Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Maior evento das artes cênicas no mundo, o Festival Internacional de Edimburgo acontece em 2023 de 4 a 27 de agosto na capital da Escócia, Reino Unido.
As vendas de ingressos começam nesta quarta, 26 de abril, para assinantes, e no dia 3 de maio para o público em geral.
O site do evento já publicou a programação deste ano, que promete incendiar o verão escocês em uma das cidades mais belas da Terra.
Brasil na programação
O Blog do Arcanjo adianta com exclusividade que a diretora de cinema e teatro carioca Christiane Jatahy representa o Brasil em Edimburgo, para onde leva pela primeira vez no Reino Unido seu espetáculo Dusk (ou Crepúsculo, em português). O título original da peça, criada em 2021, é Entre Chien e Loup (em francês, Entre o Cão e o Lobo).
A obra é baseada no filme de Lars von Trier, Dogville.
As sessões serão de 5 a 8 de agosto, no The Lyceum, um dos mais tradicionais espaços culturais de Edimburgo, localizado nos arredores do famoso Castelo de Edimburgo.
A história da peça se mesca à do Brasil recente. Tentando escapar do regime opressivo e quase fascista de seu país, uma jovem brasileira, Graça, foge de sua terra natal. Ela encontra refúgio em uma comunidade de artistas de teatro encenando Dogville e abordando a questão: até que ponto nossa sociedade é tolerante com o Outro? A princípio, Graça é recebida com entusiasmo pelo grupo. No entanto, mais tarde ela é vítima de exploração e vivencia atitudes racistas e xenófobas — temas recorrentes na obra de Jatahy.
Jatahy foi premiado com o Leão de Ouro pelo conjunto de sua obra em teatro na Bienal de Veneza de 2022 e elogiado por fundir os horizontes do cinema e do teatro. Em Dusk , fazendo sua estreia no Reino Unido no Festival, cinema e teatro se misturam para oferecer muitas perspectivas diferentes sobre uma verdade absoluta e final.
Brasil em Edimburgo
Alguns artistas brasileiros já foram destaque na história do Festival Internaiconal de Edimburgo, como Roberto Cordovani e a Cia de Teatro Os Satyros, de Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez. Em 2022, a peça Isto É um Negro e o Grupo Gattu, dirigido por Eloisa Vitz, e outros nove representantes do teatro paulista participaram do evento internacional, que teve cobertura do jornalista Miguel Arcanjo Prado neste Blog do Arcanjo, em ação do CreativeSP, parceria do InvestSP, OEI no Brasil e Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, que viabilizou a viagem de todos à Escócia.
Sobre a peça
Entre Chien et Loup conta a história de Graça que foge do Brasil em 2021, no momento em que o fascismo cresce sob o governo de extrema-direita. Ela busca um novo lugar. Uma nova possibilidade de vida.
Ela está em um teatro, nele os personagens do filme d retomam a história do filme com o desejo de mudá-la, de não repetir o mesmo roteiro, o fracasso da aceitação do outro. Ela aceita participar da experiência.
Mas a vida no palco, onde teatro e cinema se misturam, e o desejo de aceitação se transformam em um laboratório humano implacável. Os personagens dessa história, pouco a pouco, vão repetindo os mesmos impulsos covardes. E o filme que está sendo feito ao vivo, como parte da experiência dramaturgia, começa a ser invadido pelos fantasmas do passado.
Graça, fugindo do fascismo, sem se dar conta, se joga em seus braços, como um ser que avança, determinado, rumo ao seu trágico destino. Isso pode acontecer em qualquer lugar do mundo. Mas é aqui e agora. Um lugar fictício que, infelizmente, está próximo da realidade.
Na cena e no filme, tudo é visível: os atores filmando e sendo filmados, as relações entre eles, a música ao vivo, a montagem do filme, a discussão sobre o roteiro. E a possibilidade, mesmo que utópica, de mudar, de não repetir o mesmo ciclo eternamente.
Entre Chien e Loup é a primera parte da Trilogia do Horror.
Nos últimos anos, o Brasil começou um flerte com um regime da extrema direita, pondo em risco a democracia conquistada muito recentemente. Diante da urgência da situação em sua terra natal, ficou claro para Christiane Jatahy que a sua arte – resultado de uma contínua exploração das fronteiras entre cinema e teatro, entre ficção e realidade, entre inércia e necessidade de mudança – seria uma arma nas lutas que precisariam ser travadas.
Três episódios formam esta Trilogia do Horror, com o objetivo de dissecar as estruturas endêmicas que possibilitaram a ascensão do governo Bolsonaro ; criada em três línguas diferentes e em três contextos muito distintos, ela abre uma série de janelas sobre o apagão que está afetando uma nação e ameaçando fazer o mesmo em tantas outras:
Entre Chien et Loup foi criado no Comédie the Genève com um elenco misto suíço-francês-brasileiro para explorar os mecanismos do fascismo, num diálogo com o Dogvillede Lars Von Trier. A estréia foi no Festival de Avignon 2021 e segue desde então em uma extensa turnê
Baseado no filme Dogville de Lars von Trier
Adaptação, encenação e direção do filme Christiane Jatahy
Colaboração artística, cenografia e luzes Thomas Walgrave
Direção de fotografia e montagem ao vivo Paulo Camacho
Música Vitor Araujo
Figurinos Anna Van Brée
Sistema de vídeo Julio Parente e Charlélie Chauvel
Som Jean Keraudren
Colaboração e assistente Henrique Mariano
Assistente de direção Stella Rabello
Conjunto de produção Ateliers de la Comédie de Genève
Com Véronique Alain, Julia Bernat, Élodie Bordas, Paulo Camacho, Azelyne Cartigny, Philippe Duclos, Vincent Fontannaz, Viviane Pavillon, Matthieu Sampeur, Valerio Scamuffa
Com a participação de Harry Blättler Bordas
Agradecimentos Martine Bornoz, Adèle Lista, Arthur Lista
Produção Comédie de Genève
Co -produção Odéon-Théâtre de l’Europe – Paris, Piccolo Teatro di Milano-Teatro d’Europa, National Theatre of Brittany – Rennes, Maillon Théâtre de Strasbourg – palco europeu
Lars Von Trier é representado na Europa francófona por Marie Cécile Renauld, MCR Agence Littéraire em acordo com Nordiska ApS.
Christiane Jatahy é artista associada do Odéon-Théâtre de l’Europe, do Centquatre-Paris, do Schauspielhaus Zürich, do Arts Emerson Boston e do Piccolo Teatro di Milano. A empresa Axis é apoiada pela Direção Regional de Assuntos Culturais de Île-de-France , Ministério da Cultura da França.
Duração 1h50
Idade recomendada 15+
Espetáculo em francês e português, com legendas em inglês (opcional)
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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