Filme do jornalista Gert-Peter Bruch e da princesa Esmeralda da Bélgica tem sessão dia 29/4 em São Paulo
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
O aguardado documentário Amazônia, Coração da Mãe Terra é exibido no Brasil pela primeira vez nesta semana, com sessão gratuita em São Paulo no dia 29 de abril, sábado, às 20h, no Espaço Itaú de Cinema. O filme é codirigido e coproduzido por Gert-Peter Bruch e pela princesa Esmeralda da Bélgica, dois nomes que se destacam na cena internacional pela defesa de nossa floresta e de seus povos originários.
A produção conta com imagens da exuberante fauna e flora da Amazônia e também com depoimentos de nomes que lutam para preservá-la, incluindo aí lideranças indígenas. O filme conta no Brasil com apoio da Documenta Pantanal, instituição que reúne profissionais de diversas áreas com o desafio de tornar os protetores e as riquezas do Pantanal mais conhecidos do grande público.
Em sua narrativa repleta de sensibilidade poética e defesa do meio ambiente, o documentário adverte, por meio de diferentes vozes de lideranças indígenas – como a do cacique Raoni –, para a urgência de esforços globais em defesa dos povos originários, tão maltratados nos últimos tempos e legítimos guardiões da floresta.
“Eu vou brigar mais, até conseguir. Você não pode ficar fraco. Tem que ser duro.”
Raoni Metuktire
líder do povo Caiapó no filme Amazônia, Coração da Mãe Terra
Tempos difíceis para a Amazônia
Os povos originários e a Floresta Amazônica sofreram nos últimos quatro anos com um governo federal no Brasil que ignorou a importância da preservação da cultura e da natureza, que literalmente ardeu em chamas.
O noticiário está repleto de invasores, grileiros e garimpeiros, que destroem este patrimônio da Humanidade, cuja preservação precisa ser preocupação de todos, já que a vida na Terra depende disso.
A triste realidade amazônica foi escancarada ao mundo no começo do ano, com o terrível flagelo humanitário vivenciado pelo povo Yanomami.
Agora, com a reestruturação de instituições e de políticas públicas na esfera federal em defesa dos povos indígenas com o novo Governo Lula, quem luta pela Amazônia viu reacender esperanças, sobretudo com a criação do inédito Ministério dos Povos Originários, capitaneado pela líder do povo Arariboia e ativista Sonya Guajajara.
É neste cenário propício à temática que o filme chega ao País.
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) anuncia neste mês de abril uma agenda que domina o Acampamento Terra Livre 2023, evento que acontece de 24 a 28, em Brasília (DF).
É nesta terra mais propícia que é exibido pela primeira vez o documentário Amazônia, Coração da Mãe Terra (2022) é exibido pela primeira vez, depois seguindo para São Paulo, em lançamento com a presença de seus produtores e diretores, Gert-Peter Bruch e a princesa Esmeralda da Bélgica.
O filme ainda conta com trilha incidental e das chamadas Canções da Mãe Terra por Clément Garcin e Béatrice Little Bear.
“Proteger um bioma é proteger todos os biomas e esse filme é um exemplo de como todos eles estão interligados e como a preservação perpassa o social. O documentário é uma ferramenta importantíssima na batalha pela conservação, essa tem sido a nossa experiência”, defende Mônica Guimarães, diretora-executiva do Documenta Pantanal, também produtora executiva do maior festival de documentários da América latina, o É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários.
Amazônia, Coração da Mãe Terra também será exibido em sessão única e gratuita, no Espaço Itaú de Cinema – Augusta, em São Paulo, no dia 29 de abril, com a presença do diretor, lideranças indígenas e da princesa Esmeralda da Bélgica, que após a projeção permanecerão com o público para um bate-papo.
A conversa também terá a presença do advogado Orlando Villas-Bôas Filho e de Marina Villas-Bôas, filho e viúva do sertanista Orlando Villas-Bôas.
Entre 1963 e 1975, em importante colaboração no Xingu, Marina atuou como enfermeira e foi responsável pelo ambulatório designado para cuidar da saúde dos indígenas, com resultados excepcionais, como zerar os registros de óbito infantil.
Engajamento em prol da floresta e dos povos originários
Ativista ambiental desde os 17 anos, Gert-Peter Bruch tomou consciência das lutas dos povos originários do Brasil por intermédio da campanha de arrecadação de fundos globais realizada em 1989 pelo cantor britânico Sting, em solidariedade ao cacique Raoni Metuktire, líder do povo Caiapó, que então somava esforços para que fossem iniciadas as primeiras demarcações de terras indígenas na esteira de direitos recém-adquiridos com a promulgação da Constituição Federal de 1988.
“Raoni conseguiu, como um imã, chamar pessoas de dentro e de fora do Brasil para uma ação muito importante, ao lado de Sting, que ajudou na demarcação de várias terras indígenas.A grande contribuição de Raoni e de outros que se portam como ele é a divulgação de que eles estão aqui e agora. Eles não são índios históricos. Eles vivem o aqui e agora, e essa ação é um incentivo”, defende, em depoimento registrado no documentário, o indigenista e ex-presidente da FUNAI, Sydney Possuelo.
