Parada LGBT+: Ícones do orgulho merecem respeito; conheça 12 nomes fundamentais
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
A Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo não foi criada da noite para o dia. Muito pelo contrário, é fruto da luta de pioneiras e pioneiros que lá atrás deram a cara a tapa com muita coragem para reivindicar o direito político de existir e vivenciar sua sexualidade e identidade de gênero sem repressões, castigos ou culpa.
O evento volta ao presencial na Avenida Paulista neste domingo, 19 de junho, após dois anos de edições online por conta da pandemia e muita briga nos bastidores por falta de lembrança nestas edições digitais de nomes importantes na trajetória da Parada.
Para refrescar a memória das novas gerações, o Blog do Arcanjo elenca algumas das muitas figuras pioneiras que foram fundamentais na história da Parada e que devem ser lembradas e respeitadas para todo o sempre.
Kaká di Polly
A grande drag queen foi a responsável pelo primeiro desfile oficial da Parada, ainda chamada de “Parada Gay”, na Avenida Paulista, em 1997. Foi ela quem parou o trânsito fingindo passar mal e distraindo os policiais para que o primeiro e diminuto trio elétrico pudesse avançar com uma pequenina multidão de cerca de 2.000 pessoas atrás. Sem o truque de Kaká di Polly a Parada do Orgulho LGBT+ não existiria. Kaká foi rechaçada pela comunidade LGBTQIA+ ao declarar voto em Jair Bolsonaro em 2018, mas já reiterou publicamente seu arrependimento e declarou voto em Lula em 2022. Independentemente de posicionamento político, ela é uma figura histórica que merece respeito e consideração. Dá a Cesar o que é de Cesar.
Silvetty Montilla
A icônica drag queem de língua afiada foi a primeira a discursar na Parada, realizada num encontro com centenas de pessoas na Praça Roosevelt, em 1997, após o desfile. Pegou o microfone e soltou o verbo, com a segurança que lhe é peculiar. Depois da Parada instituída, foi apresentadora oficial da festa por 16 anos. Após ficar afastada por 4 anos, Silvetty apresentou o palco da Feira da Diversidade, na última quinta, no Largo do Arouche, e foi convidada a estar novamente na Parada. Mais que justo.
Adriana Arco-Íris
Foi a mãe de Adriana Simone da Silva, por amor à filha e à causa, quem costurou a primeira bandeira arco-íris da primeira Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo sem cobrar um só centavo. A bandeira media 50 metros e causou impacto na Avenida Paulista, onde tornou-se obrigatória a cada marcha. Adriana também foi responsável por conseguir boa parte do público de cerca de 2.000 pessoas da primeira Parada, já que panfletou para deus e o mundo o evento, obrigando todos a comparecerem a até então desconhecida passeata. Danada.
Salete Campari
A icônica drag que faz referência no visual à diva hollywoodiana Marilyn Monroe esteve presente na Parada desde seus primórdios. Durante anos a fio teve seu famoso Carro da Salete, no qual convidou as primeiras celebridades que deram pinta no evento, em uma época que muitos famosos — incluindo vários galãs dentro do armário — se recusavam a ter seu nome associado à comunidade LGBTQIA+. Salete também é pioneira na presença da figura drag nas primeiras filas de estreias de grandes espetáculos teatrais paulistanos. Isso ninguém lhe tira.
Nany People
A drag queen pioneira levou a comunidade LGBTQIA+ para a noite mais disputada da TV brasileira: o programa de Hebe Camargo, onde teve um quadro de sucesso na década de 1990, assim como a coluna de leitura obrigatória que tinha na lendária revista G Magazine. Ter uma drag no sofá da maior apresentadora do Brasil fez com que a arte drag passasse a ser respeitada. Na Parada, com a qual chegou a ter desavenças públicas por discordar dos rumos da marcha, Nany fez história, seja levando o evento à TV ou participando de carros e camarotes, ou mesmo desfilando no chão. Nany amadrinhou o famoso Guia da Nany People LGBTs, pioneiro ao dar visibilidade em empresas que abraçaram a diversidade sem preconceito e apostaram na força do pink money. Abriu portas.
