Cinefantasy encerra 15ª edição com carta em defesa do cinema argentino e audiovisual latino-americano

Cinefantasy termina com leitura de carta em defesa do cinema na Argentina e audiovisual latino-americano: cena do filme argentino Auxilio, de Tamae Garateguy, um dos destaques do festival de cinema fantástico © Divulgação Blog do Arcanjo 2023

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

O cinema latino-americano é sempre sacudido por sobressaltos políticos que, muitas vezes, minguam o financiamento de filmes por parte do Estado, sem o qual é praticamente impossível a realização audiovisual na região. Preocupado com isso, o Cinefantasy, festival dedicado ao cinema fantástico que reuniu 110 filmes de 20 países de 2 a 9 de dezembro, encerra sua 15ª edição na noite deste sábado, com cerimônia às 19h no MIS – Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, com um manifesto. A noite contará com a leitura de um comunicado em defesa do cinema argentino e do audivoisual latino-americano da Fantlatam – Alianza Latinoamericana de Festivales de Cine Fantástico (Aliança Latino-Americana de Festivais de Cinema Fantástico), composta por 32 festivais e presidida por Monica Trigo, que também preside a Abrafan – Associação Brasileira de Festivais de Cinema Fantástico.

Em conversa exclusiva com o Blog do Arcanjo durante o festival, Monica Trigo, à frente do Cinefantasy ao lado de Eduardo Santana e Filippo Pitanga, reforça que “é importantíssimo estabelecer esse vínculo de conteúdos criativos e também o fortalecimento de laços importantes na região, sobretudo na Argentina, que está em um momento político muito difícil”.

A Argentina teve cinco que foram exibidos pela primeira vez no Brasil no 15º Cinefantasy: Quando O Mal Espreita,de Demian Rugna, que foi o grande vencedor de Sitges em 2023, e virou um fenômeno mundial, já considerado como o filme da década da América Latina no segmento; Auxílio, de Tamae Garateguy, que estreou no Bifan na Coreia e foi exibido em Sitges; O Santo, de Agustin Carbonere, que levou prêmio de melhor filme e direção no BAFICI, e Maria,de Gabriel Grieco — os três últimos tiveram sessões apresentadas pelos diretores dos filmes —, além ainda da comédia Lavanderia Nancy Sport, de Agustín Gregori.

Trigo lembra a importância da integração cultural feita no Cinefantasy. “Trazer o cinema argentino de horror, fantasia e ficção científica para o Brasil com os seus realizadores para um contato de difusão dessas narrativas é essencial. Muitas vezes não temos esse espaço de distribuição aqui no Brasil e um festival de cinema como o Cinefantasy garante esse espaço e essa discussão ampliada”.

Ela conta que o evento levantou questões importantes em sua realização, de 2 a 9 de dezembro, no MIS e no Cine Satyros Bijou. “De que forma vamos construir um cinema latino-americano forte de uma forma coletiva e conseguimos distribuir esses filmes? De que forma podemos ampliar premiações para que o cinema independente na América Latina possa de forma acontecer? É essa reflexão que fazemos no Cinefantasy que tem uma premiação para o cinema latino-americano, que é a indicação para o próximo grande prêmio Fantlatam”, adianta.

O Blog do Arcanjo mostra a seguir o texto completo do comunidado da Fantlatam em defesa do cinema na Argentina.

Leia também entrevista com a diretora argentina Tamae Garateguy, de Auxilio

Cena do filme argentino Maria, de Gabriel Grieco e Nicanor Loreti, destaque no 15º Cinefantasy © Divulgação Blog do Arcanjo 2023

Comunicado Fantlatam – Alianza Latinoamericana de Festivales de Cine Fantástico (Aliança Latino-Americana de Festivais de Cinema Fantástico)

“Os festivais membros da Fantlatam sentem a necessidade de expressar a profunda preocupação e alerta sobre o panorama cultural que se avizinha na Argentina com a eleição de Javier Milei como presidente. Suas posições políticas, alinhadas com a extrema direita, não só representam uma mudança significativa no cenário político do país, mas também levantam sérias questões sobre o futuro da cultura e do cinema locais e, por extensão, da América Latina como um todo.

