Bernardo Bibancos é destaque no teatro, cinema e TV e tem filme selecionado em festival da França – Entrevista do Arcanjo
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Aos 26 anos, o ator, diretor e roteirista paulistano Bernardo Bibancos é nome de destaque na nova geração das artes. A começar por sua polivalência com presença constante em diversas linguagens.
Ele está na série Rio Connection, de Mauro Lima, parceria gravada em inglês pela Sony Internacional com o Globoplay, atualmente exibida no Canadá e na Europa e que deve chegar em breve ao público brasileiro.
E acaba de ter seu filme Smiles (título internacional; no Brasil se chama Sobre a Boca) selecionado pelo LGBTQ Marseille Film Festival, na França.
O artista terminou neste mês temporada de dois espetáculos no Centro Cultural São Paulo (CCSP): Enquanto Eu Esperava a Encomenda de um Livro de Maiakóvski que Tive uma Epifania Sobre a Revolução, com o Grupo Pano, e Pundonor, peça da argentina Andrea Garrote na qual dirige a atriz Lu Grimaldi.
Ator formado pelo Célia Helena Centro de Artes e Educação, Bernardo ainda fez mestrado em dramaturgia na Universidad Nacional de las Artes (UNA), em Buenos Aires, onde morou por um ano.
Nos palcos, esteve ao lado de grandes nomes como Sergio Mamberti e Rodrigo Lombardi na premiada peça Um Panorama Visto da Ponte, em 2018, além de atuar na televisão nas séries Vizinhos, no GNT, e Se Eu Fechar os Olhos Agora, na Globo.
Como roteirista, Bernardo escreveu a websérie No Fim Eu Tava Sozinha, indicada ao prêmio de Melhor Série Vertical, no Rio WebFest, o curta-documental Sobre a Boca, que está nos festivais nacionais e agora na França, e um longa ainda em fase de produção. Ele ainda atua como conselheiro do Museu Brasileiro da Pandemia, que pretende manter a memória da tragédia humanitária que vivemos recentemente.
Bernardo Bibancos concedeu esta entrevista exclusiva ao jornalista e crítico Miguel Arcanjo Prado para o Blog do Arcanjo, na qual defende a cultura como base de um país e fala sobre sua carreira em ascensão nas artes.
Leia com toda a calma do mundo.
Miguel Arcanjo Prado – Como foi fazer a série Rio Connection e ter este seu trabalho exibido na Europa e no Canadá?
Bernardo Bibancos – Uma loucura. Acho que ainda não assimilei!
Miguel Arcanjo Prado – A série foi gravada em inglês. Foi muito difícil atuar em outra língua? Como construiu essa proximidade com o idioma?
Bernardo Bibancos – Acho que o grande lance, na verdade, é ouvir em inglês. Ouvir de verdade! Ver seus parceiros de cena falando em outra língua e se relacionar com aquilo como se fosse a sua língua materna. Nesse aspecto, a preparação coordenada pelo Thiago Felix foi fundamental. Fez com que a gente chegasse tão afiado no set, que o inglês virou uma preoupação secundária.
Miguel Arcanjo Prado – Qual é a história da série Rio Connection? Qual é seu personagem e como foi seu processo de criação?
Bernardo Bibancos – A série é baseada numa história real, passada no Brasil da década de 1970, quando um grupo de gangsters fez do Rio de Janeiro um ponto central para o tráfico internacional. Eu faço parte de uma trama paralela que acontece em um dos episódios. Mais do que isso, só assistindo!
Miguel Arcanjo Prado – Qual a expectativa para a chegada da série ao Brasil? Você vai se dublar?
Bernardo Bibancos – É uma boa pergunta! É um modelo muito novo, né? Levando em conta o processo da outra coprodução internacional da Globo, Passaporte para a Liberdade, acho todos nós vamos nos dublar. Mas não tenho certeza. Estou bem ansioso pra ver o resultado!
Miguel Arcanjo Prado – Você já esteve em trabalhos na TV como a série Vizinhos, do GNT, e Se Eu Fechar os Olhos Agora, na Globo. O audiovisual é uma de suas paixões?
Bernardo Bibancos – Com certeza! Ver o set operando, o cinema acontecendo, é apaixonante!
Miguel Arcanjo Prado – Além de ator, você também é roteirista. Como surgiu essa verve?
Bernardo Bibancos – Acho que, em termos de teatro e cinema, o fenômeno me interessa como um todo; todas as áreas de criatividade que se convergem pra contar uma boa história. Até trilha sonora eu já fiz! Mas o roteiro, especificamente, tem um apelo determinante, que é deter o controle sobre a narrativa. Eu quero poder trabalhar com amigos, entregar bons personagens pra eles e vê-los produzindo em cima de algo que, antes, só existia na minha cabeça. Esse é meu sonho, mesmo.
Miguel Arcanjo Prado – É verdade que você estreia como roteirista de longa ainda em 2023? O que pode adiantar?
Bernardo Bibancos – Pois é! É um projeto bastante especial, ainda em desenvolvimento. Tá sendo uma baita escola pra mim, porque tenho trabalhado junto com gente que tá há anos nesse mercado e tentando sorver o máximo de conhecimento possível. O filme se passa no interior de São Paulo, numa cidade chamada Cajuru e tem essa dinâmica paralela que acontece longe dos grandes centros urbanos. Macondo, Bacurau, Javé, o filme vai por aí…
Miguel Arcanjo Prado – Você esteve recentemente em cartaz com sua Companhia de Teatro, o Grupo Pano, no CCSP, com Enquanto Eu Esperava a Encomenda de um Livro de Maiakóvski que Tive uma Epifania Sobre a Revolução. Fale um pouco sobre esse trabalho.
