CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto destaca música preta no Brasil em diálogo com o audiovisual
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Enviado especial a Ouro Preto
A cidade tricentenária Ouro Preto, município mineiro Patrimônio Histórico da Humanidade, sedia a 18a CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, de 21 a 26 de junho de 2023, o Blog do Arcanjo conta que o evento trata cinema como patrimônio divididos em três frentes temáticas: preservação, história e educação. Cada temática tem um enfoque e discussões próprias, que se aproximam em mesas e atividades propostas.
As equipes de curadoria propuseram a temática geral “Memória e criação para futuro ”, que vai permear as ações ao longo de toda a mostra. Entre as ideias está a de dar visibilidade a Música Preta no Brasil por cineastas indígenas, seus processos de realização, seus tipos de cinema, memórias, cotidianos, desafios e aprendizados e a reforçar a importância da memória como perspectiva para o futuro sendo um desafio à preservação.
” A CineOP cumpre mais uma vez seu papel de atuar pela salvaguarda do imenso patrimônio audiovisual brasileiro e reafirma a importância de dar continuidade aos encontros anuais presenciais para fortalecer o setor audiovisual em diálogo com a educação e continuar florescendo para preservar nossa história, criar pontes e conexões, desvendar obras e talentos, olhares e diversidade em meio à multiplicação de telas e inovações interativas”, destaca Raquel Hallak, diretora da Universo Produção e coordenadora da CineOP.
Durante seis dias de programação intensa e gratuita, o público vai poder desfrutar de mais de 30 sessões de cinema com exibição de filmes para todas as idades em dois cinemas instalados para atender o evento – o Cine-Praça – cinema ao ar livre a ser instalado na Praça Tiradentes (plateia 500 lugares) e o Cine-Teatro – a ser instalado no Centro de Convenções (plateia 510 lugares) e, ainda, participar de debates, masterclasses, rodas de conversas, oficinas, Mostrinha, atrações musicais e várias outras atividades que acontecem em dois espaços ouropretanos: Centro de Artes e Convenções e a Praça Tiradentes.
Serão exibidos 125 filmes em pré-estreias e mostras temáticas – (30 longas, 9 médias e 86 curtas-metragens), vindos de 5 países (Brasil, Argentina, Colômbia, Equador, EUA) e de 14 estados brasileiros ( AM, BA, CE, DF, ES, GO, MG, PB, PR, RJ, RN, RS, SC, SP) distribuídos em nove mostras – Contemporânea, Homenagem, Preservação, Histórica, Educação, Valores, Mostrinha e Cine-Escola.
Espaço referencial de discussões e definições de profissionais e educadores, a CineOP terá os sempre essenciais 18o Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros e o Encontro da Educação: XV Fórum da Rede Kino. Entre diversas atividades previstas, desde seminários, exibições de filmes, palestras e masterclasses internacionais, serão 31 debates e rodas de conversa, com a participação de 83 profissionais nacionais e internacionais.
ABERTURA OFICIAL | HOMENAGEM
O evento oficial de abertura acontece na noite de 22 de junho (quinta-feira), às 19h30, na Praça Tiradentes. Para inaugurar as exibições da Mostra esse ano, será exibida a versão restaurada de “Rainha Diaba” (1974), clássico de Antônio Carlos da Fontoura que tem o ator Milton Gonçalves interpretando a mítica Madame Satã. Mas, antes da sessão, acontece na praça uma performance audiovisual apresentando as três temáticas de cada seção da CineOP (Histórica, Preservação e Educação) e homenageando o ator e músico Tony Tornado, no embalo da Temática Histórica “Imagens da MPB (Música Preta no Brasil)”.
Mais longevo profissional da atuação em atividade no país, Tornado – atualmente no ar na novela das 18h da Rede Globo “Amor Perfeito” – estará presente para receber o Troféu Vila Rica. Nascido em Presidente Prudente (SP) em 1930, estabeleceu-se a partir dos anos 1960 como um dos precursores do movimento da “black music” brasileira, inspirado na luta pelos direitos civis. Logo se tornou também um dos rostos negros mais conhecidos da TV e do cinema.
