Bruno Costa celebra repercussão internacional do filme Mirador: ‘Retorno do público é gratificante’

O cineasta Bruno Costa e a pequena atriz Maria Luiza da Costa no set de Mirador: longa tem forte repercussão mundial – Foto: Fran Camilo/Divulgação – Blog do Arcanjo

Primeiro longa do curitibano vem fazendo bonito nos festivais mundo afora

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

O cineasta Bruno Costa fez estreia potente em longas com o filme Mirador, selecionado no último New York Latino Film Festival, realizado em setembro na grande metrópole dos Estados Unidos, onde foi exibido em disputada sessão na charmosa sala Regal Union Square, em plena Broadway. A produção vem tendo excelente repercussão não só aqui no Brasil como lá fora, o que coloca o cineasta curitibano no mapa dos talentos em ascensão no cinema nacional. O artista conversou com o Blog do Arcanjo sobre o trabalho repleto de delicadeza e poesia ao contar a vida do pugilista Maycon, personagem de Edilson Silva, que se vê diante do desafio de criar a pequena filha de dois anos, Malu, interpretada pela graciosa Maria Luiza Costa. Leia com toda a calma do mundo.

Miguel Arcanjo Prado – Qual a importância de ter seu filme Mirador selecionado pelo New York Latino Film Festival?
Bruno Costa –
Para nós é uma alegria imensa estar chegando em territórios tão diversos; já havíamos exibido o filme em solo americano no Iberoamerican Film Festival Miami, onde recebemos o Prêmio Melhor Longa-metragem de Ficção. Também tivemos passagem pelo Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano de la Habana, Festival Régional et International du Cinéma de Guadeloupe, onde o filme recebeu o Prêmio Especial do júri, além dos festivais brasileiros Mostra de Tiradentes, Olhar de Cinema-Festival Internacional de Curitiba e Festival de Cinema de Vitória onde ganhamos o Prêmio Melhor longa-metragem pelo Júri Popular e uma menção honrosa para atriz mirim Maria Luiza da Costa. É muito importante para o filme ocupar esses espaços internacionais, mostrar nossa cultura e nossas histórias para públicos tão diversos.

Edilson Silva como o pugilista Maycon em cena de Mirador, primeiro longa de Bruno Costa – Foto: Divulgação – Blog do Arcanjo

Miguel Arcanjo Prado – Seu primeiro longa tem feito uma bela carreira e ganhado importantes elogios. Qual é sua reação diante disso?
Bruno Costa – Como diretor e roteirista não há nada mais gratificante do que o retorno do público. Prêmios e críticas são importantes, mas receber o feedback, seja ao vivo ou pelas redes sociais, de pessoas que se emocionaram com o filme, que se identificaram com a história e foram tocadas pelas questões que levantamos, é o que me deixa mais feliz e realizado.

Miguel Arcanjo Prado – O que o Mirador tem que toca tanto as pessoas?
Bruno Costa –
O universo do boxe sempre me atraiu, é muito dinâmico e imagético, e eu tinha a vontade de realizar um filme nessa atmosfera. Porém não queria fazer um filme especificamente “sobre boxe” e sim utilizá-lo como plano de fundo, elemento estético, então comecei a pensar em uma história que pudesse ser vivida (em partes) nesse habitat. A ideia principal que move a narrativa veio da observação do cotidiano, como praticamente em tudo que faço. Na época em que estava buscando a questão central para uma história reparei que alguns amigos estavam passando por diversos imbróglios ligados principalmente aos filhos; separações, questões quanto a guarda das crianças, etc. Foi então que tive o “estalo” inicial; faria um filme sobre a paternidade.

Edilson Silva e Maria Luiza da Costa em Mirador, primeiro longa do cineasta Bruno Costa – Foto: Divulgação – Blog do Arcanjo

Miguel Arcanjo Prado – Um ótimo tema.
Bruno Costa –
A partir dessa premissa, ainda muito inicial foram surgindo as problemáticas presentes na jornada do protagonista Maycon, que é brilhantemente vivido pelo Edilson Silva. William Biagioli, que assina junto a mim o roteiro, é um desses pais que inspiraram de alguma forma a história. Ele como pai, que passava na época pela separação, estava no “olho do furacão” dessas questões que envolvem uma criança quando uma relação acaba, e trouxe uma camada de verdade e sensibilidade sobre o tema que eu provavelmente, por não ser pai, não atingiria sozinho. Escrevendo sobre a paternidade naturalmente passamos a pensar também na masculinidade, em levantar questões acerca das noções tortas que herdamos, e como esse homem bruto que é o nosso protagonista poderia evoluir, vivenciar algo e aprender dentro dessa jornada. O que mais toca as pessoas no filme é ver essa relação de pai e filha que vai se construindo aos poucos de forma muito sensível e realista.

Miguel Arcanjo Prado – O que foi mais desafiante no processo de Mirador?
Bruno Costa –
Primeiro a questão orçamentária. Mirador é um filme de baixo orçamento, então foi um grande esforço de produção realiza-lo dentro do tempo e condições que tínhamos, e devo muito a cada membro da equipe e elenco que entenderam a importância do que estávamos realizando e ‘vestiram a camisa’ abraçando o projeto de corpo e alma. O filme foi rodado em 18 diárias, um tempo bem menor do que a média em que se filma um longa-metragem, que costuma girar entorno de 4 a 5 semanas. O segundo desafio foi trabalhar com uma criança tão pequena no elenco. Quando filmamos a Maria Luiza da Costa (Malu) tinha menos de 2 anos de idade, e não se dirige, de forma tradicional, uma criança dessa idade. Como qualquer criança, houveram momentos em que ela não estava afim de fazer as cenas, estava com sono ou indisposta, mas na maior parte do tempo ela foi maravilhosa. Algo que surpreendeu a todos foi a relação que ela estabeleceu com Edilson, que faz o pai dela no filme. Ela se apegou muito a ele, e isso está impresso no filme, uma cumplicidade em cena que é coisa rara. Grande parte do apelo que o filme tem junto ao público vem dessa relação.

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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