Por RUNAN BRAZ*
Especial para o Blog do Arcanjo
Quando se fala em ancestralidade, o mestre Martinho da Vila é referência por levar aos palcos mundo afora diversas canções das culturas afrodiaspóricas. Aos 85 anos, o cantor e compositor carioca deu boas-vindas ao Teatro Raul Cortez, que agora pertence ao recém-inaugurado Sesc 14 Bis, no Bixiga, em São Paulo, em mais uma bela exibição do seu novo álbum Negra Ópera, lançado em maio e indicado Grammy Latino 2023 na categoria Samba.
O show traz uma percussão interessante extravagando música popular ao som de pandeiro, cavaquinho, violão e baixo com música erudita. O novo projeto musical agradou ao público, que esgotou todos os ingressos no último fim de semana de inauguração do espaço. O público viu Martinho evocar a cultura e as memórias negras do Bixiga, no centro de São Paulo, espaço que abrigou o Quilombo da Saracura e a antiga sede da Escola de Samba Vai-Vai. Foi neste contexto que a produção do Sesc 14 Bis idealizou a apresentação do mestre.
Negra Ópera é uma peça musical em formato de concerto, cujos repertórios apresentam questões relacionadas à vida cotidiana e da cultura negra. O nome é mesmo de seu livro lançado em 2001. Assim como na obra, no show Martinho exalta a raça negra e conclama direitos sociais. A sintonia entre ancestralidade e música se vê nos pontos de candomblé e de umbanda que são apresentados ao público.
Canções como Mãe Solteira, Reversos da Vida e Pensando Bem ilustram a realidade do povo. Martinho regravou outros clássicos do samba de Zé Ketti Malvadeza Durão e ainda lembrou de sambas-enredos marcantes do Carnaval carioca em Heróis da Liberdade e Onde o Brasil Aprendeu a Liberdade. Outro destaque foi da dançarina Allenkr Soares, que teve um performance admirável com arte corporal em algumas da músicas interpretadas por Martinho. A leveza e expressividade dela ornaram o palco com mais um símbolo de brasilidade representado por sua dança.
Com família em palco, a apresentação marcou a presença no vocal das filhas de Martinho Juliana Ferreira e Analimar Ventapani. Teve ainda a participação especial de Preto Ferreira, interpretando Exu das Sete e Alegria Ferreira.
*Runan Braz é jornalista graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Já colaborou com textos sobre arte e cultura para veículos como a Revista Teatral Legítima Defesa, Blog do Arcanjo e Alma Preta Jornalismo.
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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