Para Tatiana Carvalho Costa, uma das curadoras, a imagem de Tony Tornado “nas dezenas de trabalhos nos quais atuou entrecruza as memórias de um povo e sugere muito mais do que deveriam dizer a maioria dos papéis coadjuvantes que fez com tanta dignidade, um fenômeno de resiliência e reconfiguração a exibir a força dos personagens”.
Além de estar na tela com os filmes, Tony Tornado marca outras presenças na CineOP. No dia 23 (sexta-feira), ele participa da mesa em tributo à sua obra, junto com Bernardo Oliveira (professor, pesquisador, crítico e produtor), Black Josie (DJ, musicista e produtora cultural) e Dom Filó (CEO da Cultne TV e produtor cultural), com mediação de Tatiana Carvalho Costa.
TEMÁTICAS E FILMES
As curadorias de cada eixo da 18a CineOP desenvolveram trajetos de reflexão e discussão que conectam filmes, aprendizados, pesquisas e conhecimentos para debates e exibições a serem promovidos em todos os dias. Na Temática Histórica, o conceito “Imagens da MPB (Música Preta no Brasil)” enfatiza a presença da criação musical de artistas pretas e pretos nas trilhas sonoras e nos elencos de filmes e novelas, como personagens em ficção, documentários, videoclipes e performatividades variadas.
A dupla de curadores Cleber Eduardo e Tatiana Carvalho Costa definiu por colocar em evidência a música preta em seus contextos históricos e culturais nos séculos XX e XXI na criação e inventividade de universos populares. Assim, buscam mostrar a herança de tradições atualizadas do passado e de outras geografias e refletir sobre a riqueza a ser preservada na relação com as imagens.
Os filmes da Mostra Histórica dialogam com a proposta a partir dessas percepções. Uma das pérolas do evento é “Uma Nêga Chamada Tereza” (1973), clássico perdido do cinema brasileiro, dirigido por Fernando Coni Campos e protagonizado por Jorge Ben Jor. Inédito há décadas, a comédia ficcional mostra o cantor na história de um casal de africanos que vêm participar de um festival da canção no Brasil.
A temática, assim como parte dos filmes, estará no centro das discussões de duas mesas com críticos, pesquisadores e professores: “O corpo-tela e o som que pensa o filme”, sobre as formas como o cinema pode trazer a força do som antes mesmo das imagens e de que forma essas relações se dão; e “Polifonia e memória: Reverberações no futuro”, sobre as formas como plataformas digitais atuam na produção, reverberação, sampleamento e amplificação de memórias, além de meios de acesso a um acervo de imagens, sons e experiências gravadas, fundamentais na irradiação e amplitude da Música Preta no Brasil e das expressões audiovisuais a partir dela.
Na Temática Educação, a curadoria de Adriana Fresquet e Clarisse Alvarenga vai trabalhar “Cinema e educação digital: Deslocamentos”, a partir de uma reflexão do educador Paulo Freire sobre o poder da televisão, em 1983. As conversas dos debates e dos Encontros de Educação deverão se pautar na relação entre a importância e necessidade da educação digital, com todos os seus desafios de acesso e democratização, e a necessidade urgente de entendimento de seus riscos. Entre as palavras-chave adotadas, vão aparecer algoritmos, metaverso, realidade aumentada, realidade mista, inteligência artificial e chat GPT.
Entre os debates do recorte, com presença de professores e profissionais da educação de todo o Brasil, reunidos pela Rede Kino, estão as conversas “Políticas públicas para o cinema e para a educação digital: Marcos legais”, com a proposta de discutir a regulamentação da Política Nacional de Educação Digital; “Cultura digital e os desafios da sociedade contemporânea”, com objetivo de problematizar as relações entre cinema, audiovisual e educação digital, avaliando as potências e os riscos no ato de ver, produzir e compartilhar conteúdos num contexto de educação que ainda transita do analógico ao digital; e “Cinema, território e soberania digital”, sobre as relações entre processos educacionais e audiovisuais com a relação e aproximação com a terra e com a política a partir do interesse pela vida mais que pelo mercado; entre outras.
