Reynaldo Gianecchini em Priscilla, A Rainha do Deserto gera frustração em artistas e comunidade LGBTQIA+
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
A escalação do ator Reynaldo Gianecchini, 51 anos, para ser um dos protagonistas da remontagem do musical Priscilla, A Rainha do Deserto, como Tick/Mitzi, gerou frustração e até mesmo irritação em muitos artistas do mercado do teatro musical brasileiro e em grande parte da comunidade LGBTQIA+.
Gianecchini estará ao lado de Diego Martins, como Adam/Felicia, e Wallie Ruy e Verônica Valenttino, que se revezam na pele de Bernadette. Estes últimos três nomes foram comemorados nas redes, sobretudo por serem figuras ligadas à comunidade LGBTQIA+ e sua luta.
Habilidades
A rejeição ao nome de Gianecchini ocorre porque ele não é um ator que tenha demonstrado exímias habilidades na atuação, no canto e na dança, exigidos para um protagonismo desse porte em musical.
É preciso lembrar que, na primeira versão de Priscilla no Brasil, em 2012, o personagem Tick/Mitzi foi interpretado por Luciano Andrey, ótimo ator dos musicais, enquanto que seus companheiros de cena foram o jovem André Torquato e Ruben Gabira, formando um trio de excelência e domínio técnico.
Ironia do mercado
A escalação de Reynaldo Gianecchini soa como uma ironia que vai contra ao mantra que diretores e produtores martelaram nas últimas duas décadas na cabeça de jovens atores que sonham com um lugar ao sol no teatro musical: preparem-se com muita dedicação, com aulas de atuação, canto e dança constantes. Ao conceder um personagem tão importante a um ex-galã da TV, o mercado parece se contradizer.
Comunidade espera excelência
A comunidade LGBTQIA+ também desdenhou da escalação de Gianecchini, acusada nas redes sociais de ser puramente comercial, sobretudo porque Giane saiu do armário, anunciando sua bissexualidade, muito recentemente. E só fez isso depois que sua carreira como galã de novelas já se encontrava em declínio.
É incoerente ver atores da televisão ocuparem espaço de privilégio no teatro musical, sendo que a TV não costuma dar espaço nobre aos atores talentosos dos musicais, salvo raras exceções. O teatro musical precisa acreditar mais na sua potência.
O esperado pela comunidade, para um musical como Priscilla, A Rainha do Deserto, seria a escalação de um ator mais ligado à causa e à arte drag, que tivesse talento comprovado, merecendo esta grande chance.
O que todos aguardam ansiosos agora é que Reynaldo Gianecchini apresente um trabalho impecável que justifique sua presença em um musical que revive uma história tão icônica para a comunidade LGBTQIA+. Sobretudo a arte drag, com o filme australiano de 1994 abrindo caminhos para a mesma e para a aceitação de famílias diversas.
Para justificar sua escalação, Reynaldo Gianecchini não pode ser nada menos do que excelente em Priscilla, A Rainha do Deserto.
É uma responsabilidade e tanto.
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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