Drags censuradas: Coletivo Acuenda acusa Festival de Inverno de Garanhuns
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
O Coletivo Acuenda formado por artistas LGBTQIA+ do bairro Jardim Romano, localizado na zona leste da periferia de São Paulo, informou em perfil oficial do Instagram (leia na íntegra), que sofreu censura dos organizadores do Festival de Inverno de Garanhuns, Município de Pernambuco. O evento está programado para acontecer de 15 a 31 de julho, deste ano.
Censura nunca mais.
Coletivo Acuenda
Em outra postagem, o grupo deu mais detalhes sobre o cancelamento do espetáculo Cabaré D’água: Nosso Corpo é Político no FIG.
“Faltando poucos dias para iniciar a programação do 30º Festival de Inverno de Garanhuns, nós, do Coletivo Acuenda, composto por Drag Queens da cidade de São Paulo, tivemos a nossa apresentação cancelada pelo Governo de Pernambuco. A peça teatral Cabaret D´água: Nosso Corpo é Político foi aprovado no Edital do Festival e divulgado na programação oficial em coletiva de imprensa, que ocorreu no dia 30 de junho. Houve ampla publicação do nosso nome na programação oficial em todos os veículos de comunicação”, dizia a publicação.
O espetáculo faria um cortejo de Drag Queens na cidade de Garanhuns culminando no espaço de Teatro Alternativo do Sesc. Os artistas do espetáculo definem o ato como censura e repudiam o acontecido.
O outro lado
Após repercussão do caso na mídia, a assessoria de comunicação da Secretaria de Cultura e a Fundarpe, realizadoras do festival, emitiram nota oficial explicando a situação. A alegação é de que o grupo “nunca foi excluído da grade artística da 30ª edição, que segue disponível para consulta pública no portal www.cultura.pe.gov.br”.
Contudo, segundo informou o site Marco Zero, um dos integrantes do grupo, David Costa, teria recebido uma ligação de uma pessoa identificada por Irene, da gerência de política cultural da 30ª edição do Festival de Inverno de Garanhuns. A mulher teria afirmado que a entrada do Cabaré D’água: Nosso Corpo é Político na grade de programação seria um “erro” e que outro espetáculo substituiria a peça.
“Em nenhum momento mandaram algum e-mail ou mensagem oficializando a saída. Disseram que houve uma nova reunião da comissão de seleção e que, na verdade, o espetáculo tinha ficado em 20º lugar, e não em segundo lugar. Eu disse a ela que nós iríamos atrás dos nossos direitos e solicitei a ata dessa reunião. Ela disse que não poderia enviar, mesmo sendo um documento público”, esclareceu David, em entrevista à reportagem do site Marco Zero.
Ele reforça ainda que recebeu uma mensagem do diretor do festival, André Brasileiro, falando em “retomar o diálogo” e repete o conteúdo da nota, que também cita que “as tratativas (com o Acuenda) se resumiram à solicitação de documentos para confirmação do processo de contratação do referido grupo”.
De acordo com Bruno Fuziwara, outro membro do Coletivo Acuenda, o grupo havia comprado material para a apresentação no FIG, os ensaios já estavam a todo vapor, inclusive.
“Para mim, o que acontece é censura, por sermos um grupo LGBTQIA+, por sermos drag queens. A nota diz que nunca saímos da programação, querem colocar a gente como mentirosos, mas é só entrar no site e ver que nos retiraram sim. Até o presente momento a gente não sabe se vai ou não participar, compramos figurino, perucas, maquiagem, materiais de cena… Nossa peça é para falar de que nós, drag queens, somos um ato político. Nosso corpo é um corpo político por estar ocupando esses espaços, por estarmos mostrando força e potência”, desabafa Bruno.
*Matéria atualizada dia 15/07, às 18h07
O coletivo Acuenda, por meio de sua página oficial no Instagram soltou o seguimento comunicado, uma nota de agradecimento, informando que o grupo está confirmado sim, no 30º Festival de Inverno de Garanhuns:
“Agradecemos ao público pela torcida e informamos que estamos confirmades na programação do 30º Festival de Inverno de Garanhuns. Diante da repercussão, embora a SecultPE e a Fundarpe tenham publicado informações não condizentes com os fatos na nota emitida, na tentativa deslegitimar nossa denúncia, incluíram novamente o Coletivo Acuenda na programação. Que os acontecimentos sirvam de exemplo e que as instituições responsabilizem os envolvidos. Lamentamos todo o transtorno causado. Que outres artistas não precisem nunca mais passar pela sensação de frustração e trauma que nos foi gerado. Estamos com esperança de fazer uma ótima passagem pelo FIG. Felizes e em surpresa diante de tanto carinho e solidariedade do público de todo o país que acompanharam o caso. Como diz a canção de Gilberto Gil e Caetano Veloso: ‘É preciso estar atento e forte…’”, dizia o texto.
Colaborou Michele Marreira