★★★★ Crítica: Bonnie & Clyde tem elenco vigoroso em ritmo frenético de ação com história do famoso casal de bandidos

Eline Porto e Beto Sargentelli mostram sintonia fina como o casal de bandidos Bonnie & Clyde © Stephan Solon Divulgação Blog do Arcanjo 2023

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

★★
Bonnie & Clyde
Avaliação: Muito Bom

Beto Sargentelli é um dos maiores astros do teatro musical brasileiro. Não só é excelente no canto, na dança e na atuação, como também tem demonstrado ser um habilidoso homem de negócio nos bastidores deste mercado, conseguindo construir relações sólidas que lhe permitem voos mais altos, como produzir o espetáculo que protagoniza. Em Bonnie & Clyde, um dos melhores espetáculos da temporada 2023, Sargentelli se une a Eline Porto, outra atriz de destaque na cada vez mais brilhante constelação de estrelas dos musicais, e a Adriana Del Claro, atriz que havia dado uma pausa na cena para se tornar uma das produtoras mais importantes do mercado e que retoma a atuação nesta montagem que o trio produz com realização do Ministério da Cultura e patrocínio de Esfera e Santander Seguros e Previdência

Em curtíssima temporada que chega ao fim neste domingo, 14 de maio, no 033 Rooftop do Teatro Santander, em São Paulo, o espetáculo inova ao propor uma ambientação de proximidade para o público acompanhar a história: em mesinhas, degustando petiscos e drinques, diante de uma montagem altamente intimista, com as cenas acontecendo literalmente em sua cara. É possível ver cada gotícula de suor na testa dos atores ou detalhes da costura do figurino.

Esta é a primeira montagem na América Latina do sucesso da Broadway. São Paulo viu sua montagem estrear junto com a encenação londrina, no West End, Reino Unido. O público já entra no clima logo na hall do teatro, quando vê diante de seus olhos um elegante Ford – V8 original, usado e abusado para as fotografias que vão lotar as redes sociais e ajudarem no marketing do espetáculo.

Aline Cunha, Aurora Dias, Claudio Lins, Mariana Gallindo e Adriana Del Claro em Bonnie & Clyde © Stephan Solon Divulgação Blog do Arcanjo

Em cena, o espectador assiste um ritmo de ação vertiginoso com a história do casal de bandidos mais famoso e procurado da história, que tocou o terror nos EUA dos anos 1930, tempos de dureza pós Grande Depressão, e que foram alçados pela imprensa à categoria de celebridades, demonstrando que o crime, assim como a arte, também constrói a fama.

Diretor habilidoso em recursos, João Fonseca assume o comando da engrenagem e se sai muito bem, imprimindo ritmo e ação de sobra ao espetáculo: é raríssimo ver o gênero ação bem feito nos palcos e esta montagem é um belo exemplo do estilo.

Thiago Gimenes também se sobressai com a direção musical, que aposta na força do coro gospel para arrepiar todos os pelos do corpo do espectador. Keila Bueno, por sua vez, desenha coreografias envolventes e uma direção de movimento que dialoga com o espaço inusitado todo o tempo.

João Pimenta criou figurinos que levam o público de volta no tempo. Também é preciso ressaltar o design de som de Tocko Michelazzo e o design de luz de Paulo Cesar Medeiros. Cesar Costa criou uma cenografia funcional que se une ao visagismo de Marcos Padilha para criar verossimilhança na história, colocando o público em um verdadeiro bar do Velho Oeste.

Rafael Oliveira assina a bem sucedida versão do texto e das letras das 22 canções, que navegam por rtimos norte-americanos como country, western, blues e pop da Broadway.

Gui Giannetto e Aline Cunha são destaques no elenco de Bonnie & Clyde com suas vozes poderosas © Stephan Solon Divulgação Blog do Arcanjo

Elenco vigoroso

Vigorosos, Eline Porto e Beto Sargentelli estão em adorável simbiose de talento como Bonnie Parker e Clyde Barrow. Ambos apresentam entrega máxima e a intensidade cênica que o amor dos dois bandidos lendários pede. A presença cênica dos dois leva o público a torcer por aquele amor e se assustar cada vez que o mesmo é ameaçado. É raro ver uma química tão potente como vemos no casal protagonista de Bonnie & Clyde, O Musical, o torna Beto Sargentelli e Eline Porto herdeiros naturais de outra dupla famosa por sua química nos palcos, Claudia Raia e Jarbas Homem de Mello.

No time coadjuvante, é preciso destacar as vozes soberanas de Aline Cunha, como Eleanore, e de Gui Giannetto, como Pastor, fazendo tremer todas as estruturas e balançar as almas quando abrem a boca. O canto dos dois é verdadeira dádiva dos céus. Ter estes dois atores no elenco eleva qualquer musical.

Mariana Gallindo demonstra segurança na sólida construção de sua Emma Parker, a preocupada mãe de Bonnie, que vê a filha seduzida pelo charmoso meliante. Claudio Lins, como o irmão mais velho de Clyde, Buck, surpreende ao apostar em tintas bem humoradas no desenvolvimento do personagem, exalando maturidade alcançada com anos de palo. Faz par a ele Adriana Del Claro, em sua retomada na atuação como Blanche, mulher religiosa e preocupada com os rumos da família fora da lei, com uma personagem vivendo o cotidiano do conflito entre a moral e o amor, razão e coração.

Ainda estão no dedicado e talentoso elenco Aurora Dias (Cumie Barrow), Bruna Estevam (jovem Bonnie), Davi Novaes (cover de jovem Clyde e swing), Elá Marinho (Governadora Ferguson), Renato Caetano (Frank), Lara Suleiman (cover de jovem Bonnie e swing), Mariana Gallindo (Emma Parker), Oscar Fabião (Xerife Schmidt), Pedro Navarro (Ted), Rafael de Castro (Henry Barrow), Thiago Perticarrari (Delegado Johnson) e Yudchi Taniguti (jovem Clyde).

Teatro musical em alto estilo, Bonnie & Clyde atesta a maturidade do teatro musical brasileiro. Este crítico só lamenta que a temporada tenha sido tão curta, o que é um verdadeiro crime diante de uma produção tão especial.

★★
Bonnie & Clyde
Avaliação: Muito Bom

Crítica por Miguel Arcanjo Prado

@bonnieclydemusical

Bonnie & Clyde

Nos EUA, o musical Bonnye & Clyde surgiu baseado no filme de Hollywood Bonnie & Clyde – Uma Rajada de Balas, dirigido por Arthur Penn em 1967, com Faye Dunaway e Warren Beatty. A obra teatral traz músicas de Frank Wildhorn (Jekyll & Hyde), letras de Don Black (Sunset Boulevard) e libreto de Ivan Menchell. A adaptação estreou em San Diego em 2009, chegando à Broadway em 2011, e conquistou duas indicações ao Tony Awards, além de três ao Outer Critics Circle Awards e cinco ao Drama Desk Awards, ambos incluindo Melhor Novo Musical. Em 2022 contou com uma temporada de ingressos esgotados no West End de Londres, onde reestreou em março, quase que simultaneamente com a montagem brasileira.

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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