Os Satyros estreiam As Bruxas de Salém, clássico de Arthur Miller, no Espaço dos Satyros na Praça Roosevelt em 17 de junho
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Um dos grandes clássicos do teatro mundial é visitado pela Cia. Os Satyros em seu Espaço dos Satyros na Praça Roosevelt, centro de São Paulo. O premiado grupo teatral fundado há 34 anos por Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez marcou para 17 de junho a estreia de sua versão de As Bruxas de Salém, clássico do dramaturgo estadunidense Arthur Miller. Em sua conhecida ponte com o contemporâeno, a encenação de Rodolfo García Vázquez promete dialogar com o Brasil da Lava Jato e com a tentativa de golpe em Brasília em 8 de janeiro de 2023.
Com um elenco de 33 atores, idealização de Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez e direção de Rodolfo García Vázquez, a montagem de As Bruxas de Salém do Satyros quer levar os espectadores ao terrível tempo das caças às bruxas do século 17, traçando paralelos com a sociedade brasileira atual, repleta de fake news, cultura do ódio, cancelamento, violência de massas, manipulação judicial e obscurantismo.
Inspirada por eventos reais ocorridos na cidade de Salém, Massachusetts, durante o final do século 17, a peça As Bruxas de Salém de Arthur Miller retrata a histeria coletiva que tomou conta da comunidade puritana de Salém, levantando questões atemporais sobre manipulação, intolerância, a distorção da realidade e os perigos do fanatismo religioso.
Sob a direção de Rodolfo García Vázquez, Os Satyros busca trazer uma abordagem contemporânea à obra, incorporando uma reflexão decolonial. A encenação traz à tona as dinâmicas sociais presentes no Brasil dos últimos anos, especialmente no impacto da operação Lava Jato na sociedade brasileira, os desmandos do sistema judicial que culminaram em perseguições políticas até a ascensão da extrema direita no cenário político e sua derrocada.
Com cenários e figurinos que remetem ao puritanismo, a peça cria um ambiente provocativo e imersivo que estimula a reflexão e o questionamento do público. Através do poderoso texto de Miller e da interpretação cênica da companhia, o público será confrontado com as interseções entre passado e presente, entre a sociedade de Salém e os conflitos políticos nacionais que deram origem ao 8 de janeiro. “As Bruxas de Salém” é uma oportunidade imperdível para os amantes de teatro explorarem um clássico moderno, atualizado para dialogar com a realidade brasileira, estimulando uma reflexão crítica sobre a sociedade em que vivemos.
Temporada
A temporada de “As Bruxas de Salém” terá início no dia 17 de junho e acontecerá no Espaço dos Satyros, na Praça Roosevelt, nº 214, local que é a casa do coletivo desde seu retorno ao Brasil, em 2000, após uma década na Europa. O espetáculo fará sessões de quinta a sábado, às 20h30, e domingo, às 18h, com temporada até 27 de agosto.
As Bruxas de Salém: enredo
Na pequena cidade de Salém, Massachusetts, EUA, durante o século 17, uma onda de histeria toma conta da comunidade quando um grupo de meninas adolescentes acusa várias mulheres da cidade de bruxaria. Entre as personagens principais estão John Proctor, um fazendeiro respeitado na comunidade; o reverendo Parris, um pastor ambicioso e inimigo de Proctor; Abigail Williams, a jovem sobrinha do reverendo que teve uma paixão frustrada; Elizabeth Proctor, esposa de John; e o reverendo Hale, um especialista em bruxaria enviado para investigar as acusações. Conforme as acusações se multiplicam, a cidade é tomada pelo medo e paranoia, dividindo-se entre aqueles que acreditam nas acusações e aqueles que desconfiam das motivações das jovens. John Proctor se vê no centro do conflito, lutando para proteger sua esposa e enfrentando seu próprio passado. A peça aborda temas profundos como manipulação, histeria coletiva, moralidade e o preço da integridade. À medida que a narrativa se desenrola, os personagens são testados em sua coragem e moral, revelando segredos sombrios e forjando alianças inesperadas. “As Bruxas de Salém” é uma alegoria que explora as tensões entre a verdade e a mentira, a justiça e a injustiça, deixando o público imerso em um enredo repleto de conflitos morais e emocionais que estabelece relações diretas com a violência política, a manipulação, a política de cancelamento, a pós-verdade e as fake news de hoje.
