagem fez a cobertura do evento literário que contou com uma movimentada tarde de autógrafos e pocket show da autora.
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Nas 520 páginas do livro, é possível conhecer com profundidade o talento dessas icônicas artistas, em sua maioria, injustiçadas e desvalorizadas por uma época em que se ressaltava apenas o poder masculino.
Entre as personagens estão: Almira Castilho, Marília Batista, Dilú Mello, Carmen Costa, Maysa e Dolores Duran. Suas canções trazem relatos sobre a — constante — luta contra o machismo, a homofobia e o racismo.
A mensagem que eu desejo passar neste livro A Mulher na Canção é que as mulheres produziram, sim, e continuam produzindo bastante. A gente precisa conhecer a nossa história para saber de onde viemos e para onde vamos.
Denise Mello
autora do livro A Mulher na Canção
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Pocket Show Nas Ondas do Rádio
No lançamento de A Mulher na Canção, entre um autógrafo e outro, Denise Mello recebia o carinho de seus convidados, ávidos por uma dedicatória em seus livros.
Após atender aos leitores, o público presente apreciou um pocket show da cantora e compositora, que fez uma breve explanação sobre as divas da Era do Rádio, antes de soltar a voz marcante e suave, envolvendo a todos com seu dom sob acompanhamento do músico Victor Mendes.
Camaleoa das artes
Além de cantora e compositora, a multifacetada Denise Mello exerce outras habilidades como: professora de canto popular e musicalização infantil, locutora e violonista.
Psicóloga formada pela USP em 1989, depois de exercer a profissão durante 13 anos, passou a dedicar-se à gravação de jingles e locuções publicitárias, tornando-se membro do Clube da Voz.
Pós-Graduada em Canção Popular pela FASM em 2017, foi a partir de seu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) que nasceu em Denise a necessidade de abordar o tema do livro.
Em A Mulher na Canção eu quis falar de algo que me afeta diretamente que é a composição feminina. Comecei a fazer uma pesquisa com compositoras da atualidade. E, consequentemente, acabei estudando a composição feminina no Brasil. Quando me debrucei no assunto, percebi que existe pouco estudo sobre o tema. Muitas pessoas acham que não existiu composição feminina, principalmente no período de 1920 a 1960. Normalmente, se conhece apenas Chiquinha Gonzaga, Dolores Duran e Maysa. E não houve um hiato de composição feminina como pensam. Muitas dessas mulheres do livro fizeram sucesso à época, eram reportadas em jornais e revistas, faziam shows em auditórios, mas não perpetuaram por várias razões que eu abordo na publicação.
Denise Mello
autora do livro A Mulher na Canção
A escritora pontua também a dificuldade de voz às mulheres, em uma sociedade extremamente conservadora e machista à época.
“No final do século 19, e ainda no período da época do rádio, as mulheres eram submissas aos maridos. Tinham o dever de educar os filhos, cuidar da casa e família. Nada mais. Não podiam sair de casa, trabalhar… Ser artista então? Compositora? Achavam que mulher nem pensava. Essas mulheres sofreram muito preconceito. Mas, com todo machismo, embora tivessem alcançado o sucesso, muitas delas não foram valorizadas no decorrer de nossa história”, lamenta Denise.
Com o avanço da tecnologia em um mundo cada vez mais globalizado, Denise avalia se a forma de pensar e agir transformou-se, positivamente, no decorrer das décadas.
“Infelizmente o cenário ainda é predominantemente machista. São muitos homens instrumentistas e compositores. Quando se pergunta cinco nomes de compositores, pensa-se primeiro em nomes masculinos. Depois citam as compositoras”, avalia, com pesar.
Pensando em quebrar outros paradigmas no segmento, contribuindo assim para as futuras gerações de mulheres cantoras e compositoras do Brasil, Denise Mello dá um spoiler de seu próximo título, a ser lançado em breve.
“Eu já quero emplacar outro livro intitulado A Mulher Na Canção: A Composição Feminina na Bossa Nova. Já tenho 15 mulheres para ser biografadas”, adianta a autora, deixando os leitores curiosos e ansiosos para uma nova sessão de nostalgia necessária.
Com reportagem de Michele Marreira
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A Mulher Na Canção: A Composição Feminina Na Era do Rádio
Autora: Denise Mello
Ilustrações: Luisa Mello
Editora: Machine
Preço: R$ 60
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Nota do editor: Em junho Denise Mello fará palestras musicadas em bibliotecas municipais de São Paulo. A primeira dia 4 com lançamento do livro digital na Biblioteca Raul Bopp, na Aclimação. Para saber as novas datas acompanhe o instagram da cantora e autora: @denisemellovoz
Blog do Arcanjo mostra as imagens do lançamento do livro A Mulher na Canção, de Denise Mello, pelo olhar do fotógrafo Rafa Marques
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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