★★★★ Crítica: Veraneio diverte e gera reflexão com família em crise à beira-mar
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Veraneio ★★★★
Avaliação: Muito Bom
Veraneio é uma peça inteligente sobre os dissabores dos conflitos familiares da classe média, com seus jogos de interesses e mesquinharias cotidianas. Os espectadores riem sem culpa das situações, seja de nervoso ou por identificação farta. E aí mora o sucesso deste espetáculo muito bem dirigido por Pedro Granato, que o idealizou ao lado do ator e autor Leonardo Cortez — já em sua terceira temporada, dessa vez no Teatro Bravos, dentro do Instituto Tomie Ohtake. Reza o dito popular: ‘família é tudo igual’. E é isso que se sente diante do delicioso texto de Leonardo Cortez, um de nossos melhores dramaturgos na ativa. A boa carpintaria da peça nos lembra o melhor do teatro argentino, nossos vizinhos excelentes na comédia dramática costumbrista. Veraneio apresenta uma família em uma casa à beira-mar, onde todos se reúnem pós-pandemia para o aniversário da matriarca, que por lá vive desde os já longínquos tempos de isolamento social. Ela é defendida por Clarisse Abujamra, em atuação precisa e sofisticada, como é comum a esta grande atriz. Cada filho tomou rumo diferente na vida: uma virou uma rica apresentadora de TV, personagem defendida por Glaucia Libertini; outro transformou-se no amargurado do escritório, com um casamento em crise, casal interpretado por Leonardo Cortez e Tatiana Thomé, ambos muito bem nas nuances de seus personagens; e o terceiro é um cineasta incompreendido e mimado que sonha fazer um documentário sobre seu próprio umbigo, com atuação de Sílvio Restiffe que evidencia o patético do personagem. Não bastassem os filhos e a nora, o reencontro tem a cereja do bolo: a apresentação familiar do namorado da mãe, Rubinho, o professor de ginástica caiçara de ares de malandro carioca, o grande destaque cômico da peça. Ele é bravamente construído pelo ator Mauricio de Barros, preciso em seu 220 volts. No time criativo, Anne Cerutti aposta no realismo dos figurinos, enquanto que Diego Dac vai na mesma toada ao construir a cenografia amadeirada da casa onde todo o espetáculo se passa, com as nuances da iluminação crepuscular de Beto Faria. A única leve observação que este crítico faria, se me permitem, e feita na crença de que menos é mais, seria uma leve edição, que teria deixado a peça ainda mais ritmada. Mas não que ela não tenha ritmo. Muito pelo contrário, o espetáculo envolve o público do começo ao fim. Com realização de Jessica Rodrigues e Pequeno Ato, Veraneio nos faz recordar a força que uma boa comédia dramática, quando bem escrita e bem atuada, consegue ter, revelando no palco muito de todos nós. Como é bom perceber, em um cenário teatral paulistano repleto de egolatrias que torturam o espectador, que ainda existam artistas que apostam em personagens, histórias bem contadas e na poética cênica para provocar a sociedade ao mesmo tempo que a diverte. Afinal, o riso é a melhor forma de se fazer pensar, por mais que os intelectualoides de plantão torçam o nariz. E que bom que Pedro Granato, Leonardo Cortez e sua turma estão aí para provar que é possível ser inteligente e prazeiroso.
Veraneio ★★★★
Avaliação: Muibo Bom
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
Teatro Bravos – Rua Coropé, 88, Pinheiros, Metrô Faria Lima, São Paulo, SP. Tel. 11 99008-4859. De 5 a 27 de agosto de 2023 (exceto dia 13/8) – Sábados às 21h e domingos às 19h. 110 min. 14 anos. R$ 40 a R$ 80. Compre seu ingresso!
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Veraneio
Idealização: Leonardo Cortez e Pedro Granato. Texto: Leonardo Cortez. Direção: Pedro Granato. Elenco: Clarisse Abujamra, Glaucia Libertini, Leonardo Cortez, Maurício de Barros, Sílvio Restiffe e Tatiana Thomé. Cenário e Adereços: Diego Dac. Iluminação: Beto de Faria. Figurino: Anne Cerutti. Cenotécnico: Roberto Tomasim. Costureira: Binidita Apelina. Assistente de Direção: Jade Mascarenhas. Assistente de Figurino: Luiza Spolti. Assistente de costura: Lis Regina. Produção Executiva: Carolina Henriques. Direção de Palco: Diego Dac. Técnicos de Palco: Victor Moretti e Roberto Tomasim. Técnico de Luz: Ariel Rodrigues e Beto de Faria. Técnica de Som: Julia Terron. Assessoria de Imprensa: Adriana Balsanelli. Video e Edição de Conteúdo: Carolina Romano. Fotos de cena: Nadja Kouchi. Fotos Material Gráfico:Roberto Brilhante. Design Gráfico: Lucas Sancho. Direção de Produção: Jessica Rodrigues. Realização: Jessica Rodrigues e Pequeno Ato.
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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