★★★★☆ Crítica: Papa Highirte faz clássico de Vianinha falar ao Brasil de hoje no Teatro Aliança Francesa

Zécarlos Machado, protagonista da peça Papa Highirte, do Grupo Tapa, posa com exclusividade para o Blog do Arcanjo no camarim do Teatro Aliança Francesa © Rafa Marques Blog do Arcanjo 2023

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

★★★★☆
Papa Highirte

Zécarlos Machado fez questão de beijar o tablado do Teatro Aliança Francesa na estreia do espetáculo Papa Highirte, protagonizado por ele e obra fortemente aplaudida nesta quinta, 10 de agosto. O ator, indicado ao Prêmio Shell pelo papel, fez questão de dedicar a noite à memória do diretor cearense Aderbal Freire-Filho (1941-2023), que morreu nesta semana, lembrando também as partidas recentes do diretor paulista Zé Celso e da atriz sul-mato-grossense Araci Balabanian. A peça é um drama escrito por Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974), um dos grandes nomes da dramaturgia nacional no século 20. O texto trata o ocaso de um velho ditador populista deposto de um país fictício da América Latina. No exílio, o abjeto ser confabula sobre sua volta ao poder, expondo seu desprezo pelo povo e os conchavos que se assemelham àqueles que criaram tempos de horror ditatorial na América Latina no século passado e que seguem se repetindo com os golpes à democracia neste século 21. Com meio século de dedicação ao Grupo Tapa, dono de um teatro sofisticado e que louva os clássicos, Eduardo Tolentino de Araujo faz uma direção seca e na penumbra, desprovida de trilha e focada apenas nas palavras de Vianinha, dita pela boca dos atores. Impressiona como o texto de 1968, definido pelo jornalista Zuenir Ventura como o ano que nunca terminou, ecoa no presente do Brasil. E de forma assombrosa. Afinal, as coisas mudam para que tudo fique como está, com ensinou em O Leopardo o escritor italiano Giuseppe Tomasi di Lampedusa (1896-1957). Zécarlos Machado brilha na pele do ditador sem trono, com nuances dignas do grande ator que é. Contracenam com ele os atores Adriano Bedin, Bia Bologna, Bruno Barchesi, Camila Czerkes — hipnotizante como a amante Graziela —, Caetano O’Maihlan, Kiko Vianello — preciso como o militar que espera ardilosmente a sua vez —, Fulvio Filho — hilário na pele do estrangeiro de olho nas riquezas latinas, sobretudo quando incorpora Dorothy — e Mauricio Bittencourt. Espetáculo de tempo dilatado, Papa Highirte exige fôlego longo e disposição de seus espectadores, que vão se encontrar com um espelho indigesto de nosso país e de nosso continente. O Grupo Tapa merece os parabéns por valorizar os clássicos da dramaturgia, apresentando-os às novas gerações deste país tão desmemoriado e cheio de gente que acredita estar inventando a roda.

★★★★☆
Papa Highirte
Avaliação: Muito Bom
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
Teatro Aliança Francesa – Rua General Jardim, 182, Vila Buarque, São Paulo, metrô República. Quinta a sábado, 20h, domingo, 18h. 120 min. 14 anos. R$ 30 a R$ 80. Até 1/10/2023. Compre seu ingresso!

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