★★★★★ Crítica: Beetlejuice ressuscita fenômeno no teatro musical com Sterblitch eletrizante e elenco talentoso
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
★★★★★
BEETLEJUICE, O MUSICAL, O MUSICAL, O MUSICAL
Avaliação: Ótimo
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
A morte pode ser vista por uma ótica que valoriza a vida. É o que acontece em Beetlejuice, O Musical, O Musical, O Musical, que ressuscita o show teatral enquanto fenômeno repleto de artistas talentosos nesta temporada 2024. E quem ganha com isso é todo o teatro brasileiro, neste show com música e letras de Eddie Perfect e livro de Scott Brown e Anthony King.
A superprodução é da incansável realizadora de sonhos Renata Borges, da Touché Entretenimento, sob direção do expert no gênero Tadeu Aguiar — ambos nomes cruciais do sucesso do teatro musical brasileiro neste primeiro quarto de século 21. A montagem já estreou superando a pré-venda de Wicked em 2023, tornando-se a maior estreia desta temporada, no Teatro Liberdade, em São Paulo, após uma opulenta temporada carioca em 2023, quando tornou-se a maior bilheteria da história do Rio de Janeiro.
Sterblitch em atuação icônica
O show aportou na Broadway em 2019, inspirado no clássico do cinema de horror homônimo de Tim Burton, que no Brasil se chamou Os Fantasmas se Divertem, de 1988, da Geffen Company com história de Michael McDowell e Larry Wilson. Por aqui, ganha fartas pitadas de brasilidade e um protagonista que parece ter nascido para viver o fantasma Beetlejuice, o irreverente e sagaz Eduardo Sterblitch.
O artista se tornou conhecido do grande público pelo personagem bizarro e poticiamente incorreto Freddie Mercury Prateado, nos tempos já longínquos de auge do programa Pânico na TV. Contudo, ele não parou no tempo nem envelheceu mal, como alguns de seus colegas que abraçaram pensamentos tacanhos nos últimos tempos.
Muito pelo contrário, Sterblitch amadureceu e demonstrou cada vez mais versatilidade, o que lhe permitiu suplantar a primeira impressão que muitos tinham de seu trabalho. Neste show, o ator apresenta a prova definitiva de ser um grande artista, brindando o público com atuação já icônica.
Dono de tempo cênico preciso, típico de grandes atores que se jogam sem rede de proteção para deleite dos espectadores, Sterblitch faz de seu Beetlejuice o centro nevrálgico do espetáculo. Isso estimula seus colegas de elenco a estarem altamente atentos em cena, diante do risco iminente de sua presença anárquica.
Certamente, o Brasil oferece ao mundo um dos melhores Beetlejuice de todos os tempos: Eduardo Sterblitch. Na opinião deste crítico, ele supera o personagem criado por Michael Keaton no filme.
Elenco talentoso e vivaz
É preciso ressaltar que o fato de haver um destaque não é demérito ao elenco, que traz grandes artistas talentosos e vivazes desempenhando os demais personagens com sangue nos olhos.
Ana Luiza Ferreira agarra sua coprotagonista com unhas e dentes e faz de sua adolescente gótica Lydia uma criação própria, indo por um caminho diferente de construção de Winona Ryder no filme de Burton, o que demonstra que é uma atriz de personalidade. E a garota canta como ninguém, não economizando notas ou potência.
O casal recém-morto (eletrocutados no musical, ao contrário do afogamento no filme) interpretado por Thais Piza e Marcelo Laham também ganha novas matizes diferentes do filme e bem mais cômicas e intensas. Piza transparece felicidade em cena, superando com essa atuação seu recente protagonismo em Uma Linda Mulher. Já o humorista Laham faz uma boa estreia no exigente mundo dos musicais, optando por uma construção bem mais malemolente do que a sisudez de Alec Baldwin no filme.
O elenco ainda traz Flavia Santana (a Shug Avery de A Cor Púrpura) e Joaquim Lopes, rosto conhecido da TV que também faz sua estreia nos musicais. Ainda ganham destaques Gabi Camasotti, Rosana Penna, Pamella Machado (a divertida Miss Argentina), Thór Junior, Erika Affonso (impagável como a dondoca Maxine) e Diego Campagnolli.
É preciso lembrar que em algumas sessões ainda estarão nos postos de protagonistas João Telles, que alterna com Sterblitch o personagem Beetlejuice, e Lara Suleiman, alternante de Lydia.
O restante do virtuoso elenco conta com Mary Minóboli, Thiago Perticarrari, Gabriel Querino, Dino Fernandes, Thadeu Torres, Larissa Venturnini, Edmundo Vitor, Duda Carvalho e Fernanda Misailidis.
Ode à estética de Tim Burton
A adaptação musical é bem mais frenética que o filme soturno de Burton, mas o peso da obra deste que é um dos maiores cineastas do fim do século 20 permanece presente, com sua capacidade única de transformar temas pesados como depressão e morte em arte pop — isso bem antes de saúde mental ser pauta na sociedade —, sobretudo na direção de arte cuidadosa desta superprodução, que criou respeitando o mestre.
É preciso elogiar os figurinos de Dani Vidal e Ney Madeira, a cenografia de Renato Theobaldo e a iluminação de Daniela Sanchez. Anderson Bueno demonstra porque é um dos melhores visagistas do mercado mais uma vez, com o apoio das perucas do Ateliê San Roman, enquanto que Gabriel D’Angelo cria um desenho sonoro límpido para a precisa direção musical de Laura Visconti. Claudio Botelho escreveu uma versão cheia coloquialismos nossos, que ganha mais frescor com os cacos de Sterblitch incorporados. O time criativo ainda conta com Sueli Guera na coreografia, Lucas Pimenta na coordenação de produção e assistência de direção de Tadeu Aguiar, que comanda magistralmente o todo, fruto de sua farta experiência.
Beetlejuice estabelece com o público conexão imediata, e o time no palco está tão presente que é impossível desligar-se. Assim, as quase três horas de duração passam mais rápidas do que muitas peças enfadonhas de 60 minutos, o que é um mérito e tanto para todo o time eletrizante de Beetlejuice, O Musical, O Musical, O Musical.
Pelo menos na modesta visão deste crítico, já se pode dizer que este show larga na frente como um dos melhores musicais de 2024 em São Paulo. Do tipo imperdível!
★★★★★
BEETLEJUICE, O MUSICAL, O MUSICAL, O MUSICAL
Avaliação: Ótimo
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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