The Boys In The Band – Os Garotos da Banda revive ícone gay de 1968 com elenco estelar no Teatro Procópio Ferreira
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Um dos principais ícones gays do teatro mundial, a peça The Boys In The Band – Os Garotos da Banda está de volta 55 anos depois de sua criação em 1968 no off-Broadway, em Nova York. Com um elenco de astros dos palcos, a encenação de Ricardo Grasson para o texto de Mart Crowley (1935-2020) estreia nesta terça no Teatro Procópio Ferreira, em São Paulo, onde cumpre temporada às terças e quartas, 21h, até 20 de dezembro, vésperas do Natal. Estão no elenco os atores Leonardo Miggiorin, Tiago Barbosa, Caio Paduan, Otávio Martins, Caio Evangelista, Júlio Oliveira, Mateus Ribeiro, Bruno Narchi, Heber Gutierrez e Heitor Garcia. Se os homens dominam o palco, há um batalhão feminino nos bastidores. A direção de produção é de Zuza Ribeiro, com produção executiva de Zuza Ribeiro, Claudia Odorissio, Jeana Kamil e Erica Cardoso.
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Tudo se passa em uma festa de aniversário em um apartamento nova-iorquino no qual um grupo de nove homens se reúne, alguns fora do armário e outros incrivelmente trancafiados, em um mundo ainda afogado no mar da homofobia.Eram tempos pré-Stonewall, a célebre revolta gay do bar nova-iorquino, quando homossexuais deram um basta à violência policial, dando início ao movimento por direitos civis para esta parcela da população — direitos estes até hoje ameaçados, como aqui no Brasil, onde há projeto de lei que pretende anular o casamento igualitário. Isso em 2023. Imagina em 1968.
Na escolha da encenação, o diretor optou por não trazer o texto para os dias de hoje, respeitando o tempo em que o mesmo foi escrito. Afinal, a peça permanece relevante em muitos aspectos da vida gay e seus conflitos. O espetáculo pega carona em outras montagens de temática gay, como A Herança e Tom na Fazenda, com recentes temporadas de sucesso na capital paulista.
A importância de montar o espetáculo hoje é assimilar e compreender o que conquistamos nesses últimos cinquenta anos. Conquistas dentro do movimento LGBTQIA+, do movimento negro, do movimento feminista, da geopolítica no mundo. É analisar no que avançamos e no que ficamos estagnados. Por este motivo resolvi recortar o espetáculo nos anos 1960 e não atualizá-lo”,
Ricardo Grasson
diretor de The Boys In The Band – Os Garotos da Banda
Gays complexos
Não custa lembrar que The Boys In The Band – Os Garotos da Banda, de 1968, foi a primeira peça a mostrar personagens gays de forma complexa, buscando fugir de estereótipos como que essa população, quando era retratada, aparecia no teatro até então. A obra ganhou temporada na Broadway em 2018, para celebrar seu meio século de vida, e levou o Prêmio Tony em 2019 por Melhor Remontagem de Espetáculo. O mesmo elenco, todos abertamente gays, assim como o ator da peça, foi convocado para a versão cinematográfica de 2020, que saiu na Netflix. Ter um elenco de astros gays é um avanço, já que filmes dedicados à temática que fizeram sucesso como Brokeback Mountain, Moonlight ou Call Me By Your Name traziam elencos heterossexuais. Nesta montagem brasileira de 2023, a maioria do elenco é abertamente gay.
Os Rapazes da Banda
No Brasil, a peça foi montada em 1970, em São Paulo, com produção do então casal Eva Wilma e John Herbert, com o título Os Rapazes da Banda. No elenco estiveram Walmor Chagas, Otávio Augusto, Benedito Corsi, Denis Carvalho, Roberto Maya, Bene Silva, John Herbert, Paulo Adário e Paulo César Pereio, sob direção do belga Maurice Vaneau.
A seguir o crítico da APCA José Cetra Filho relembra o espetáculo que assistiu em texto originalmente publicado em 2020 em seu blog Palco Paulistano.