Na Temática Preservação, o eixo será ““Patrimônio Audiovisual Brasileiro em Rede”, proposta pela curadoria de Fernanda Coelho e Vitor Graize e que vai reunir integrantes da ABPA (Associação Brasileira de Preservação Audiovisual) para mais uma rodada de conversas e articulações em prol do cinema patrimônio. Os debates vão se organizar por três tópicos: o diálogo para políticas públicas de preservação num novo ciclo de governo, representadas pela atualização do Plano Nacional de Preservação Audiovisual; o debate sobre a imposição do digital e suas questões éticas, técnicas e políticas; e a reflexão sobre a criação de uma rede nacional de arquivos audiovisuais.
O Encontro de Arquivos, que faz parte da programação da Temática Preservação, contará com a presença de dezenas de profissionais do setor e a realização de diversos encontros e debates em torno dos três pontos destacados, entre eles “Iniciativas de mapeamento de arquivos audiovisuais”; “Criação de uma rede nacional de arquivos audiovisuais”; “A rede e suas conexões: produção” e “A rede e suas conexões: difusão e exibição”.
Uma das mesas, “Memória e criação para o futuro”, propõe um balanço da última década no segmento da preservação a partir de perspectivas e desafios políticos, econômicos, tecnológicos e educacionais e deverá ter a presença de nomes do governo federal, como Margareth Menezes, ministra da Cultura; de Denise Pires de Carvalho, secretária de Educação Superior do Ministério da Educação; e Alex Braga, presidente da Ancine (Agência Nacional do Cinema).
PRESENÇAS INTERNACIONAIS
Anualmente a CineOP conta com a participação de importantes profissionais internacionais numa série de masterclasses e mesas de debates. Nesta 18a edição, estão: Carolina Dourado Lozano (Colômbia), educadora popular e facilitadora pedagógica, na masterclass “Cinema comunitário e educação popular na América Latina”; Alexandra Cuesta (Equador), cineasta e fotógrafa, falando sobre “Filmar territórios: deslocar-se”; Justin D. Williams (EUA), gerente de projeto e arquivista do SSHMP (South Side Home Movie Project), na conversa “Olhares negros no sul de Chicago”, em participação on line; e Tobias Blanke (Holanda), professor de Inteligência Artificial e Humanidades na Universidade de Amsterdã e que vai falar sobre a inteligência artificial na guarda de arquivos históricos, em participação on line.
OFICINAS, WORKSHOPS E MASTERCLASSES
Inteligência artificial, Lei Paulo Gustavo, Argumento Cinematográfico, Memória Sonora, Marketing Digital e Cinema Comunitário são alguns dos diversos temas das 10 modalidades do programa de formação – quatro oficinas, dois workshops e quatro masterclasses que serão realizadas durante a 18ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto que vai acontecer na cidade histórica, de 21 a 26 de junho.
Os interessados podem se inscrever até o dia 12 de junho (segunda-feira), às 23h59, pelo site cineop.com.br com as seguintes opções: “Elaboração de projetos audiovisuais para Lei Paulo Gustavo”, “Realização audiovisual”, “Oficina prática de argumento cinematográfico”, “Restaurando a memória sonora”, “Navegando por arquivos e acervos – Introdução à pesquisa audiovisual”, “Marketing digital: o uso das redes sociais na estratégia de marketing”, “Inteligência digital: arte e pedagogias, riscos e possibilidades”, “Cinema comunitário e educação popular na América Latina” e “Filmar territórios: deslocar-se”.
Ao todo serão oferecidas 360 vagas para as atividades formativas que contam com instrutores, mediadores e convidados referência em suas respectivas áreas de atuação. Dentre ele estão o professor de Inteligência Artificial e Humanidades da Universidade de Amsterdã, Tobias Blanke; a cineasta e fotógrafa equatoriana, Alexandra Cuesta, e a educadora popular e facilitadora pedagógica colombiana, Carolina Dourado Lozano.
Além de debates, encontros e diálogos, o evento vai promover seis oficinas, dois workshops e quatro masterclasses gratuitos com o intuito de investir na formação através de um programa de qualificação
SESSÃO CINE-ESCOLA
A CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto leva o universo cinematográfico para mais perto de crianças, adolescentes e educadores da rede pública de Ouro Preto através da realização do programa Cine-Expressão – A Escola vai ao cinema que oferece uma programação gratuita que propõe criar um espaço de aprendizado entre estudantes, unindo cinema e educação. com oferta de 7 (sete) sessões de cinema seguidas de debates, elaboração de material didático para trabalhar os filmes na sala de aula e lançamento de livros.
