Maíra Baldaia chega a SP com show do elogiado álbum Obí: ‘Me sinto pronta para ganhar o mundo’ – Entrevista do Arcanjo
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Um dos nomes mais talentosos da nova música que sai de Minas Gerais para conquistar o Brasil, a cantora e compositora Maíra Baldaia estreia o show da turnê de seu novo álbum, Obí, no próximo sábado, 23 de setembro, às 21h, no Sesc Belenzinho (compre seu ingresso). Um dia antes, na sexta, 22, 20h, marca presença no interior paulistan no palco do Sesc Birigui (compre seu ingresso). A artista conversou com exclusividade com o Blog do Arcanjo sobre o novo trabalho. Na conversa, revela que enfrentou um câncer durante o processo de feitura do disco, conta quais são suas referências de ontem e de hoje e explica por que canta. Leia com toda a calma do mundo.
Miguel Arcanjo Prado – Onde você buscou inspiração pra Obí? Por que este nome?
Maira Baldaia – Obí vem das mulheres que cruzaram meu caminho e me fizeram aprender pela dor, pela fé ou pelo amor o que é estar viva e livre. Obí, do yorubá, singnifica fêmea ou mulher, além de ser um fruto-ventre sagrado no candomblé. Isso resume o que o meu álbum vem contar, é pras mulheres que dedico esse disco, para lembrarmos que podemos e somos protegidas e poderosas, nós amamos, nós existimos… é minha ancestralidade que me guia neste caminho!
Miguel Arcanjo Prado – Maíra, soube que durante a produção do álbum você passou por um processo de cura de um câncer. Como foi lidar com isso?
Maíra Baldaia – Sim, tive câncer de cólo de útero e graças aos exames preventivos feitos regularmente conseguimos descobrir em fase muito inicial. Em outubro fazem 6 meses que passei por essa troca de pele, risos. E foi mesmo o início de um processo profundo de troca de pele, cura, de transformação, de sair do casulo e deixar as asas crescerem novamente e me abrir para a expansão, dando voz aos meus sentimentos através da canção, abrindo espaço pra limpar e deixar ir o velho para receber o novo com alegria e coragem. Foi tudo muito rápido, descobri em novembro de 2022 no dia do lançamento do primeiro single que apresenta Obí, Ogum e as Ayabás collab Djonga, e em abril eu operei logo depois de fazer o primeiro show da tour de estreia em BH, no teatro do Minas Tênis Clube (Centro Cultural Unimed-BH Minas). Como descobrimos mto cedo e foi retirado todo o tumor, a recuperação tranquila e em maio eu em maio eu já estava levando Obí para o Festival MIMO. Acredito que uma transformação e limpeza profundas aconteceu, eu sinto! A música foi essencial no meu processo de elaboração, até hoje eu não tinha falado publicamente e abertamente sobre, respeitando um processo interno. Hoje me sinto forte, viva, pronta pra ganhar mundo. Axé!
Miguel Arcanjo Prado – Obí chega a São Paulo após apresentações de sucesso em BH e outras cidades de Minas. O show vem já amadurecido? Qual a importância de estar em SP?
Maíra Baldaia – Sim, com certeza chegamos para apresentar Obí com um show maduro, gostoso de ver, sentir, dançar e ao mesmo tempo refletir e transformar. Tudo preparado com muito carinho, desde arranjos aos visuais, figurino, entrega artística, interpretação, além de uma banda e uma equipe incríveis. To muito feliz em poder circular com a minha música e chegar em SP, no SESC Belenzinho, é uma oportunidade linda de apresentar o meu Obí para o público e para pessoas do ecossistema musical e cultural. Sabemos da importância que a cena de SP tem na nossa cena artística e é uma alegria ímpar levar o brilho do afro pop mineiro pra capital paulista e quiçá para todos os cantos desse Brasil, pois estar em troca com as pessoas é o combustível para seguir na criação. Obí foi gestado com muito amor e agora é reverberar… Obí é meu terceiro álbum, “Obí”, e contou com colaborações de Djonga e Marissol Mwaba, além de direção musical minha, com produção de Guilherme Kastrup em treze faixas e de Rapaz do Dread (Thiago Braga) em uma faixa, arranjos-base de Verônica Zanella e Débora Costa, contando ainda com Glaw Nader e Táskia Ferraz nas teclas e cordas.
Miguel Arcanjo Prado – O que você pode adiantar sobre o show no Sesc Belenzinho?