Marcia Dailyn
A primeira bailarina transexual do Theatro Municipal de São Paulo e atual musa do Acadêmicos do Baixo Augusta e diva do Satyros e da Praça Roosevelt, além de ter vivido a lendária diva cubana Phedra D. Córdoba na peça Entrevista com Phedra, sempre marcou presença na Parada, seja no alto de um trio, em um camarote ou no chão mesmo. Marcia é ferrenha defensora da memória das divas pioneiras e sempre conclama para que as novas gerações respeitem quem abriu caminhos. Que sirva de exemplo e seja ouvida.
Divina Nubia
A icônica transformista também faz parte da trajetória da Parada, seja no chão, no trio ou em camarotes. Ela integrou o time que fez história no Show de Calouros de Silvio Santos nos anos 1980, época em que havia um preconceito gigante com a comunidade, fazendo com que figuras LGBTQIA+ entrassem nas casas das famílias brasileiras pelo SBT, onde foi maquiadora por anos. Atualmente, Divina Nubia, performer conhecida na noite paulistana por covers de lendas como Édith Piaf, número que abriu a primeira edição do Prêmio Arcanjo de Cultura no Theatro Municipal, é atriz da série Manhãs de Setembro, da Amazon Prime Video. Poderosa.
Paulette Pink
Famosa pelo cover da cantora Cher no Brasil, a drag Paulette Pink também é nome icônico da Parada do Orgulho LGBT+, da qual já foi mestre de cerimônias e também já desfilou em carros, no chão e marcou presença em camarotes. Pioneira na representatividade de drags no mercado publicitário e em grandes empresas, ela ainda é artista visual e visagista das mais requisitadas no mercado o entretenimento. Uma grande artista.
Walério Araújo
O famoso estilista já perdeu a conta de quantas beldades vestiu na Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo neste último quarto de século. Isso para além de seus próprios figurinos, que sempre cria com absoluto esmero. Nome requisitado por famosas que vão de Sabrina Sato a Maria Rita, ele foi dono de um dos desfiles mais comentados da última SPFW, no qual Walério levou divas como Eloina dos Leopardos e Marcia Dailyn para a passarela mais cobiçada da moda. Afinal, representatividade sempre foi sua palavra de ordem na vida e na costura.
Leonora Aquilla
Pioneira na representativiade drag e trans na televisão brasileira, Leonora Áquila sempre foi figura marcante na Parada LGBT+ de São Paulo, trazendo prestígio à festa seja no chão, no alto de seu próprio carro ou em camarotes. Sem papas na língua, Leo já acusou a “hipocrisia” presente na comunidade LGBTQIA+, sempre exercendo seu direito de livre pensar. Em 2020, Leonora foi oficialmente reconhecida pelo poder público como uma mulher. E promete para breve conseguir a vitória na política, seu antigo sonho. Que assim seja.
Dimmy Queer
Dimmy Queer é uma das drags mais importantes e icônicas do Brasil e foi pioneira no Big Brother Brasil — onde Boninho o impediu de se montar. Na casa, ficou famosa em rede nacional com seu nome desmontado mesmo, Dicesar. A artista sempre esteve presente na Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo e contribuiu e muito com a causa, sempre lutado pelo direito ao amor de todas as pessoas. Pioneira.
Marcia Pantera
Ela é conhecida por ser a rainha do bate-cabelo, com movimentos precisos e repletos de força. Pois ela também se orgulha de ter estado presente em todas as edições da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo, onde levou a exuberância de sua inconfundível presença, fortalecendo e dando representatividade de sobra à marcha. Recentemente, roubou todos os holofotes no desfile de Isaac Silva na São Paulo Fashion Week em homenagem mais que merecida ao seu pioneirismo da representatividade negra na comunidade LGBTQIA+. Felina repleta de black power.
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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