As sessões Cine-Escola são pensadas para faixas etárias específicas – 5 a 7 anos, de 8 a 10 anos, de 11 a 13 anos e a partir de 14 anos, seguidas de cine-debates após a sessão com o propósito de usar o cinema como ferramenta pedagógica e beneficiar com as escolas de Ouro Preto e região. Os filmes foram selecionados pela curadora Ramina El Shadai e têm o potencial de revelar percepções e despertar sensações e conexões.
Mais de 3.000 alunos foram inscritos para participar das sessões cine-escolas que acontecem nos dias 21, 22, 23 e 26 de junho, sempre às 8 e 14 horas, no Cine-Teatro. As escolas participantes recebem material didático elaborado exclusivamente para o evento visando explorar as histórias e temáticas abordadas em cada filme.
MOSTRINHA
Para a criançada, a CineOP realiza a Mostrinha de Cinema que terá uma sessão especial inclusiva que oferece as três medidas de acessibilidade ( legendagem descritiva, libras e audiodescrição) agendada para o dia 25 de junho, domingo, às 15h30, com a exibição da animação a “Ilha dos Ilús”, produção de Goiás, dirigida por Paulo GC Miranda.
Onde estavam os animais antes de nascerem? Porque já nascem sabendo tantas coisas? A resposta está na Ilha dos Ilús, lugar onde ficam os animais antes de virem ao mundo. Lá todos começam na forma de um “Ilú”, um pequeno ser etéreo e feliz. Depois de um tempo vão para a CASA DE ENTREGA para embarcar para a vida terrestre na forma de algum animal.
ARTE POR TODA PARTE + FESTA JUNINA
Repetindo a bem-sucedida parceria cultural com o Sesc em Minas, a programação artística da CineOP vai acontecer Sesc Cine-Lounge Show que será instalado no Centro de Artes e Convenções e se estabelece como um espaço de múltiplas e amplas possibilidades de encontro, entretenimento e diálogo do cinema com as outras artes.
Além do tradicional Cortejo da Arte que percorre as ruas tri centenárias de Ouro Preto, no dia 24 de junho, sábado, às 11h30, com saída da Praça Tiradentes, o público vai poder curtir várias atrações – performances, Djs, shows que prometem agitar as noites ouropretanas e valorizar grupos locais, além de artistas de destaque na cena mineira que se relacionam com as temáticas e debates propostos.
E, pelo segundo ano consecutivo, vai ter a “Festa Junina da CineOP” que será promovida no domingo, dia 25 de junho, a partir das 18 horas, no Centro de Convenções como parte da programação da Mostra Valores e vai reunir três quadrilhas da cidade que vai fazer todo mundo dançar. Tem barraquinhas de comes e bebes, brincadeiras e, claro, muita música e animação para reunir toda família.
SOBRE A 18a CINEOP
Durante seis dias de evento, o público terá oportunidade de vivenciar um conteúdo inédito, descobrir novas tendências, assistir aos filmes, curtir atrações artísticas, trocar experiências com importantes nomes da cena cultural, do audiovisual, da preservação e da educação, participar do programa de formação e debates temáticos de forma gratuita.
ABERTURA OFICIAL
EXIBIÇÃO DE FILMES – LONGAS, MÉDIAS E CURTAS
PRÉ-ESTREIAS E MOSTRAS TEMÁTICAS
HOMENAGEM
MOSTRINHA
MOSTRA VALORES
SESSÕES CINE-ESCOLA
18o ENCONTRO NACIONAL DE ARQUIVOS E ACERVOS AUDIOVISUAIS BRASILEIROS
ENCONTRO DA EDUCAÇÃO: XV FÓRUM DA REDE KINO
DEBATES, DIÁLOGOS E RODAS DE CONVERSA
OFICINAS
MASTERCLASSES INTERNACIONAIS
PERFORMANCE AUDIOVISUAL
EXPOSIÇÃO
LANÇAMENTO DE LIVROS
CORTEJO DA ARTE
SHOWS
Colaborou João Schelbauer
O jornalista e crítico Miguel Arcanjo Prado viajou a convite da CineOP e Universo Produção.
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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