Historicamente, a Argentina tem sido um epicentro da produção cinematográfica latino-americana. Sua riqueza e diversidade cultural encontraram expressão em uma cinematografia vibrante e diversificada, que contribui significativamente para o patrimônio de nossa região. Esse legado está agora em xeque, dependendo em grande parte das políticas e da direção a serem adotadas pela futura administração.

Pedimos que o governo de Javier Milei priorize e reconheça o valor intrínseco da cultura e da arte. O cinema, em particular, é mais do que entretenimento; é um veículo para a expressão de identidades, para o diálogo, para a compreensão intercultural e um dos principais impulsionadores do desenvolvimento social e econômico.

É essencial que o novo governo não apenas preserve, mas também promova ativamente a criatividade e a liberdade artística, além de manter os espaços de difusão, fortalecimento e expansão do trabalho cinematográfico e cultural.

A colaboração entre festivais e organizações culturais, como a promovida pela Fantlatam, é vital para a manutenção e o crescimento dos laços na América Latina. Pedimos que o futuro governo apoie essas iniciativas e que reconheça que a cultura é uma ponte que une as pessoas além das fronteiras políticas e sociais. E reafirmamos nosso compromisso com a defesa da liberdade artística e cultural e da democracia.

Em um momento de incerteza como o atual, a Fantlatam – Aliança Latinoamericana de Festivais de Cinema Fantástico permanecerá vigilante e ativa, trabalhando incansavelmente para garantir que a voz da cultura e do audiovisual seja ouvida e que o cinema continue sendo um reflexo vivo de nossas sociedades.”

Alianza Latinoamericana de Festivales de Cine Fántastico FANTLATAM
7 de dezembro de 2023
América Latina

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País com premiada produção cinematográfica na América Latina, Argentina sofre com incertezas para o setor audiovisual por conta de seu novo presidente de extrema direita, Javier Milei, que sobe ao poder neste domingo, 10 de dezembro – Photo by Lucía Montenegro on Pexels.com Blog do Arcanjo 2023

Sobre o Cinefantasy

A 15ª edição do Cinefantasy, maior festival brasileiro dedicado ao cinema fantástico e um dos mais importantes do gênero na América Latina e em todo o mundo, Desde sua criação, foram 10.000 filmes inscritos e acúmulo de um público de cerca de 100 mil pessoas. Com 110 filmes de 20 países, a programação de 2023 abraçou a diversidade e a inovação, refletindo a riqueza do gênero fantástico em todas as suas facetas.

Cada obra foi escolhida para desafiar, encantar e inspirar, segundo os organizadores, reforçando a importãncia da inclusão e da representatividade, sobretudo em relação a vozes de cineastas indígenas, LGBTQIAPN+, mulheres, negros e negras, além de jovens talentos emergentes. A mostra Brasil Fantástico se destaca neste quesito, consagrando o cinema produzido por povos originários, trazendo à tela histórias que resgatam e valorizam a rica cultura e as tradições de comunidades fundamentais para a história e identidade nacional. Além disso, as mostras Fantastic Black Power, Fantástica Diversidade e Mulheres Fantásticas continuam a ser espaços vitais para a expressão e o reconhecimento da diversidade no universo cinematográfico.

O poster desta edição debutante foi feito por Daniel Manzini, que homenageou o legado do artista Henrique Alvim Corrêa. Ele traz uma fusão de estética pré-modernista com a vanguarda da inteligência artificial, simbolizando a essência do Cinefantasy: a união do tradicional com o contemporâneo.

Desde sua primeira edição, em 2006, o Cinefantasy é porto seguro para a celebração e a descoberta. Com quase 2.000 filmes exibidos e 140 atividades formativas, o festival se expandiu para além de São Paulo, alcançando diversas cidades do Brasil e da América Latina.

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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