SERVIÇO
As Bruxas de Salém
Temporada: De 17 de junho a 27 de agosto
Quando: Quintas, sextas e sábados às 20h30; Domingos às 18h
Onde: Espaço dos Satyros (Praça Roosevelt, 214, Consolação)
Tel. 11 3255 0994 / 11 3258 6345 | Whatsapp: 11 97883-9696
Duração: 140 min. e intervalo de 15 min.
Classificação etária: 16 anos
Gênero: Drama
Ingressos: R$ 50,00 (inteira), R$ 25,00 (meia-entrada) e R$ 5,00 (para moradores da Praça Roosevelt, somente na bilheteria física)
– Venda on-line e bilheteria física.
Link para compra de ingressos antecipados na Sympla:
https://bit.ly/SatyrosBruxas
FICHA TÉCNICA
Idealização: Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez
Texto: Arthur Miller
Direção: Rodolfo García Vázquez
Elenco: Alana Carrer, Alessandra Nassi, Alex de Felix, Aline Barbosa, André Lu, Anna Paula Kuller, Bruno de Paula, Cristian Silva, Daj, Diego Ribeiro, Diogo Silva, Eduardo Chagas, Elisa Barboza, Felipe Estevão, Georgia Briano, Guilherme Andrade, Gustavo Ferreira, Henrique Mello, Heyde Sayama, Ícaro Gimenes, Jéssica de Aquino, Julia Bobrow, Karina Bastos, Laura Molinari, Luís Holiver, Marcia Dailyn, Mariana Costa, Mariana França, Morena Marconi, Pri Maggrih, Sabrina Denobile, Suzana Horácio e Vitor Lins
Assistência de Direção: Guilherme Andrade
Tradução: Rodolfo García Vázquez
Dramaturgismo: Luís Holiver e Sabrina Denobile
Figurino: Elisa Barboza e Marcia Dailyn
Cenário: Thiago Capella
Iluminação: Flávio Duarte
Sonoplastia: Coletiva
Preparação Vocal: André Lu
Operação de Luz: Flávio Duarte
Operação de Som: Gabriel Mello
Produção: Diego Ribeiro, Elisa Barboza, Gabriel Mello e Maiara Cicutt
Realização: Os Satyros
Curiosidades sobre a peça As Bruxas de Salém
— A primeira montagem do texto, em 1953, apesar de ser premiada com o Tony Awards, não chegou a ser um sucesso comercial ou de crítica. Somente no ano seguinte, com a segunda montagem, ela foi unanimidade de crítica e público.
— A primeira adaptação para o cinema foi realizada por Jean-Paul Sartre, nos anos 1950
— Em 1996, Arthur Miller foi responsável pela adaptação para o cinema, recebendo indicação para o Oscar como melhor roteiro adaptado. O elenco contava com Daniel Day-Lewis e Winona Ryder no elenco.
— A peça é totalmente inspirada em fatos históricos ocorridos em Salém, sendo que Arthur Miller pesquisou em documentos públicos do processo judicial da época.
— Em 1953, Arthur Miller recebeu convite para assistir à estreia europeia da peça em Bruxelas, mas teve negado seu pedido de passaporte. Segundo o governo americano não seria de interesse nacional autorizar a saída de Miller naquele momento.
— A primeira montagem de “As Bruxas de Salém” no Brasil ocorreu em 1960 e teve a direção de Antunes Filho.
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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