Maíra Baldaia – Para o Belenzinho temos uma faixa surpresa, temos um momento com arranjo especial que está tocando forte e otras cositas más que quem estiver presente vai se bem demais compartilhando esse momento com a gente, tenho certeza. Além de levar sucessos de trabalhos anteriores como Insubmissa (parceria com Talita Barreto) e Negra Rima (parceria com Elisa de Sena), temos momentos especiais trazendo o coração da cultura afro mineira com as releituras – Dança (Chico César) e Dê Um Rolê (Novos Baianos – Luiz Galvão e Moraes) – e com as nuances das autorais apresentadas em dois eixos conceituais: Lado A – Amor e Pele e Lado B – Revolução e Destino.
Miguel Arcanjo Prado – Quais cantores das gerações anteriores você tem como referência? Por quê?
Maíra Baldaia – Não é segredo a minha admiração pela música mineira e pela MPB e isso aparece forte quando penso em referências. Não tem como não falar de Gil, Caetano, Gal e Bethania, Elza, Chico César, Cássia Eller, Vanessa da Mata, Marisa Monte, como também dos ouros de Minas Tizumba, Titane, Pererê, Milton. É muito bom poder beber dessas inspirações criativas, isso reverbera no meu som. De onde venho a gente aprende a reverenciar quem abriu caminho antes de nós, tanto que gravei em Obí Dança que me toca profundamente na voz de Titane e Dê um rolê que me arrebata na voz eternizada de Gal. Celebrar a raiz abre caminhos para o presente e o futuro.
Miguel Arcanjo Prado – Quais colegas da música atual você tem escutado e nos recomendaria?
Maíra Baldaia – Nossa, tem muita gente nova e da minha geração fazendo coisas incríveis. Tenho escutado François Muleka, Luedji, Liniker, Leticia Fialho, Rachel Reis, Gilsons e não posso deixar de falar das recomendações mineiras Djonga, FBC, Gouveia, Lamparina, Augusta Barna, Octávio Cardozzo, Bia Nogueira, Elisa de Sena, Coral e Deh Muss.
Miguel Arcanjo Prado – Você também compõe. Faz diferença cantar algo que você criou?
Maíra Baldaia – Completamente! Eu amo interpretar, gravei pela primeira vez aos 4 anos participando do disco de um compositor conterrâneo, o Tony Primo (eu sou de Itabira, no interior mineiro, cidade que respira poesia e música), depois comecei a cantar profissionalmente no teatro aos 12 anos e aprendi desde cedo a força que a interpretação traz, força cênica que nos conecta com o público. Então, amo interpretar também, mas nestes tempos o que eu mais tenho amado é levar minha voz, minha enunciação para as pessoas, sobretudo, as mulheres. É lindo poder cantar minha verdade e ainda tocar as pessoas, é gratificante, corpo e mensagem juntos em cena.
Miguel Arcanjo Prado – Por que você faz música?
Maíra Baldaia – Cantar e compor são minhas paixões mais extraordinárias, é minha forma de existir, de me conectar com algo maior, de me curar, transformar dentro e fora, é como levo uma semente boa para o mundo, é reza, é missão, é sina! Música e todos os tipos de expressões artísticas são agentes de transformação!
Maíra Baldaia explica significado de Obí, título de seu álbum
Obí, do Yorubá, significa mulher ou fêmea, além de referenciar o fruto-ventre sagrado dos Orixás conhecido como Obí ou Noz-de-cola. Ofereço Obí para todas as mulheres que me fizeram aprender pela fé, pelo amor ou pela dor o que é estar viva e livre, pois o futuro é feminino, o presente é mulher e a liberdade é o sorriso de uma irmã preta.”
Maíra Baldaia
cantora e compositora
Maíra Baldaia e o álbum Obí
Maíra Baldaia é cantora, compositora, atriz e tamborzeira. Considerada uma das vozes mais potentes das cenas da nova mpb brasileira e afro pop mineira, além de ser uma das representantes da boa e nova safra de cantautores, cantora e autora, do Brasil. Tem parcerias de sucesso com nomes como Djonga, Marissol Mwaba, Luedji Luna, Ellen Oléria, Maurício Tizumba, Titane e François Muleka. O show Obí mergulha nas raízes do afro pop mineiro e brasileiro, trazendo consigo a essência de sua ancestralidade, com participação do tambor mineiro. Repleta de boas referências, ela navega por ritmos, timbres e cores. Lançado em 28 de março de 2023, Obí é um álbum duplo composto por dois eixos conceituais: Lado A – Amor e Pele; Lado B – Revolução e Destino. Neste novo trabalho, Maíra Baldaia propõe o amor como ato de revolução.
Compre seu ingresso para a turnê Obí de Maíra Baldaia no Sesc Belenzinho
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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