Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
“Apavora, mas não assusta, o Carnaval do Baixo Augusta”. E agora também “atentos e fortes”. Assim foi o Carnaval 2023 do Acadêmicos do Baixo Augusta, maior bloco da cidade de São Paulo, que arrastou cerca de 1 milhão de pessoas pela Rua da Consolação na tarde de sol e chuva neste domingo, 12 de fevereiro de 2023. O clima foi de lavar a alma pelo bloco voltar às ruas em movimento, depois da pandemia — em 2022, a apresentação foi estática, no Vale do Anhangabaú, para ‘apenas’ 20 mil pessoas. A emoção era grande na avenida, sobretudo pelo bloco homenagear Gal Costa, grande cantora que o Brasil perdeu no fim do ano passado.
Do alto do primeiro dos quatro trios-elétricos enfileirados na esquina de Paulista com Consolação, o idealizador do bloco Alê Youssef, ao lado do presidente do bloco, Alê Natacci, celebrou a volta do bloco e o respeito à democracia no país e chamou Preta Ferreira, mestre de cerimônias da festa, evocando a representatividade e o respeito à diversidade, marcas do Baixo Augusta desde sua fundação em 2009, pioneiro na retomada do Carnaval de Rua da Cidade de São Paulo.
Bahia em SP
Convidado de honra, o Olodum veio direto do Pelourinho para a Pauliceia, trazendo o sol de Salvador da Bahia para iluminar e aquecer o começo do desfile do Baixo Augusta, com hits inesquecíveis do mais lendário bloco afro baiano que conquistou ícones mundiais como Michael Jackson, Jimmy Cliff e Paul Simon. O público foi ao delírio com músicas como Requebra, Avisa Lá, Baianidade Nagô e Alegria Geral.
Convidados especiais
Nos quatro trios do Baixo Augusta passearam uma constelação de artistas e personalidades convidadas, como o jornalista Carlos Tramontina, a ativista Luisa Mel, o produtor cultural Mauro Sousa e os atores Joaquim Lopes, Erika Januza, Juan Manuel Tellategui, Leandra Leal, Henrique de Mello e Marjorie Gerardi, entre outros.
Rainha de vermelho
Vestida de vermelho, a rainha do bloco, Alessandra Negrini, hipnotizou a todos e foi ovacionada pelos foliões, com sua beleza à prova do tempo. Ao seu lado, o padrinho do bloco, o escritor Marcelo Rubens Paiva, autor do clássico Feliz Ano Velho, puxou o começo do desfile do Baixo Augusta.
Ney & Elke
Passeando entre os trios e o povo, o muso do bloco, o estilista Walério Araújo, apostou na fantasia que homenageou a estrela Elke Maravilha. Já a musa do bloco, Marcia Dailyn, primeira bailarina trans do Theatro Municipal e atriz da Cia. Os Satyros, prestou homenagem a Ney Matogrosso com sua fantasia. Ambos foram sensação na descida da Consolação.
Banda poderosa
A Banda do Baixo Augusta, com excelentes instrumentistas e os vocais de Hevelson Oliveira, Simoninha, Bruna Pazinato e André Frateschi, celebrou enredos clássicos do Carnaval. O público sambou com É Hoje (Diga Espelho Meu), Exaltação à Mangueira e Peguei um Ita No Norte (Explode Coração), cantados pela voz poderosa de Hevelson Oliveira (na foto com Marina Sena), que evoca grandes intérpretes como Jamelão.
Ausência sentida
Uma ausência sentida pelos foliões foi a da cantora Patricia Secchis, já que este foi o primeiro Carnaval sem sua eletrizante presença na Banda do Baixo Augusta, que resolveu renovar seus vocalistas. “Sou muito grata ao Baixo Augusta por tantas pessoas que conheci e momentos maravilhosos que passei”, declarou a talentosa Patricia ao Blog do Arcanjo. Vida que segue.
Tributo a Gal Costa
A atriz Sophie Charlotte se emocionou no desfile, que prestou tributo a Gal Costa, cantora baiana morta no ano passado e a quem interpretou no filme Meu Nome É Gal, ainda a ser lançado. Ela cantou Divino Maravilhoso, canção de Caetano Veloso e Gilberto Gil que lançou Gal para o mundo no Festival da Record de 1967 e que traz o verso: “É preciso estar atento e forte, não temos medo de temer a morte”.As cantoras paulistanas Céu e Tulipa Ruiz também homenagearam Gal, além de cantarem seus principais sucessos, como Malemolência e Efêmera.
Marina Sena brilha
Além do Olodum e de Hevelson Oliveira no começo, quem mais levantou o público foi a cantora Marina Sena, já no final do desfile, com a noite se estabelecendo e o trio próximo à Praça Roosevelt e ao Minhocão. A mineira de Taiobeiras radicada em São Paulo aproveitou a chuva torrencial para cantar Chuva de Prata, um dos hits da carreira de Gal, criando um romântico clima na despedida do bloco. Depois, emendou dois de seus próprios hits, Por Supuesto e Voltei pra Mim, com os foliões paulistanos cantando aos plenos pulmões em uma grande catarse coletiva. “Obrigada, Baixo Augusta, obrigada São Paulo. Eu amo essa cidade”, bradou Marina Sena, com um sorriso estampado no rosto de quem viveu uma verdadeira apoteose.
Blog do Arcanjo mostra quem brilhou no desfile do Acadêmicos do Baixo Augusta
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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