CineOP abre com impacto indígena em Ouro Preto e conclama Brasil a preservar seu audiovisual
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
ENVIADO ESPECIAL A OURO PRETO – A abertura da 17° Edição do CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto foi um verdadeiro acontecimento que aqueceu a fria noite desta quinta, 23 de junho, na histórica cidade de Minas Gerais. O evento celebrou a volta ao presencial após dois anos online por conta da pandemia.
O público foi recepcionado pelos virtuosos sopros da banda da Sociedade Musical Senhor Bom Jesus das Flores e logo se acomodou nas cadeiras do Cine Praça.
Em noite ao ar livre, a festa ocorreu na emblemática Praça Tiradentes, no centro histórico de Ouro Preto, maior joia do barroco mineiro, com o primeiro dia tendo seu foco para artistas e realizadores indígenas.
Estar de volta com a CineOP integralmente presencial é um momento muito especial, com um significado histórico. Reencontrar profissionais da educação, da preservação do audiovisual, abrir o evento na praça pública neste cenário tão emblemático para o país é motivo de celebrar. Estamos vivos e reunidos por uma causa que é maior que uma empresa, uma pessoa, uma causa de todos nós enquanto cidadãos, de salvar nossas imagens e valorizar a produção indígena dentro da história da nossa cinematografia, uma produção que muitas vezes fica invisibilizada e desconhecida. A CineOP vem carregada dessa missão, que nos aquece a alma e o coração.
Raquel Hallak
Coordenadora da CineOP
Caminhos da Pachamama
Depois, o evento seguiu em grande estilo, com a cerimônia Caminhos de Pachamama, um ritual que invoca o canto, a dança e a reza, para em conjunto saudar a mãe terra, realizado pelo Comitê Mineiro de Apoio às Causas Indígenas. Estiveram presentes os povos Kambiwá, Aranã Pataxó, Xukuru kariri, Quéchua e Aymará.
A apresentação empolgou o público que lotou o Cine Praça, que aplaudiu de pé e fez coro para os cantos ritualísticos.
Logo após a apresentação, o mestre de cerimônias, David Maurity, conduziu elegantemente a noite, introduzindo a coordenadora geral do evento, Raquel Hallak.
Em seu poderoso discurso, a diretora da Universo Produção enfatizou a alegria de voltar ao presencial e ressaltou a importância do festival, para a cidade de Ouro Preto e para o país.
“A CineOP foi a primeira das nossas três mostras — Tiradentes, Ouro Preto e Belo Horizonte — a ter de ser online em 2020, por conta da pandemia, o que foi um grande desafio para toda a equipe. Agora, o desafio é retomar o primeiro evento integralmente presencial. É muito histórico. A CineOP é um evento em que trabalhamos a preservação da vanguarda desse imenso patrimônio audiovisual brasileiro, nesta cidade que é patrimônio histórico da humanidade, Ouro Preto, lugar tão emblemático para o Brasil”, disse Raquel Hallak, em conversa com o Blog do Arcanjo.
Ela ainda reiterou que a preservação tem de ser tema que importe a todos os que integram a cadeia produtiva do audiovisual.
“Preservação do audiovisual tem de ser coisa de cineasta. Se não contarmos com quem faz filmes, com quem lida com essa história, desde o primeiro momento que começa a pensar o filme, vamos perder muitas imagens, algumas silenciosamente, outras como o caso da Cinemateca. Filmes não foram feitos para ficar na prateleira, foram feitos para circular e serem preservados para gerações futuras terem acesso”, pontou Raquel Hallak, lembrando que cerca de 90 profissionais da educação participam do evento, com 24 debates justamente com este foco.
Preservação começa dentro da nossa casa, com álbum de retrato guardado, para sabermos quem foram nossos avós. Se ampliarmos, levamos para as empresas e para o poder público. Precisamos cuidar daquilo que é nosso. Queremos persistir neste propósito de salvar o patrimônio audiovisual brasileiro, missão da CineOP.
Raquel Hallak
Coordenadora da CineOP
Homenagem a dupla de cineastas indígenas
Kuaray Poty (Ariel Ortega) e Pará Yxapy (Patrícia Ferreira), cineastas homenageados pela edição, receberam com muita emoção o Troféu Vila Rica, entregue pelo prefeito da cidade de Ouro Preto, Angelo Oswaldo e o cineasta Vincent Carelli.
Na sequência, o público ouro-pretano viu dois filmes da dupla de cineastas, Bicicletas de Nhanderu, de 2011, e Nossos Espíritos Seguem Chegando – Nhe’e Kuery Jogueru Teri, de 2021.
Pista e show
A noite continuou na parte baixa da cidade histórica, no Sesc Cine Lounge Show, montado no Centro de Convenções de Ouro Preto. Primeiro, a pista de dança ferveu ao som de excelente música brasileira e internacional de estilo urbano, funk e pop sob comando da DJ Kingdom.
Ela energizou o público para receber o show de encerramento do dia, feito pela artista ameríndia dos povos andinos Brisa Flow, com ancestralidade chilena.
Brisa celebrou sua primeira apresentação na cidade de Ouro Preto e trouxe suas letras que exaltam sua vivência como mulher ameríndia e da periferia, com um flow de excelente qualidade e ritmo contagiante. O público se acabou em mais de 1 hora e 40 minutos de potente apresentação. Ao fim, enquanto o filho dormia no camarim, a artista conversou com o Blog do Arcanjo.
“Para mim foi muito feliz estar com várias etnias reunidas. Muito especial para mim, meu filho, ver guaranis ganhando um prêmio tão bonito, incentivando o cinema indígena. É preciso valorizar a artes dos povos originários para além da música e do cinema, ver que nós todos estamos trançando uma transculturalidade em brol do bem viver. E isso é muito importante”, concluiu a cantora.
*O Blog do Arcanjo viajou a convite da CineOP. Colaborou David Godoi.
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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