Bernardo Bibancos – Quem escreveu o texto foi o diretor da minha companhia de teatro, o Caio Silviano. Ele é o dramaturgo das duas peças encenadas pelo Grupo Pano, do qual eu faço parte. Sou amigo do Caio e dos meus camaradas do elenco desde os tempos de faculdade e sou absolutamente suspeito pra falar sobre a pesquisa que a gente vem fazendo juntos; uma mistura de Teatro do Absurdo, máscaras e teatro popular. Levantamos essa peça na raça e tivemos uma repercussão muito positiva nas duas temporadas que fizemos. Tudo que a gente quer é voltar ao palco o mais rápido possível!
Miguel Arcanjo Prado – Outro excelente momento seu nos palcos, nos bastidores, é Pundonor, peça excelente com grande atuação de Lu Grimaldi. Por que esse trabalho é marcante em sua carreira?
Bernardo Bibancos – É marcante por uma série de motivos. Primeiro, por causa da Lu Grimaldi, que me pegou no colo quando eu ainda era recém-nascido e, hoje, completando 50 anos de carreira, é minha sócia nessa empreitada. Segundo, porque é minha primeira direção e, agora que eu peguei gosto, provavelmente não será a última. E, terceiro, porque acredito de verdade que estamos trabalhando em cima de uma obra prima da dramaturgia argentina, escrita pela Andrea Garrote, que hoje é a diretora do meu mestrado.
Todo projeto de desenvolvimento de uma nação e de um povo tem que ter a cultura como um dos pilares centrais.
Bernardo Bibancos
ator, diretor e roteirista
Miguel Arcanjo Prado – Falando em mestrado, você estudou e morou em Buenos Aires. Ficou quanto tempo lá? Como foi esse período? O que mais aprendeu dos nossos hermanos?
Bernardo Bibancos – Eu morei por um ano em Buenos Aires, pra fazer meu Mestrado em Dramaturgia. Talvez tenha sido o período mais fértil e rico da minha vida. Sou apaixonado pelos argentinos e pela suas idiossincrasias. Se pudesse partilhar algo que aprendi com eles, além do sabor do mate e das medialunas, seria o seguinte: Diante de todas as adversidades que marcaram a história argentina, as manifestações artísticas serviram não só como veículo político, mas como força de identidade, pra que se tivesse o desejo e a força pra seguir. Por isso, entendo, hoje, que todo projeto de desenvolvimento de uma nação e de um povo tem que ter a cultura como um dos pilares centrais. Cultura é algo que não se tira, um capital muito precioso, e eles sabem e valorizam isso.
Miguel Arcanjo Prado – Você acha que a arte brasileira precisa ficar mais próxima da arte argentina?
Bernardo Bibancos – Acho que o Brasil precisa ficar mais próximo da América Latina de forma geral. Não dá pra negar a barreira gerada pela questão da língua, mas é imprescindível que a gente se reconheça e se apegue a nossa experiência conjunta como sudacas. Na Argentina, aprendi que a suposta rivalidade entre os dois países, o nosso e o deles, vem muito mais da nossa parte do que dos argentinos. Chega em Buenos Aires e fala o nome do Augusto Boal, do Caetano Veloso, do Milton Nascimento… os caras têm uma reverência absoluta!
Miguel Arcanjo Prado – Você estudou no Célia Helena Centro de Artes e Educação. Qual foi a importância de ter passado por este espaço para sua carreira?
Bernardo Bibancos – Eu passei treze anos no Célia Helena. Primeiro, na Casa do Teatro, que é o curso informal, para as crianças. Depois, no Técnico em Atuação. E, por fim, no Bacharelado em Artes Cênicas. Mais de uma década frequentando aquele espaço, pensando e fazendo teatro. Acho que esse nível de importância é quase impossível de mensurar.
Miguel Arcanjo Prado – Você ainda tem atuação no Museu Brasileiro da Pandemia. Como é sua atuação nesse projeto que busca manter a memória do que foi essa época tão difícil para todos nós?
Bernardo Bibancos – O Museu surgiu da ânsia de fazer justiça às vítimas de uma doença que excedeu os limites da questão puramente sanitária e virou o centro de um debate político e social. Quem, de fato, tem direito a vida no Brasil? A quem se deve a responsabilidade pelos quase 700 mil mortos no nosso país? E, fundamentalmente, como garantir que novas tragédias, como essa, não venham a se repetir? Nós, conselheiros do Museu, acreditamos que a memória é um dos instrumentos mais poderosos na construção de um país mais justo e, por isso, trabalhamos há quase dois anos para fazer o projeto acontecer.
Miguel Arcanjo Prado – O que você pode adiantar de seus planos futuros nos palcos e telas?
Bernardo Bibancos – Por ora, posso dizer que estou bastante envolvido com os projetos em andamento. Pundonor, Maiakóvski, a série, o filme, o museu… Mas a gente nunca sabe o que vai aparecer. Secretamente, estou torcendo pra ficar ainda mais ocupado! [risos]
Miguel Arcanjo Prado – Falando em ficar ocupado, você acaba de receber a notícia de que seu filme Smile (Sobre a Boca, aqui no Brasil) foi selecionado pelo LGBTQ Marseille Film Festival, na França. Como se sente? O que pode adiantar desse filme?
Bernardo Bibancos – A notícia acaba de chegar. Estou muito feliz com essa conquista.
Miguel Arcanjo Prado – Pra terminar: Por que você faz teatro?
Bernardo Bibancos – Posso te responder essa daqui uns 20 anos?
Miguel Arcanjo Prado – Pode. Nos vemos em 20 anos.
Bernardo Bibancos – Combinado.
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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