Jornalista e ativista ambiental, a princesa Esmeralda da Bélgica tem ligação intrínseca com a luta em defesa dos povos originários. Seu pai, o Rei Leopoldo III (1901 – 1983), abdicou do trono e foi um precursor do ambientalismo, destacando-se como um dos mais participativos ativistas em defesa da Amazônia no cenário internacional, a partir de 1964, quando teve o primeiro contato com os Irmãos Villas-Bôas – os sertanistas Cláudio, Orlando e Leonardo – e com o nascente Parque Nacional do Xingu, ao longo de dois meses em que também estabeleceu amizade com o cacique Raoni e se destacou como fotógrafo, legando um inestimável acervo imagético compilado no livro Diário de Viagem – Fotografias do Rei Leopoldo III ao Brasil – 1923-1923, editado pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP).
“A luta que os irmãos Villas-Bôas desenvolveram ao longo dos anos 1960 foi uma luta muito difícil, e se não houvesse o respaldo de grandes figuras como, por exemplo, a do Rei Leopoldo III, provavelmente eles não tivessem conseguido o êxito que tiveram na manutenção desse grande projeto que foi o Parque Indígena do Xingu”, defende, no filme, Orlando Villas-Bôas Filho.
Cosmogonia encantada da floresta
Com narrativa poética e protagonismo das mais expressivas lideranças indígenas em atuação no País, Amazônia, Coração da Mãe Terra adverte para a urgência de articulação de esforços globais em defesa dos povos originários e da preservação dos recursos naturais da maior floresta tropical do mundo.
“Graças a Mãe Terra, as folhagens nos protegem e resfriam o chão. Nós respiramos ar puro e repelimos os incêndios. Não é mais o caso de todas essas regiões onde a floresta já foi arrancada. Restam apenas pequenas ilhas de floresta que eles também querem destruir. Eu não gosto disso. Não gosto nada disso”, adverte e lamenta Raoni, em um dos vários depoimentos seus registrados no filme.
A solução para conter a devastação é conhecida há décadas, como reitera o diretor de Amazônia, Coração da Mãe Terra: “O mapa idealizado há 40 anos está exatamente nas áreas protegidas da Amazônia, o resto sumiu. Se você demarcar a terra, estará protegendo a terra; se não fizer isso, perderá a floresta”, diz Bruch.
Para Kretã Kaingang, chefe do povo Kaingang, originário da Mata Atlântica do Paraná, é preciso compreender que as riquezas da floresta não podem ser mensuradas apenas como uma fonte de recursos naturais, mas sim como um terreno sagrado, de caráter espiritual para os nativos que ali vivenciam uma cosmogonia completamente alheia aos valores de quem reside nos grandes centros urbanos.
“Há muitas pessoas que não entendem como funciona a floresta. Tem os seres vivos e os seres espirituais dentro da floresta. Então, para nós, os povos indígenas, ter acesso, entrar nessas florestas, passar e sentir aquela força de espírito dos seres encantados, que nós chamamos, é muito importante. A gente não é nada diferente de nada que tem dentro daquele território e daquela terra. A gente é igual a todos. Então, um tem que respeitar o outro”, afirma Kretã.
Para Valdelice Veron, líder do povo Guarani-Kaiowá no cerrado de Mato Grosso do Sul, o dia a dia de contemplação de uma rotina encantada dispensa hierarquia sobre a importância de todos os seres vivos da floresta: “Cada bichinho, cada joaninha, cada formiga, começando dos bichinhos pequenos, tem seu papel para nós. E os bichos grandes, como as antas e as capivaras, ajudam a limpar os rios”, explica.
No documentário, essa dimensão mística defendida por Kretãe Valdelice é reverberada em um depoimento de Jojo Mehta, diretora-executiva da Stop Ecocide International, instituição baseada no Reino Unido com atuação em diversos países: “Para as culturas indígenas, a relação com o meio ambiente está muito ligada ao patrimônio cultural e às práticas culturais. O indígena não pensa no mundo natural como uma fonte de recursos, o mundo natural é como um nosso parente”, diz.
Amazônia, Coração da Mãe Terra
FICHA TÉCNICA
Direção e produção:
Gert-Peter Bruch e Esmeralda da Bélgica
Câmeras:
Todd Southgate
Gert-Peter Bruch
Alan Schvarsberg
Olivier Schneuwly
Onildo Santos
João Pedro Augusto de Paula Albuquerque
Montagem:
Mohammed El Sharqawy
Música:
Clément Garcin, Béatrice Little Bear
Cantos da Mãe-Terra:
Béatrice Little Bear
Mixagem:
Maxime Libert
Legandas:
Chlé Le Bail
SERVIÇO
Espaço Itaú de Cinema – Augusta, Sala 1
Rua Augusta, 1475, Consolação – São Paulo
Exibição em 29/4/2023, sábado, às 20h.Ingressos gratuitos serão distribuídos1h antes da projeção.
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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