Caetano Veloso é consagrado em Buenos Aires e recebe Prêmio Mercedes Sosa na Argentina

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Com Sabrina Almeida, de Buenos Aires
Especial para o Blog do Arcanjo
Caetano Veloso e Argentina têm uma longa história de amor. Isso ficou evidente na lotada casa de shows portenha Buenos Aires Movistar Arena, no charmoso bairro de Villa Crespo, em Buenos Aires, onde apresentou nesta sexta, 9 de junho de 2023, sua turnê de seu mais recente álbum, Meu Coco, e foi o primeiro artista a receber o recém-criado Prêmio Mercedes Sosa, alta distinção cultural que leva o nome da maior cantora argentina. Caetano foi ovacionado e consagrado pelos argentinos em seus 80 anos de vida, tratado com o status de astro internacional que é.

Caetano se viu diante de um público de 14 mil pessoas, representantes dos argentinos que por ele nutrem forte carinho, admiração e devoção. O clima ficou ainda mais intenso, pois este poderá ter sido o último show de Caetano Veloso em Buenos Aires, já que o músico anunciou que, após esta turnê, com a qual celebra suas oito décadas de vida, só pretende cantar na Bahia, sua terra natal.


Caetano e Argentina: um caso de amor
A relação de Caetano com a música argentina é antiga. Nos anos 1970, o músico se aproximou do cancioneiro em espanhol e passou a se relacionar cada vez mais com a música de nosso país vizinho.
Nos anos 1980, Caetano ficou próximo de ícones do rock argentino como Fito Páez, Charly García e Fabiana Cantilo, que passaram temporadas no Rio de Janeiro.
Nessa época, Caetano gravou com Fito Páez La Rumba del Piano, canção do astro do rock argentino, gravada pelos dois em português e espanhol, com versão brasileira pelo gaúcho Kleidir.
Caetano ainda fez um show histórico com a argentina Mercedes Sosa, a voz da América Latina, ao lado de Milton Nascimento, Chico Buarque e Gal Costa, quando eles interpretaram juntos Volver a los 17, um clássico do cancioneiro latino-americano composto pela chilena Violeta Parra, em apresentação que entrou para a história da música no continente.
Caetano também gravou o álbum com canções em espanhol Fina Estampa, em 1994, na qual gravou sua belíssima versão para Un Vestido y Un Amor, canção do lendário disco El Amor Después del Amor, do argentino Fito Páez, álbum que completou 30 anos recentemente.
Clássicos e pitadas de novidades
“É sempre uma beleza estar em Buenos Aires”
Caetano Veloso
Diante de um monumental legado construído em cerca de 60 anos de vida pública por meio da música, Caetano Veloso apresentou em Buenos Aires um misto de canções clássicas de seu repertório e algumas pitadas de novidades.
Vestido por um límpido figurino branco que tornava difícil filmá-lo com os celulares, o músico demonstrou seu carisma e malemolência costumeiros.
Os fãs argentinos se impressionaram com a voz límpida e conhecida vivacidade de Caetano Veloso aos 80 anos, sambando pelo palco e bastante falante em espanhol.
Humilde, disse que estava preocupado com o número de Volver a los 17. Contou que a canção era cultuada por “seus amigos sérios universitários” e que quando criou o Tropicalismo em 1967, queria levar a música a uma outra direção. Mas afirmou que faria a interpretação da música “como uma oração, celebração e demonstração de honra”.
Neste domingo, com ingressos esgotados assim como em Buenos Aires, Caetano sobe ao palco do Teatro El Círculo, de Rosário, na Argentina, para depois seguir para Montevideo, capital do Uruguai.

Outro destaque que chamou a atenção dos argentinos é a juventude da banda de Caetano, com músicos por volta dos 30 anos, criando uma ponte sincrética e antropofágica do ontem e do hoje, na qual convivem harmoniosamente sintetizadores e a inigualável percussão baiana.
Caetano ainda homenageou as grandes cantoras brasileiras recentemente falecidas Gal Costa, com Avarandado, que marcou o começo da carreira de ambos, e Rita Lee, citada em sua canção Sampa. Ele também prestou seu costumeiro tributo a João Gilberto, seu mestre maior.
O show ainda teve espaço para You Don’t Know Me, do álbum cinquentão Transa, um dos mais cultuados de sua carreira e recentemente relançado em vinil com muito sucesso, e Trilhos Urbanos, do álbum Cinema Transcendental, outra pérola de sua magnífica discografia.
Outras canções que emocionaram os argentinos foram Cajuína, Reconvexo, O Leãozinho e Itapuã, eternizada no país vizinho por Vinicius de Moraes, outro músico brasileiro idolatrado pelos Hermanos. Ainda houve espaço para Baby, Menino do Rio, Lua de São Jorge e a novíssima Sem Samba Não Dá. Já no bis, cantou Odara e a dançante A Luz de Tieta, e se despediu com algumas estrofes à capela de Tonada de Luna Llena, de Simón Díaz.
Os argentinos saíram do show de Caetano Veloso com a alma lavada e pedindo aos deuses e orixás que este não tenha sido o último show do artista baiano em Buenos Aires. No caso de ter sido, foi um encontro inesquecível e majestoso, que entra para a história da música na América Latina.

Prêmio Mercedes Sosa
Caetano Veloso ainda recebeu o Prêmio Mercedes Sosa, alta condecoração do Ministério das Relações Exteriores da Argentina. Ele recebeu o troféu das mãos de Paula Vázquez, diretora de assuntos culturais da Cancillería Argentina, ao lado de Araceli e Agustín Matus, netos de Mercedes Sosa. “Este prêmio reconhece a obra e a vida de Caetano Veloso, referente indiscutido da cultura latino-americana, que atravessou sua música e sua amizade com o povo argentino e tem contribuído de forma resistente ao intercâmbio cultural de Argentina e Brasil. E é uma alegría que Caetano seja quem inaugura este premio, tanto pelo vínculo saudoso que o uniu a Mercedes Sosa como pelos 200 anos de relações bilaterais Argentina-Brasil que celebramos em 2023”, afirmou Vázquez.

Andando pelo mundo
A turnê Meu Coco, depois de Chile, Argentina e Uruguai, segue ainda por cidades brasileiras como São Paulo, Brasília, Campinas, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Porto Alegre, e europeias, com shows agendados para Espanha, Portugal, Países Baixos, Montecarlo, França, Bélgica, Itália, Suíça, Noruega e Alemanha. Veja a agenda!
Editado por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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