★★★★ Crítica: Gaslight atualiza clássico do teatro sobre opressão feminina sob fortes aplausos no Festival de Curitiba

Giovani Tozi e Erica Montanheiro em Gaslight: última direção de Jô Soares é destaque no 31º Festival de Curitiba © Lina Sumizono – Agência Daniel Sorrentino @festivaldecuritiba Blog do Arcanjo 2023

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

ENVIADO ESPECIAL AO FESTIVAL DE CURITIBA*

Os olhos marejados da atriz Erica Montanheiro ao sentir os fortes aplausos de mais de 2.000 pessoas após seu colega de elenco Giovani Tozi oferecer o espetáculo a Jô Soares no Teatro Guaíra abarrotado no 31º Festival de Curitiba dão a dimensão da força da sessão de Gaslight nas duas esgotadas sessões que realizou nesta edição do maior evento das artes cênicas na América Latina.

A peça atualiza o clássico de suspense do teatro escrito em 1938 pelo dramaturgo inglês Patrick Hamilton e levado ao cinema pelo diretor George Cukor em Hollywood em 1944, sobre a opressão feminina.

O texto narra a história de uma mulher tratada como louca por um marido manipulador e criminoso, que busca diminuí-la a cada instante.

O espetáculo é a última direção de Jô Soares, ao lado de Mauricio Guilherme, que finalizou a montagem após a morte de Jô, em agosto de 2022.

Giovani Tozi e Erica Montanheiro em Gaslight: jogo de violência psicológica de um macho tóxico © Lina Sumizono – Agência Daniel Sorrentino @festivaldecuritiba Blog do Arcanjo 2023

Jô é objeto de pesquisa acadêmica de Giovani Tozi, que lhe sugeriu montar o espetáculo que traz no título aquela que foi considerada a palavra do ano em 2022: gaslight é uma forma de violência psicológica nos relacionamentos afetivos.

No mesmo papel que no cinema foi da atriz sueca Ingrid Bergman, Erica Montanheiro se destaca na construção da mulher subjugada e constantemente maltratada pelo inescrupuloso companheiro, defendido por Giovani Tozi, que traz matizes psicopatas ao personagem.

A virada da personagem de Erica é um dos melhores momentos da encenação.

Maria Joana, Erica Montanheiro, Giovani Tozi e Mila Ribeiro em Gaslight no 31º Festival de Curitiba © Lina Sumizono – Agência Daniel Sorrentino @festivaldecuritiba Blog do Arcanjo 2023

Outras duas mulheres, na pele das empregadas, também chamam a atenção do público e foram aplaudidas em cena aberta, sobretudo quando estas se unem contra o “macho tóxico”: Maria Joana, que imprime força e sensualidade à sua personagem, e a engraçadíssima Mila Ribeiro, que, mesmo contida pelas marcações da direção, faz a alegria do público com muito pouco, graças a seu farto talento cômico.

Por fim, completa o elenco Leandro Lima na pele do detetive, ator escolhido pelo próprio Jô Soares para viver o personagem que o próprio diretor adoraria ter vivido.

Giovani Tozi e Leandro Lima em Gaslight no 31º Festival de Curitiba © Lina Sumizono – Agência Daniel Sorrentino @festivaldecuritiba Blog do Arcanjo 2023

Se o texto não traz tantas reviravoltas ou conflitos como geralmente é comum a obras deste tipo — Patrick Hamilton não chega perto de uma Agatha Christie ou de um próprio Jô Soares em seus livros, ele ganha força ao mostrar que sua temática permanece atualíssima. Mesmo diante de tantas tecnologias ou ditas evoluções, o bicho homem permanece o mesmo em sua mesquinharia.

Uma observação construtiva deste crítico seria a direção apostar em menos espaçamento entre os diálogos dos atores, o que imprimiria ritmo maior à encenação.

É preciso destacar os elegantes figurinos de época de Karen Bursttolin, bem como a cenografia de Marco Lima, que transportam o público ao século 19. César Pivetti também faz uma luz que imprime o ritmo de thriller da história, assim como a trilha de Ricardo Severo com suas intervenções narrativas.

Gaslight: última direção de Jô Soares foi ovacionada por Guairão lotado no 31º Festival de Curitiba © Lina Sumizono – Agência Daniel Sorrentino @festivaldecuritiba Blog do Arcanjo 2023

Fortemente aplaudida pelo Guairão no 31º Festival de Curitiba, Gaslight homenageia o próprio teatro clássico, com um texto que ainda hoje consegue entreter o público e que é atualizado por esta montagem que mostra que o teatro dramático, mesmo em sua forma tradicional, consegue força para comunicar ao público novas ideias.

★★★★
Gaslight
Avaliação: Muito Bom

Crítica por Miguel Arcanjo Prado

Blog do Arcanjo mostra camarim de Gaslight no Festival de Curitiba em fotos de Lina Sumizono

*O jornalista e crítico Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do Festival de Curitiba.

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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