Em 1970 estreava no antigo Teatro Cacilda Becker localizado na Avenida Brigadeiro Luís Antônio Os Rapazes da Banda, peça do dramaturgo norte americano Mart Crowley (1935-2020). O fato de ser produzida sob a chancela de um casal de prestígio e notadamente heterossexual (Eva Wilma e John Herbert) colaborou para que a peça tivesse ampla aceitação pelo público e não provocou maiores escândalos mesmo ao tratar de assunto ousado para a época: reunião de homossexuais onde o anfitrião presenteia o amigo aniversariante com um garoto de programa. O elenco reunia nomes importantes de nosso teatro como Walmor Chagas, Otávio Augusto, Benedito Corsi, Denis Carvalho, Roberto Maya, Bene Silva, John Herbert, Paulo Adário e Paulo César Pereio e a direção era de Maurice Vaneau, encenador e coreógrafo belga de muito prestígio na época.
José Cetra Filho
O que a memória me traz depois de tanto tempo é que se tratava de uma comédia com alguns estereótipos do universo gay, bastante inofensiva e leve, apesar do final dramático e discutível onde Michael (personagem de Walmor) lamentava-se de sua solidão por ser homossexual (!).
A crítica da ocasião não poupou ressalvas ao espetáculo. Sábato Magaldi escreveu que se tratava apenas de uma peça comercial bem montada, um texto medíocre “que chega aos incautos como se fosse um tratado cênico sobre a homossexualidade, mas que não passa de uma cartilha primária sobre o assunto” (Jornal da Tarde, 30/10/1970). João Apolinário por sua vez titulou sua crítica assim “Sucesso fácil, de um teatro fácil, para um público fácil” (Última Hora, 11/1970). Ambos previram o sucesso do evento, como escreveu Sábato no final de sua matéria “Tudo indica que Os Rapazes da Banda se transformará no maior sucesso de bilheteria da temporada”, o que de fato aconteceu.
A peça havia estreado dois anos antes em Nova York e virou filme dirigido por William Friedkin em 1970 sempre com muito sucesso. Em 2018 a peça foi remontada na Broadway e acaba de se tornar filme dirigido por Joe Mantello disponível na Netflix; A Folha de S. Paulo dedicou página e meia da edição de 29/09/2020 a uma matéria sobre o filme, ressaltando a atualidade do tema abordado pelo mesmo.
Os tempos mudaram, muitos armários se escancararam, movimentos surgiram, mas permanecem o preconceito e a violência com aqueles que fogem aos valores estabelecidos pela sociedade.
Resta saber o que Os Rapazes da Banda têm a dizer para o mundo pandêmico de 2020, talvez mais preconceituoso e conservador do que aquele de 1970.
crítico da APCA
Fotos do elenco de The Boys In The Band – Os Garotos da Banda
Ficha técnica e serviço
Leonardo Miggiorin, Tiago Barbosa, Caio Paduan, Otávio Martins, Caio Evangelista, Júlio Oliveira, Mateus Ribeiro, Bruno Narchi, Heber Gutierrez e Heitor Garcia
em
THE BOYS IN THE BAND – OS GAROTOS DA BANDA
Título Original “The Boys in the Band” de Mart Crowley
Versão Brasileira “Os Garotos da Banda” de Caio Evangelista
Direção
Ricardo Grasson
Diretora de Produção
Zuza Ribeiro
Cenografia
Marco Lima
Iluminação
Cesar Pivetti
Figurino
Marcos Valadão
Trilha Sonora
Daniel
Versão/adaptação
Caio Evangelista/ Dostoiévski
Companhe
Produção Executiva
Zuza RIbeiro, Claudia Odorissio, Jeana Kamil e Erica Cardoso
Terças e Quartas 21:00
120,00 inteira/60,00 meia entrada
Classificação 16 anos
Duração : 90min
Bilheteria do Procópio Ferreira:
Terça-feira a Domingo das 14h até o início do espetáculo;
Abertura da casa: 1 hora antes de cada espetáculo.
TEATRO PROCÓPIO FERREIRA
624 lugares, incluindo 07 poltronas adaptadas para obesos e mais 12 lugares reservados
para cadeirantes.
Telefone: (11) 3083.4475
Endereço: Rua Augusta, 2.823 – Cerqueira César
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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